Renan quer trégua com Lira, mas CPI embaralha o jogo
À frente do Progressistas, a família de Lira desafia a cada eleição o domínio do clã Calheiros num dos Estados mais desiguais do País, famoso pelos destinos turísticos, mas que tem um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano e sofre para se reerguer economicamente.
Desde o governo de Fernando Collor de Mello (1990-1992), o presidente que renunciou para não sofrer impeachment, Alagoas não figurava com tanto destaque nesse jogo do poder com reflexos não só no Congresso como no Palácio do Planalto. A força dos clãs Lira e Calheiros e a projeção do deputado e do senador se explicam pelo controle da máquina partidária do Progressistas e do MDB no Estado.
Agora, as rivalidades também estão expostas na CPI da Covid. Lira sempre discordou da abertura da comissão. Disse várias vezes que a investigação é inoportuna e serve mais à “briga política e ideológica”. Para o presidente da Câmara, a CPI não terá efeito imediato, interpretação oposta à de Renan, que vê o governo cada vez mais pressionado a agir. Na lista das divergências, outro destaque: Lira apoia o presidente Jair Bolsonaro, enquanto Renan é aliado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Bolsonaro e Lula prometem se enfrentar na disputa de 2022. Mas onde estarão os dois alagoanos? “Desde 2014, tenho tentado fazer aliança com Arthur Lira. Ele que não quer. Eu sempre quis que a gente subisse junto no palanque”, disse o relator da CPI ao Estadão.
Feijoada. No 1º de Maio, um sábado, os dois demonstraram descontração num almoço oferecido pela senadora Kátia Abreu (Progressistas-TO), em Brasília. A feijoada preparada por Moisés, marido de Kátia, animou o encontro e serviu para Renan se aproximar do antigo adversário.
“Eu disse ao Arthur Lira que, no fundo, fiquei orgulhoso com a vitória dele. Torci pelo Baleia, mas a vitória do Lira é significativa. Foi a vitória da política”, afirmou Renan. “Sei o que é uma pessoa de Alagoas se tornar presidente da Câmara”, afirmou ele, que foi presidente do Senado por três períodos e pretende disputar mais uma vez o cargo, em 2023. Em fevereiro deste ano, o MDB de Renan ficou contra Lira e apoiou a candidatura de Baleia Rossi (SP).
Naquele Dia do Trabalho, o almoço na casa de Kátia reuniu também o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, o procurador-geral da República, Augusto Aras, e os ministros do Tribunal de Contas da União Bruno Dantas e Vital do Rêgo Filho, além do ex-presidente do TCU José Múcio Monteiro.
A conversa tratou de CPI, economia, China e vacina, entre outros temas. A sucessão de erros cometidos por Bolsonaro também se fez presente. “Falamos sobre tudo”, resumiu Renan. “Eles acham que eu sou terrorista, mas o Bin Laden lá é o Omar Aziz”, afirmou o senador, rindo, numa alusão ao presidente da CPI. Questionado se Lira foi emissário de algum recado do Palácio do Planalto, o senador respondeu: “Absolutamente, ninguém me pediu nada”. O deputado, por sua vez, tem dito que Bolsonaro nunca lhe solicitou ajuda para a articulação política da CPI. “Não sou senador”, retruca ele, sempre que perguntado sobre o tema.
Viagem. Ao acompanhar, na sexta-feira, o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, na entrega de casas populares em Junqueiro (AL), seu reduto eleitoral, Lira anunciou que Bolsonaro desembarcará em Maceió no próximo dia 13. Vinte e quatro horas antes, o presidente dava sinais de ter armas engatilhadas para fustigar Renan, prometendo investigar o filho dele, que é o atual governador de Alagoas.
O ataque ocorreu porque o senador destacou na CPI uma série de manifestações de Bolsonaro contrárias à vacinação. “As insinuações do presidente sobre Alagoas, sem apresentar fatos concretos, causam estranheza e soam mais como ameaça de retaliação à CPI”, reagiu o governador Renan Filho. Seu pai foi na mesma direção. “O que mata é a pandemia, pela inação, inépcia, que, torço, não seja dele”, disse o relator da CPI, numa referência a Bolsonaro.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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