‘Vamos fazer a cidade respirar a Fórmula 1’, diz novo CEO do GP de São Paulo
Assumir o GP mudou muito a sua vida?
Não mudou muito, não. Só aumentou a minha presença em São Paulo. Eu continuo morando no Rio. Eu já fazia essa rotina com menos intensidade, mas agora eu estou aqui toda semana. Estou muito animado por fazer parte deste projeto, ter essa oportunidade. São poucos os promotores de GP no mundo, 23 atualmente. É muito bacana fazer parte deste grupo. A F-1 é uma marca incrível, forte, que cresce e evoluindo e mudou nos últimos anos. O que foi construído ao longo destes anos e onde chegou a marca é incrível.
Você já teve alguma relação com o automobilismo antes?
A minha família tinha uma indústria, uma forjaria, que fornecia autopeças para a indústria automobilística. Foi meu primeiro contato com esse universo do automobilismo. Era uma empresa fundada na época em que a indústria automobilística nasceu no Brasil, na década de 50. Meu avô fundou, meu pai ajudou a levantar e eu trabalhei lá por 14 anos. Era no Rio também. Mas toda a indústria atuava em São Paulo e Minas Gerais. Então, sempre viajei muito. Sempre fui muito ao ABC para visitar as montadoras.
Como você saiu da empresa da família para o marketing esportivo?
Foi por causa da minha ligação com a vela. O Torben Grael (prata na Olimpíada de Los Angeles-1984 ao lado de Daniel Adler, irmão de Alan) era muito assediado para competir na America’s Cup. E pedia minha ajuda para participar. Por incentivo dele, comecei a organizar competições de vela no Brasil quando saí da empresa da minha família. Me destaquei e consegui realizar um grande projeto, o sonho da minha vida, que foi fazer o Brasil 1, para a regata de volta ao mundo, em 2005. O Torben foi o capitão. E aí decidi começar a desenvolver um negócio de esporte e entretenimento, porque não queria ficar só na vela.
E como foi sua parceria com o Eike Batista?
A história com o Eike durou dois anos, até ele quebrar. Mas aprendi demais sobre o mundo corporativo. O grupo Mubadala (fundo soberano dos Emirados Árabes Unidos) assumiu a empresa em outubro de 2014. Troquei o X pelo M e virou IMM. E continuei o projeto, reduzi a empresa, enxuguei. E aos poucos voltamos a desenvolver a empresa.
Entrar na F-1 te surpreendeu ou te assustou?
Diria que nunca fiz nada tão grande quanto. Mas colocamos 74 mil pessoas no Maracanã para o show do The Police. É bastante gente. Acho que nenhum outro projeto que participei tem um impacto tão importante numa cidade como a F-1 em São Paulo, sem dúvida nenhuma. É impressionante como São Paulo fica no fim de semana da F-1. Falo como carioca. Quando tentava vir para cá, não conseguia hotel, voo. É a melhor semana de todo o comércio da cidade. Tudo fica lotado. É um desafio novo, grande, não me assusta.
Como foi a transição da gestão do Tamas para a sua?
Foi muito boa. O Tamas é uma pessoa incrível. Fez uma gestão super competente. Aprendi muito com eles neste um ano e meio de convívio. Desde o começo, fui pedir ajuda a ele para entender como funcionam as coisas. Criamos uma relação de confiança e de amizade. Acho que já estava na hora de ele descansar um pouco do GP. Ele fez isso a vida inteira. Mas toda hora que precisa, mando mensagem para ele. Fiz pouquíssimas mudanças na equipe. Trouxe apenas uma pessoa nova para a área comercial e de marketing e reforcei algumas áreas de compliance porque os investidores são muito qualificados.
E como foi sua participação na renovação do contrato?
Comecei muito antes da assinatura. Quando a prefeitura começou a falar com a F-1 para renovar, tinha algo estranho. As coisas não andavam. Demoramos para perceber que a F-1 estava engatada com o Rio de Janeiro. Não tínhamos um feedback da F-1, que estava realmente interessada em ir para o Rio. Em 2020, nos apresentamos como uma solução excelente para a F-1. Era a Mubadala, um grupo sólido financeiramente, que eles já conheciam, tinha a minha pessoa, que traz essa experiência e bagagem do ramo. Isso faz muita diferença. Não era apenas um cheque. Era uma proposta muito sólida. Tinha o governador e prefeito de SP totalmente alinhados, um circuito pronto, testado e apaixonado, prontinho para entrar lá.
O GP do Brasil passou anos sem pagar a taxa de promoção do evento à F-1. Isso atrapalhou as negociações?
Não sei. Mas não existe modelo diferente. O modelo é este. Se quer F-1, tem que pagar a taxa. É assim, todo mundo sabe. O que a gente fez foi negociar a menor taxa possível porque somos um país em desenvolvimento. Mas não existe almoço grátis. Como ter um impacto de R$ 1 bilhão sem gastar nada? É dinheiro direto nos cofres da cidade, gera uma renda incrível. Todo mundo aqui recolhe ISS na cidade inteira. É uma loucura, os aviões e helicópteros chegando. É muita renda. A quantidade de gente que trabalha durante um GP de F-1? E a imagem de São Paulo vai para o mundo inteiro. Onde você vai mostrar SP para 200 países durante horas? Agora não mostra apenas nos treinos de sexta, sábado e na corrida de domingo. Agora a cidade é exibida no Netflix, no e-Sports.
Qual será sua principal missão agora?
O que eu posso fazer como promotor é envolver a cidade, fazer a cidade respirar a F-1. Precisa ter este clima perto da corrida. Obviamente estou preocupado e cada vez mais interessado em ter um impacto econômico importantíssimo na cidade. Porque é o que sustenta o negócio. E depois estou preocupado desde o momento até a chegada do público, e com as marcas parceiras, que acabam levando seus clientes lá. É o que eu olho, é o que eu penso. Quando eu chego num evento, olho para cada detalhe da experiência. É o diferencial do promotor. É o modelo de agregar e de estar alinhado com o dono da marca.
Teremos novidades neste aspecto neste ano?
Esperamos trazer novidades a cada ano até o fim do contrato. Tem de ter uma melhoria a cada ano, isso é fundamental para mim. Este é um ano com muitos desafios. É um ano atípico, pela pandemia e incertezas que causam ao evento. Vamos tentar sempre melhorar a interação do público com o produto. É importante ter um upgrade no sistema de áudio, o som precisa ter boa qualidade. O sistema de telões vai melhorar. Queremos ter alguma interação de música, trazer a experiência da NBA e do vôlei de praia. Quando não tiver atividade na pista, tem a interação com o público.
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