Pesquisa britânica põe bairro carioca da Saúde entre os mais descolados do mundo
O bairro campeão foi Nørrebro, na capital dinamarquesa, Copenhagen. Em segundo lugar ficou Andersonville, em Chicago (EUA), e em terceiro, Jongno 3-ga, em Seul (Coreia do Sul). A Saúde foi o único bairro brasileiro citado na lista. “Os visitantes vão descobrir charmosos bares antigos, bela arquitetura portuguesa e locais fascinantes, como a Pedra do Sal”, afirma o texto publicado pela revista, que destaca o Museu do Amanhã e seu vizinho Museu de Arte do Rio (MAR), além dos murais de arte de rua ao longo do Boulevard Olímpico e a vista panorâmica a partir do Morro da Conceição.
O texto traz, ainda, sugestões para quem quer planejar sua viagem e para os que buscam passar um dia perfeito no bairro, que inclui uma visita ao restaurante Casa Omolokum, com pratos típicos da culinária baiana. “Feche a noite com música ao vivo, dança e churrasco brasileiro no (restaurante) Bafo da Prainha”, recomenda a revista, em texto do inglês Tom Le Mesurier, que mora no Rio desde 2010 e é especialista em culinária e turismo.
A Saúde é um bairro povoado desde fins do século 17, que ganhou esse nome a partir de 1742, quando o comerciante português Manuel Negreiros construiu ali a capela de Nossa Senhora da Saúde, para cumprir promessa depois que sua mulher se curou de uma doença. Também fica na Saúde o Cais do Valongo, inaugurado em 1811 para se tornar local de desembarque de pessoas escravizadas no Rio – antes, as embarcações chegavam na Praça XV.
Ao longo de aproximadamente 40 anos, esse cais recebeu cerca de 1 milhão de africanos, fazendo dele o maior porto receptor de escravizados do mundo e ponto de chegada de 25% dos 4 milhões de africanos trazidos à força ao Brasil. Em 1843 o Cais do Valongo foi reurbanizado para receber a princesa Teresa Cristina, que se casaria com o imperador dom Pedro II. O cais mudou seu nome, então, para Cais da Princesa. Em 1.º de março de 2017, passou a integrar oficialmente a Lista do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), por ser o único vestígio material da chegada dos africanos escravizados nas Américas.
Samba
Desde seus primórdios, a Saúde tornou-se moradia de baianos – houve uma intensa migração após a revolta dos malês (negros muçulmanos), em 1835, e a piora nas condições de vida em Salvador nas décadas seguintes, que também contribuiu para que muitos baianos se mudassem para o Rio. Reunidos na Saúde, eles foram decisivos na gênese do samba na cidade.
Os primeiros sambistas, como Donga e João da Baiana, e os mestres do choro, como Pixinguinha, se reuniam numa área chamada Pedra do Sal, que se tornou símbolo dessa cultura musical. A Pedra do Sal foi tombada em 1984 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro.
A região da Saúde foi revitalizada a partir da criação do projeto Porto Maravilha, às vésperas da Olimpíada de 2016. Nesse período foram criados o Museu de Arte do Rio e o Museu do Amanhã. A área ainda recebeu obras de artistas de renome internacional, como Eduardo Kobra. O mural Etnias, feito por ele no porto, foi reconhecido em 2016 como o maior grafite do mundo – recorde depois superado por outra obra de Kobra em Itapevi (SP).
Com 15 metros de altura e 170 de comprimento, Etnias retrata cinco rostos indígenas de cinco continentes diferentes: os huli, da Nova Guiné (Oceania), os mursi, da Etiópia (África), os kayin, da Tailândia (Ásia), os supi, da Europa, e os tapajós, das Américas.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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