Tecnologia da Embrapa contribui com produção pecuária orgânica no Brasil

No Brasil, o consumo de produtos orgânicos cresceu, em 2020, 30% em relação a 2019, com movimento de cerca de R$ 5,8 bilhões, segundo dados da Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis). Entre esses produtos, estão carnes, leite e ovos orgânicos. As pesquisas e tecnologias da Embrapa e parceiros utilizadas na produção na pecuária orgânica foram apresentadas pelo pesquisador João Paulo Guimarães Soares, da Embrapa Cerrados (DF), em palestra na Expoabra Digital 2021, no painel “Contribuições das instituições públicas na produção orgânica”, realizado durante a Semana do Alimento Orgânico no Distrito Federal.

Soares lembrou que todo o processo de elaboração da legislação sobre agricultura orgânica (Lei 10.831/2003) e de instruções normativas para o segmento da pecuária orgânica, bem como a atual portaria 52, editada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e que regula os sistemas orgânicos de produção, foi acompanhado pela Embrapa. “Muitas vezes, o trabalho de pesquisa foi feito concomitantemente à elaboração da legislação”, disse.

O primeiro projeto de pesquisa da Embrapa em produção orgânica de leite foi iniciado em 1999, e em 2003 dois grandes projetos em rede de agricultura orgânica foram aprovados, com desdobramentos em projetos de transferência de tecnologia, assim como na construção de um portfólio de sistemas de produção de base ecológica, que agrega os projetos de produção orgânica e de base ecológica da Empresa, e no Marco Referencial em Agroecologia.

O pesquisador apresentou números estimados da pecuária orgânica no Brasil em 2010 e 2012, a partir de projetos de pesquisa. “O Brasil não dispõe, hoje, de dados estatísticos oficiais da produção (orgânica). Temos um cadastro nacional e único de produtores de orgânicos Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), mas não temos estimativas de produção e produtividade”, informou.

Ele detalhou informações geradas pelas pesquisas em avicultura orgânica, como a viabilidade de produção orgânica de ovos comerciais de galinhas e outras aves, a exemplo do sistema convencional, o modelo integrado de produção de ovos orgânicos com o genótipo Embrapa 051, formulações alternativas de rações para poedeiras, a possibilidade de produção de carne orgânica de frangos (como o genótipo Embrapa 041, de crescimento lento para uso em sistemas orgânicos) e outras aves.

Da mesma forma, a carne orgânica de suínos também pode ser produzida, a partir do sistema intensivo de suínos criados ao ar livre (Siscal) para porcas e leitões, já existente e que se adapta à produção orgânica, com recria e engorda em áreas com pastagens e piquetes. Devem ser usados genótipos de crescimento lento e de melhor qualidade da carne e peso mínimo ao abate de 85 kg.

“Assim como não podemos abater aves com menos de 81 dias, não podemos abater suínos com menos de 85 kg. A agricultura orgânica não quer fast food. Quer slow food de qualidade e segurança alimentar “, comentou, citando ainda tecnologias desenvolvidas pela Embrapa, como o sistema de criação dos leitões em família e a formulação de dietas para leitões em fase de aleitamento.

Outra possibilidade é a produção de carne orgânica de ruminantes com a criação de bovinos, bubalinos, ovinos e caprinos em sistemas de produção extensivo ou semiextensivo em áreas de pastagens. Soares apontou a experiência de duas associações, no Mato Grosso – Associação Brasileira dos Produtores de Animais Orgânicos (Aspranor) e Associação Brasileira de Produtores Orgânicos (ABPO) no Mato Grosso do Sul –, que produzem carne orgânica em mais de 110 mil ha com 85 mil cabeças em fazendas certificadas pelo Instituto Biodinâmico (IBD).

“O sistema de produção em pastagem é o sistema mais adequado nas condições tropicais do Brasil. É viável economicamente e mantem o bem-estar animal, sobretudo porque não é permitido para a criação de bovinos (orgânicos) em confinamento completo”, explicou Soares, que ainda detalhou as recomendações de manejo dos animais.

O pesquisador também falou sobre o projeto Observatório do Leite Orgânico no Brasil, liderado pela Embrapa Gado de Leite (Juiz de Fora, MG), em parceria com a Embrapa Cerrados e a Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos, SP). O projeto tem permitido a obtenção das primeiras estimativas de produção. Segundo Soares, existem atualmente no País 96 produtores de leite orgânico certificados e cadastrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), produzindo em média 59 mil litros por dia. A produção média das unidades produtivas é de 667,5 litros/dia (mínimo de 12 litros/dia e máximo de 5 mil litros/dia) e a produção média por vaca de 13,5 litros/dia.

Soares finalizou a apresentação com os principais resultados das pesquisas, elencou algumas observações para a produção animal orgânica: a produção de ruminantes requer áreas de forragens; a produção de animais monogástricos necessita, além da forragem, de cereais; apenas 15% e 20% da matéria seca/dia pode ser adquirida fora da propriedade, respectivamente; apesar do menor investimento e custeio, esses sistemas requerem mais mão de obra; maior preocupação com o meio ambiente, bem-estar animal e ausência de resíduos; os mercados locais e regionais são preferenciais para produtos frescos; carne, leite e ovos têm valor agregado e, se processados, podem alcançar mercados mais distantes e rentáveis da rede de varejo global.

“Existem vários arranjos produtivos, como propriedade, paisagem, recursos naturais, mas eles necessitam ser equilibrados. Mas o importante é dizer que sistemas orgânicos de produção animal são técnica e economicamente viáveis”, afirmou.

A Semana do Alimento Orgânico foi promovida pelo MAPA, pela Comissão de Produção Orgânica do Distrito Federal (CPOrg-DF), pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), pela Ceasa-DF, pela Emater-DF e pela Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural do DF.

O painel “Contribuições das instituições públicas na produção orgânica” foi mediado por Daniel Oliveira, engenheiro agrônomo da Emater-DF. Ele, Kelly Nascimento, superintendente do Sistema Fape-Senar-DF, e Rose Rainha, do Sebrae-DF, apresentaram as ações desenvolvidas por essas entidades no segmento da agricultura orgânica, como capacitações, assistência técnica e gerencial, eventos, consultorias e apoio a certificações.

BRASÍLIA

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