Produção têxtil esbarra na falta de mão de obra qualificada

Antes de colocar a linha no orifício da agulha é preciso acertar o corte. As peças podem ser produzidas em escala industrial, mas cada uma delas recebe o toque, o ajuste, o olhar e o cuidado que não compete as máquinas, mas a mão de obra qualificada. Alinhar a expertise tecnológica e a senilidade humana traz o caimento perfeito para quem deseja crescer no ramo têxtil.

O sonho começou na década do anos 90. Mas os ‘moldes’ não estavam alinhados e os ‘cortes’ foram inevitáveis, assim Toledo ‘deixou no cabide’ o desejo em se tornar um polo têxtil. Com a demanda do mercado e a ascensão do município, um novo movimento que visa a expansão do setor está em pauta.

Desde outubro do ano passado, a sócia proprietária da indústria têxtil Munhoz Confecções e Uniformes Profissionais, Jaqueline Munhoz Wosch, busca inventivo junto ao poder público e parceria para fomentar o setor. “Já faz algum tempo que temos dificuldades na contratação de mão de obra qualificada. Com mais de 30 vagas de costureira abertas buscamos promover a capacitação das pessoas que procuram por aperfeiçoamento nessa área”.

Essa busca pelo fortalecimento do setor é o primeiro ponto para alinhavar o sonho de tornar o município um polo têxtil. “Ainda em 2021, iniciamos algumas conversas com o intuito de fazer com que as indústrias, incluindo os pequenos empreendedores, possam crescer. Ao começarmos a trilhar esse caminho esbarramos em um problema que não é novo e pode trazer drásticas consequências; continuamos com dificuldades na contratação de mão de obra”.

PROJETO EMPRESA ESCOLA – Jaqueline relata que com espaço, maquinário e profissional com experiência para ensinar, seus pais, Irene Munhoz e Nelson dos Santos, – que também são sócios da empresa – iniciaram o Projeto Empresa Escola. A iniciativa consiste em ofertar capacitação gratuita na área de corte e costura industrial.

“Iniciamos o projeto na nossa indústria e ele já resultou em contratação. As pessoas nos procuram para preencher as vagas, mas sem experiência, ou com o curso básico de corte e costura – uma capacitação é bem diferente do trabalho industrial – é mais difícil contratar”, pontua Jaqueline ao citar que, devido o momento epidemiológico em relação a Covid-19, as aulas do projeto estão paralisadas.

O Projeto Empresa Escola, segundo a sócia, torna possível contar com mão de obra qualificada. Ela cita que esse tipo de curso em nível industrial não é ofertado com periodicidade, dessa forma as empresas do setor esbaram no quadro funcional que não fica preenchido. Essa falta de mão de obra tende a impedir o avanço do setor, limitam a produção e não faz girar a economia local.

“Esse projeto é apenas o início do sonho. A ideia é unir forças, buscar incentivo e qualificar mão de obra. O interessado pode fazer o curso gratuito em nossa estrutura, mas não se adaptar com nossa metodologia de trabalho e vir a trabalhar em outra indústria. O importante é ofertar o curso, capacitar as pessoas e ajudar a fomentar o setor e a economia. Ainda estamos distantes do sonho de ser um polo têxtil, mas acreditamos que isso é possível ainda mais se os outros passarem a vislumbrar isso também. Toledo está no radar de outras indústrias, elas buscam nosso trabalho, mas esbarramos na falta de mão de obra. Nós de Toledo precisamos enxergar nosso potencial”, reflete Jaqueline.

MÃOS QUE ENSINAM – A responsável por ensinar os participantes da capacitação é a sócia proprietária, Irene Munhoz. Ela explica que o curso acontece em módulos e dura mais de 60 dias, para que a pessoa possa aprender uma função desse vasto campo do setor têxtil.

“Trabalho nessa área desde 1987. Fiquei 26 anos em uma empresa, depois cinco anos e meio em outra. Quando a Jaqueline fez o curso na área de moda e voltou para Toledo com o sonho de ter o próprio negócio, resolvemos apoiar. Estamos com a indústria faz mais de três anos. É um setor apaixonante, você cortar o tecido, costurar e ver a peça pronta. Contudo, dificulta não ter mão de obra qualificada para o trabalho”, comenta.

Irene salienta que existe demanda reprimida no setor. Ela conta que empresas de outros estados – de marcas renomadas no ramo da confecção – já entraram em contato na tentativa de contratar os serviços, mas com máquinas paradas pela falta de quem as opere, fez e faz com que a indústria não consiga expandir tanto quanto poderia.

UM PONTO DE CADA VEZ – Giovana Cristina F. Alves foi uma das contratadas após passar pelo Projeto. Ela conta que viu as vagas disponíveis e entrou em contato com a indústria. Como ela não tinha qualificação para ocupar o cargo, foi convidada a participar do Projeto Empresa Escola. Durante a capacitação, Giovana teve certeza de que queria continuar no ramo. Em setembro do ano passado, ela foi efetivada na Munhoz Confecções e Uniformes Profissionais.

“Quando eu era criança e brincava de boneca, costumava ficar mexendo na máquina de costura da minha madrinha. Ficava encantada vendo como a agulha trabalhava, unia as partes do tecido e no final era uma peça de roupa. A costura industrial é diferente, pois cada operação tem um tempo. Sou grata pela oportunidade de profissionalização e meu desejo é aprender e mais e, com o tempo, ganhar experiência no ramo”, destaca Giovana ao declarar que encontrou o dom entre os tecidos, as linhas e as agulhas.

ANÁLISE DO SEGMENTO – “Esse setor em Toledo emprega bastante gente”, cita o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Diego Bonaldo. “Temos indústrias que produzem artigos próprios e as facções, ou seja, para outras empresas. É um setor diversificado em nosso município”, declara ao acrescentar que Toledo conta com 43 indústrias nesse ramo e, atualmente, emprega 930 trabalhadores no setor.

Sobre Toledo vir a ser tornar um polo têxtil, o secretário expõem as dificuldades vividas pelo setor. “Nesse setor já temos um volume grande e especial de empresas. Mas, especialmente, o cenário principal para atração de investimentos é qualificação de mão de obra. Hoje, o principal gargalo é a mão de obra e não só nesse, mas em outros segmentos também. Contudo, esse setor sofre bastante com isso”, avalia o secretário ao comentar que o município apoia um projeto com a Embaixada Solidária para a qualificação na indústria têxtil.

Da Redação

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