Teleférico do Alemão está em ruínas

Um mês após a Olimpíada de 2016, o Teleférico do Alemão fechou para uma manutenção de seis meses – e nunca mais voltou. Inaugurado em julho de 2011 com a presença da então presidente Dilma Rousseff, o projeto de 3,5 quilômetros de cabo no complexo de 17 comunidades na zona norte carioca está há quase cinco anos parado e sem volta prevista. A obra que custou na época R$ 210 milhões caminha para completar dez anos sem funcionar por metade desse tempo, em uma das áreas mais pobres do Rio.

Os equipamentos enferrujam e as seis estações viraram escombros. Ou, em alguns casos, alojamentos da Polícia Militar. A interrupção, inicialmente por um problema num cabo que precisaria de peça importada, afeta não só o transporte, mas a economia local e serviços sociais.

Concebido no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o teleférico simbolizava a ocupação das favelas, base do projeto da gestão Sérgio Cabral (MDB) de pacificar comunidades antes dos grandes eventos.

Em novembro de 2010, um episódio cinematográfico: a PM fez operação na vizinha Vila Cruzeiro e bandidos fugiram pela mata, com exibição na TV. Agora quem está preso é Cabral, condenado a mais de 300 anos por crimes como corrupção e lavagem de dinheiro. Suspeita-se que, no Alemão, o superfaturamento passe de R$ 14 milhões (valor da época).

Quando o primeiro sistema de transporte de massa por cabo no Brasil foi inaugurado, faltavam três anos para a Copa no País e cinco para a Olimpíada. O teleférico ajudou a impulsionar o marketing de um Rio calcado na imagem de mudança e num prometido futuro de paz.

A inspiração foi em Medellín, cidade colombiana que sediou, por décadas, um poderoso cartel de narcotráfico. A arquitetura – incluindo um teleférico de 10 quilômetros – foi central na retomada urbana, além de ocupação militarizada de comunidades pobres e ações sociais. Mas o êxito colombiano não se repetiu no Rio.

O Estadão percorreu a comunidade e parte do teleférico. Nas estações, que abrigavam serviços sociais, médicos e esportivos, há sujeira. Na estação Morro da Baiana, cabos espalhados, telas de computador quebradas e todo tipo de objetos destruídos. No topo, gôndolas, abertas, se penduram no mesmo cabo de onde partiam na época de operação. Eram 152 cabines, com até dez pessoas. “Por que o governo não aproveita esses espaços? Poderiam ser pontos de cesta básica, testagem de covid”, sugere a jornalista Neila Marinho, do Voz das Comunidades.

A PM usa ao menos duas estações, próximas a bases de Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), em prédios vizinhos. Na das Palmeiras, a corporação abriu mão do próprio edifício. Ocupou o do teleférico, onde havia biblioteca, tatame de judô e clínica. O prédio original, da UPP Fazendinha, está abandonado e com janelas quebradas – resultado de tiroteios na área.

A estação do Alemão tem situação similar, embora mais discreta. Policiais fizeram “puxadinho” no 1º andar: um alojamento, com camas e viaturas paradas. No entorno, crianças tentam driblar PMs para brincar de se esconder nas dependências do teleférico. “O bondinho vai voltar?”, pergunta uma delas.

Além de moradores levarem até uma hora para ter acesso ao transporte público, há risco de acidentes. “Esses fios e cabos de aço viram um perigo para a comunidade, sendo que antes eram um benefício grande. A qualquer momento pode arrebentar, não há manutenção”, diz Paulinho da Fazendinha, presidente da Associação de Moradores da Fazendinha.

Iniciadas em 2008, as UPPs tiveram auge em 2012, quando dez foram abertas. Após 2014, quando Cabral saiu do cargo, nenhuma nova foi instalada. A Controladoria-Geral da União (CGU) identificou em 2016 superfaturamento de R$ 139 milhões dentro do contrato do PAC do Alemão (R$ 710 milhões). O total inclui não só o teleférico, mas ainda projetos de revitalização e habitação. As obras ficaram a cargo de consórcio liderado pela Odebrecht.

Sem perspectiva

O teleférico está sob responsabilidade da Secretaria Estadual de Transportes. Antes, foi operado pela concessionária SuperVia, a mesma dos trens urbanos do Rio. Nos meses finais de funcionamento, foi gerido pelo consórcio Rio Teleféricos, que acusou o Estado de não fazer pagamentos devidos. A secretaria diz que, para retomar o serviço, seria preciso fazer licitação e contratar obras de recuperação e “não há disponibilidade orçamentária”.

Já a PM afirma que a entrada nos edifícios se deu por ordem do então governo Luiz Fernando Pezão (MDB) após a empresa de segurança privada que cuidava do patrimônio interromper o serviço. Por causa da vulnerabilidade da área e da degradação da estrutura, a UPP Fazendinha “segue fazendo uso total da edificação do teleférico”.

No caso das UPPs Alemão e Nova Brasília, a polícia diz que usa parte do espaço para dar apoio ao efetivo. Sustenta que, além de manterem segurança dos locais, são feitas melhorias.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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