Sobra da vacina pode ter beneficiado parentes de policiais; PM e MP investigam

A Polícia Militar e o Ministério Público investigam se parentes de policiais se beneficiaram da chamada xepa da vacina, doses de frascos abertos que são aplicadas no fim do dia para evitar o desperdício. A suspeita é que parentes de agentes no Batalhão de Assis, no interior de São Paulo, tenham sido vacinados indevidamente.

Mesmo na xepa, a orientação é que a aplicação ocorra segundo critérios de prioridade do Plano Nacional de Imunização (PNI) e do Plano Estadual de Imunização (PEI) e siga ainda os princípios da impessoalidade, ou seja, que o ato, no caso específico, não privilegie pessoas próximas aos agentes de segurança pública.

Segundo a PM, dois oficiais do 32º Batalhão que estavam encarregados da coordenação do posto de vacinação no local foram afastados. A quantidade de vacinas supostamente aplicadas em parentes de policiais não foi confirmada com precisão pela corporação, que fala em cerca de dez doses aplicadas indevidamente. O número de investigados no caso, no entanto, é maior.

O Estado vacinou cerca de 140 mil agentes entre 5 de abril e esta quinta-feira, 15, em 83 postos espalhados por batalhões de todas as regiões paulistas. A vacinação beneficiou policiais militares, civis, federais, rodoviários federais e agentes da Fundação Casa, além de guardas civis e municipais e agentes penitenciários. Com exceção destes, a parte majoritária do grupo teve a vacinação coordenada pela PM. A segunda dose está programada para começar a ser aplicada em 4 de julho.

“No caso da cidade de Assis, recebemos com perplexidade a informação de que familiares de policiais teriam recebido doses da chamada ‘xepa’ (algumas doses restantes de três frascos já abertos ao final das atividades de vacinação) contrariando determinações claramente emanadas pelo comando da Polícia Militar. A instituição não compactua com desvios de comportamento e o caso está sendo rigorosamente apurado”, informou em nota a PM.

O porta-voz da PM, major Rodrigo Cabral, disse ao Estadão que a corporação já tinha divulgado previsões “enfáticas” sobre o aproveitamento das doses da xepa, para, segundo ele, evitar qualquer contexto de “fura-fila”. “Os frascos abertos não retornam para o centro de gerenciamento porque se perde. Então, na xepa tinha que seguir os critérios de procurar pessoas que estão na idade corrente da vacinação, com critério muito sólido e com impessoalidade. Não posso procurar um parente meu.”

Ele disse que a xepa tem sido aproveitada, seguindo os critérios, para moradores do entorno das áreas dos batalhões, assim como funcionários civis das unidades policiais, como profissionais de limpeza terceirizados. “O que aconteceu em Assis não condiz com a orientação clara do comando e de pronto foi instaurado uma sindicância para fazer a devida apuração e atribuir responsabilidade disciplinar. Não tivemos nenhuma outra situação parecida no Estado”, disse Cabral.

Em nota, o Ministério Público informou que a Promotoria de Assis instaurou procedimento investigatório para “a apuração da conduta no campo da improbidade administrativa e da saúde pública”.

“Esclarecimentos foram solicitados, por ora, ao Comando de Policiamento do Interior 8 – Presidente Prudente, bem como documentação que possibilite o acompanhamento da apuração iniciada pela própria Instituição. Caso comprovadas as ilegalidades noticiadas, medidas serão adotadas com vistas à responsabilização dos agentes públicos e particulares envolvidos”, declarou o MP.

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