“Precisamos de pessoas certas para os lugares corretos”, aponta novo presidente da Fiep

Em meio à correria de sua agenda para ajustar a vida após ter sido eleito o novo presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), o empresários Edson Vasconcelos recebeu a reportagem do JORNAL DO OESTE para uma entrevista em um de seus escritórios em Cascavel, onde nasceu, cresceu e estabeleceu uma base sólida que o alçou a este novo momento de uma trajetória de extremo sucesso.

Casado e pai de 3 filhos, Edson Vasconcelos tem a exata noção do desafio que terá nos próximos anos, entretanto, diz ter se preparado – e à sua família – para enfrentar o que vier pela frente. Seguro e ciente do que precisa ser feito, o empresário acredita ser preciso mudar o perfil de gestão para que o Paraná possa se desenvolver ainda mais.

Ele iniciou e terminou a entrevista agradecendo aos sindicatos das indústrias de todo estado e deixou claro que o sentimento é de responsabilidade e também de união de um grupo para colocar em prática um plano de trabalho construído durante um ano. “É um projeto bem elaborado”, resumiu o novo presidente da Fiep.

MISSÃO – Para ela o primeiro passo é colocar para a sociedade qual a real missão da Fiep “para que o Paraná possa ser melhor do que está na industrialização”. Vasconcelos acredita que a Fiep precisa estar de forma mais incisiva nas bases. “O município que não está preparado ou não entende a importância de uma indústria pode inibir a vinda de uma indústria”, comentou ele ao citar pontos como a falta de infraestrutura básica, Código Tributário, questões regulatórias e até o Plano Diretor. “Tudo isso inibe uma indústria”, resumiu.

Essa visão é tão grave que às vezes dentro de uma associação comercial existem muito mais comerciantes, dando a falsa impressão que esse setor é primordial para o desenvolvimento. Na visão de Edson Vasconcelos, a grande força motriz da sociedade é a indústria porque ela consegue oferecer uma balança comercial positiva ao município, enquanto comércio e serviços circulam mais internamente. “A indústria consegue vender para outros municípios, outros estados e países”, apontou o empresário.

“Sentimento de responsabilidade e também de união de um grupo para colocar em prática um plano de trabalho construído durante um ano” – Foto: Samara Denardi

DEFESA DO AGRO – No entendimento do presidente da Fiep, esse processo é tão básico para quem está no Oeste do Paraná que a defesa do agronegócio acontece naturalmente. “Eu não tenho fazenda. Muitas pessoas não têm fazenda. Mas sei que o agro é a vocação (da região), que se acabar o agro nós temos um grande problema de desenvolvimento da economia e a indústria precisa ser vista dessa forma”.

Vasconcelos cita o exemplo dos Estados Unidos que na década de 90 transferiu boa parte de seu parque industrial para outros países e depois percebeu ser preciso retroceder neste processo por ter sido um grande equívoco.

Nessa questão, o Estado do Paraná ainda é muito jovem. “A história industrial do Paraná ainda é recente porque vivia numa cultura extrativista até a década de 70”, lembrou o novo presidente da Fiep. E completou: “O Paraná ainda é novo, mas é uma referência” e citou as cooperativas, lembrando que na indústria paranaense o maior conjunto vem do setor de alimentos.

LOGÍSTICA – Ciente dos gargalos históricos na questão logística, Edson Vasconcelos defende uma ação propositiva em orientação técnica. Segundo ele, o tema precisa ser apresentado ao gestor público mostrando que a logística é uma pauta fundamental porque o social toma muito tempo e investimento. “Mas a questão da infraestrutura é fundamental. De 10 obras, cada região quer a sua e a prioridade é para sua região. Precisamos mostrar a importância”, disse ele, citando o exemplo da Prati Donaduzzi, de Toledo, que vende para vários mercados consumidores. “Se não tiver valor agregado, pela distância, nossa região fica menos competitiva”, analisou Vasconcelos.

MOMENTO ESTRATÉGICO – Falando, não como presidente da Fiep, mas sim como membro do Programa Oeste em Desenvolvimento (POD), Edson Vasconcelos comentou sobre o modelo do pedágio que está prestes a ir a leilão. “Foi um modelo ajudamos a construir. O Oeste foi uma das regiões que mais reivindicou posições para não ter a outorga, que levaria recursos para fora e também lutamos contra uma curva de aporte que estava muito agressiva”, resumiu ele.

Em sua opinião, o modelo que está aí é um exemplo para o Brasil, mas lembrou que algumas coisas podem interferir no sucesso do leilão e não no modelo. Ele citou ainda a defesa por mudanças no Projeto de Lei 1712/2022 para que ele seja aprovado no Congresso Nacional em relação à questão tributária das concessões do pedágio. Na visão de Vasconcelos, caso o projeto seja aprovado deverá causar uma queda em torno de 15% no valor das tarifas “e isso reflete em muitas obras e eficiência logística”.

REFORMA TRIBUTÁRIA – Sobre a reforma tributária, Edson Vasconcelos lembrou que o argumento é para equilibrar a estrutura tributária nas áreas do comércio, serviço e indústria. “A indústria não pode ser tributada da forma como está hoje porque ela perde competitividade. Sempre buscamos o mercado que não necessariamente está no domicílio da indústria e hoje há uma distorção”.

Para o novo presidente da Fiep, o argumento usado foi para simplificar e diminuir tributos, entretanto, existe uma forte preocupação se irá mesmo reduzir. O trabalho na Federação é de acompanhamento das alíquotas que estão muito altas, pegando setor a setor. “Precisamos lutar pela indústria do Paraná e pela menor tarifa possível”, afirmou ele ao lembrar que dentro do planejamento está que, tão logo assuma, deverá observar o impacto em cada setor e aí sim se posicionar. Mas para Edson Vasconcelos, deveria ser feita uma reforma administrativa antes. “Não está tendo uma contrapartida da estrutura governamental em reduzir a estrutura administrativa”.

