PF investiga se escritório de ex-presidente da CBF foi usado pela Precisa
A Global ganhou o noticiário quando vieram a público as suspeitas da CPI da Covid sobre o contato de compra da vacina indiana Covaxin com o Ministério da Saúde. O dono da empresa, Francisco Maximiano, prestou depoimento aos senadores no mês passado. Embora seja contemporânea da comissão parlamentar, a ação de hoje não guarda relação com a investigação no Senado Federal. Resulta, na verdade, de uma longa apuração da PF em São Paulo, iniciada 2018 com a Operação Descarte.
Os policiais federais chegaram até a Global Gestão em Saúde a partir da delação dos advogados Luiz Carlos da Fonseca Claro e Gabriel Silveira da Fonseca Claro, pai e filho, que revelaram como teriam usado o escritório de advocacia e outras empresas controladas pela família para ajudar a administradora a gerar R$ 6,4 milhões em notas frias para caixa dois.
Em uma segunda etapa da investigação, a Receita Federal auditou a sede da Precisa e encontrou contratos suspeitos firmados outro escritório de advocacia, o Marco Polo del Nero e Vicente Cândido Advogados, na ordem de R$ 7,2 milhões.
Os auditores afirmam que os pagamentos à banca do ex-presidente da CBF não puderam ser comprovados. “Houve a prova do pagamento, mas não da prestação dos serviços”, diz a PF. “O que indica que se trata de mais uma simulação, e que o dinheiro de caixa dois da Precisa não foi gerado apenas pela Claro Advogados”, segue.
A Polícia Federal chegou a pedir autorização para fazer buscas no escritório, mas a Justiça Federal de São Paulo disse que não detinha competência para apreciação do pedido.
O escritório Marco Polo del Nero e Vicente Cândido Advogados foi investigado na Operação Combustão, aberta em outubro do ano passado para investigar fraudes no Fundo de Pensão dos Correios (Postalis) e operações de lavagem de dinheiro que teriam sido levadas a cabo por Milton Lyra, apontado como operador do MDB. A PF trabalha com a hipótese de que ele tenha sido o elo entre e a Global e as bancas de advogados.
“O dinheiro pode ter sido distribuído em dois escritórios para não chamar a atenção das autoridades ou por falta de capacidade financeira dos Claro para gerar a quantidade de dinheiro em espécie que a Precisa necessitava”, afirma o relatório da Polícia Federal.
O Ministério Público Federal e a Polícia Federal suspeitam que o dinheiro em espécie gerado através das supostas fraudes nos contratos investigados tenha sido usado para pagar propina em contratos públicos com a Petrobras, Correios e Ministério da Saúde.
COM A PALAVRA, MARCO POLO DEL NERO
A reportagem entrou em contato com o advogado e ex-presidente da CPF põe WhatsApp e ainda aguardava resposta até a publicação desta matéria. O espaço permanece aberto a manifestações.
COM A PALAVRA, OS ADVOGADOS DA GLOBAL GESTÃO EM SAÚDE
“Chega a ser surreal repetir a mesma busca e apreensão pela terceira vez em 13 dias, dessa vez para ir atrás de documentos sobre o que delatores disseram que teria acontecido sete anos atrás. Não há qualquer contemporaneidade ou qualquer elemento mínimo para justificar essa operação. O que há, sim, é um oportunismo, graças ao retorno da pirotecnia em torno das operações policiais que, em tempos racionais, jamais seriam deferidas pelo Poder Judiciário, ante a manifesta ausência de fundamentação.”
Ticiano Figueiredo e Pedro Ivo Velloso, advogados de Francisco Maximiano e da Global Saúde
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