Sem penhor, brasileiro vende as joias
Na semana passada, o Estadão entrou em contato com várias agências na capital paulista da Caixa – que detém o monopólio no setor – e foi informado que o serviço estava suspenso para novas operações. Segundo a reportagem apurou, em meio à pandemia o penhor foi considerado como serviço não essencial em comunicado emitido pela instituição em março do ano passado e, portanto, foi interrompido para novas operações.
O penhor é uma linha de crédito na qual a pessoa deixa objetos de valor, como joias, relógios e pratarias como garantia em troca de dinheiro vivo. O interessado pode estar na lista de inadimplentes, até da própria Caixa, que não encontra obstáculos.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Caixa, porém, não confirma que o serviço tenha sido suspenso para novas contratações. Em comunicado, informa que, “em virtude da pandemia, algumas dessas unidades (465) estão ofertando somente o serviço de renovação”. Ainda de acordo com a instituição, em março foram realizados 22,6 mil novos contratos de penhor e 441,1 mil renovações. Em abril, até o dia 23, tinham sido fechados 13 mil novos contratos e 295,4 mil renovações.
Questionada pela reportagem, a Caixa não informa o saldo das operações de penhor. Na apresentação mais recente de resultados do banco, relativa ao último trimestre de 2020, também não há uma rubrica específica para o penhor. Mas a reportagem apurou que o penhor é o terceiro produto em rentabilidade.
Dom Pedro
Fonte de recursos imediatos a custos mais baixos, o penhor também é uma das linhas de crédito mais antigas na praça e está ligada às origens da Caixa. Criada pelo decreto 2.723, assinado por Dom Pedro II em 1861, a instituição tinha a função de guardar “as pequenas economias das classes menos abastadas” e “emprestar, por módico juro e sob penhor, as somas necessárias para socorrer as urgentes necessidades das classes menos favorecidas”, como consta na história da instituição.
Entre abril e setembro do ano passado, a publicitária “A”, que conversou com o Estadão sob condição de anonimato, foi várias vezes à agência da Caixa perto da sua casa na capital paulista, mas perdeu todas as viagens. Desempregada e inadimplente, ela ficou sem alternativa. Em setembro último, acabou tendo de vender as joias de família para conseguir pagar as despesas do dia a dia. “Eu não queria vender, agora vendi, acabou”, contou a publicitária.
Com a venda de um solitário de brilhante, um par de brincos de argola de ouro e um escapulário de ouro branco no mercado informal, ela conseguiu arrecadar R$ 4 mil. Foram R$ 500 a mais do que o oferecido por lojas especializadas na compra de joias de segunda mão e R$ 1 mil acima do crédito que ela calcula que conseguiria na Caixa.
De toda forma, a publicitária lamenta a venda e a falta de opção, no momento, por não conseguir fechar novos contratos de penhora.
Assídua do penhor, a publicitária lembra das cenas de alegria que presenciou no passado, de outras pessoas e dela própria, quando conseguiam recuperar os bens penhorados. “Fico triste porque, quando você vende uma joia de família, que tem uma ligação emocional, é sinônimo de fracasso. Já no penhor, a situação é transitória e há a chance de se reaver o bem.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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