Para novo presidente da Fiep, defesa do agronegócio acontece naturalmente – Foto: Samara Denardi

FORÇA DO INTERIOR – Eleito com praticamente2/3 dos votos na eleição do último dia 15 de agosto, Edson Vasconcelos lembrou que em torno de 80% da atual diretoria permanece, entretanto, todos compreenderam ser preciso uma presença mais robusta, em especial no interior. “Em algum momento a Fiep deixou de estar presente no interior e tínhamos uma sinergia das expectativas e isso foi muito positivo”.

Porém, o novo presidente faz questão de deixar essa eventual rivalidade de lado. “Não alimentamos essa tese capital x interior. Precisamos analisar quem está melhor naquele momento para representar o setor”, ponderou ao lembrar que o cargo é de extrema relevância e dedicação integral. “A pergunta é: quem está, tem condições de estar”, afirmou ao citar que a Fiep precisa preparar novas lideranças para, quando houver a “troca de bastão, haja continuidade e não continuísmo, que é o que temos muito forte nas nossas associações comerciais”.

CENÁRIO DO PARANÁ – “O Paraná é um Estado abençoado”. A frase resume bem o sentimento de amor pelo estado. “Sabemos das responsabilidades, das cobranças. Nossa região vive muito isso, até porque fizemos as coisas sozinhos. Não tínhamos o governo. Quem veio para cá na década de 50 construiu no machado. Saímos do eixo Curitiba-Londrina”, resumiu.

Segundo ele, é preciso “vestir a camisa” e isso ele aprendeu no engajamento que existe no Programa Oeste em Desenvolvimento. “Temos tudo para crescer. O que precisamos é achar as pessoas certas para os lugares corretos”.

Comparando o Brasil com a percepção quando se olha Israel e as dificuldades que o país enfrenta, Edson Vasconcelos ressaltou que Israel que dá exemplo em desenvolvimento e tecnologia pelo perfil de suas lideranças. “Não são líderes por carisma, mas por competência. Precisamos quebrar essa linha em querer eleger quem tem carisma ou é politicamente aceitável. Precisamos ter pessoas comprometidas. Pessoas boas, que acreditem e vistam a camisa. Não adianta fazer guerra, mas também não adianta ser servil sempre”.

Neste sentido, acredita Edson Vasconcelos, o Paraná está evoluindo muito nisso. “Precisamos ter mais objetividade. Temos de ter um propósito, senão ficamos em casa e vamos cuidar da nossa vida. Precisamos ter seriedade nesse processo”.

E assim, com seriedade e objetividade, Edson Vasconcelos vai se organizando para, a partir de outubro, comandar uma das maiores e mais importantes organizações dentro do Estado do Paraná.

Quem é Edson Vasconcelos?

Edson Vasconcelos tem larga experiência no comando de entidades representativas – Foto: Samara Denardi

Edson Vasconcelos nasceu e cresceu em Cascavel, é casado e pai de 3 filhos. Graduado em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), tem MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e MBA em Negócios Internacionais pela Ohio University, nos Estados Unidos.

Atua no setor da construção civil, sendo sócio proprietário da Vasto Engenharia, Bridge Incorporadora e da Toledo Energias Renováveis, além de atuar no ramo imobiliário e de hotelaria. Os desafios vividos como industrial e o convívio com líderes empresariais moldaram sua visão e o inspiraram a se mobilizar a buscar um ambiente empresarial mais favorável ao crescimento e desenvolvimento do setor produtivo do Estado.

Iniciou seu envolvimento no associativismo como membro da diretoria do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Oeste do Paraná (Sinduscon Oeste). Em 2011, passou a integrar a diretoria da Fiep como vice-presidente, cargo que ocupa até o momento. Em 2013, foi eleito presidente do Sinduscon Oeste para um mandato de 3 anos. Em 2014, ingressou no Programa Oeste em Desenvolvimento (POD), que uniu toda região Oeste em pautas convergentes ao desenvolvimento regional, com destaque para a forte atuação em pautas relacionadas à infraestrutura e logística.

Desde 2015, presidiu diversas entidades como o G8, grupo formado pelas 8 entidades do setor produtivo de Cascavel; o Conselho de Desenvolvimento Econômico Sustentável de Cascavel (Codesc), que conta com a união de mais de 60 entidades que atuam em prol do planejamento em longo prazo do município; e o Instituto de Planejamento de Cascavel (IPC). Também foi membro do Sindicato das Indústrias de Produtos e Artefatos de Cimentos do Paraná (Sindicaf) e ocupou os conselhos da Ferroeste, do Serviço Social da Indústria do Paraná (Sesi-PR) e da Agência Reguladora do Paraná (Agepar).

Foi, ainda, presidente da Associação Comercial e Industrial de Cascavel (Acic), com uma gestão marcada pela forte atuação na aproximação dos líderes regionais nos temas de importância regional, participando ativamente da viabilização da construção do aeroporto de Cascavel e do Trevo Cataratas, além da implantação do IPC, entre outras importantes conquistas para a infraestrutura e desenvolvimento da região Oeste.

Desde 2014, coordena o Conselho Temático de Infraestrutura da Fiep, auxiliando na busca por soluções para o aperfeiçoamento da infraestrutura e logística paranaense, com foco na redução do custo logístico, agilidade nos transportes e segurança para cargas e pessoas.

Márcio Pimentel

Da Redação

CASCAVEL

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