Peru: voto rural mantém Castillo na liderança; Fujimori aposta no exterior

A eleição no Peru segue sendo disputada voto a voto. Com mais de 99,7% das urnas contabilizadas até às 5h25 desta quarta-feira, 9, em Lima, (7h25 em Brasília), ainda não era possível determinar quem será o próximo presidente do país. Nesta quarta, terceiro dia de apuração, a diferença de votos entre a conservadora Keiko Fujimori e o professor de esquerda Pedro Castillo, vem caindo.

Castillo lidera a corrida eleitoral com 50,2% dos votos válidos, enquanto Keiko tem 49,7%. Ainda estão sendo apurados os votos da zona rural e de peruanos que vivem no exterior.

Depois de passar grande parte da apuração em desvantagem, a virada de Castillo começou na última segunda-feira, 7, quando começaram a ser abertas as urnas no campo e na selva. A aprovação do sindicalista nestas áreas levou a herdeira do ex-presidente Alberto Fujimori a denunciar, sem comprovação, que havia uma “fraude sistemática” na contagem dos votos.

A candidata, então, passou a indicar uma série de supostas irregularidades que atribui ao partido Peru Libre, de seu rival.

Em entrevista coletiva na segunda, Fujimori afirmou ter detectado uma série de irregularidades no processo eleitoral realizado no último domingo, 6. A declaração abriu margem para que grupos de apoio à candidata do partido Força Popular passassem a contestar o processo.

“Há uma intenção clara de boicotar a vontade popular”, disse Fujimori, pedindo que denúncias de casos semelhantes sejam compartilhadas nas redes sob o slogan #FraudeEnMesa. “Não é que estejamos preocupados com a nossa candidatura, é com a defesa do futuro do nosso país”, disse.

Entre as acusações de Fujimori, estão a impugnação de atas que supostamente demonstrariam sua vantagem e a fraude de 87 cartões de identificação por parte de um funcionário do partido Peru Libre. Fujimori apresentou fotos e vídeos para respaldar sua denúncia. Eles não tiveram sua veracidade comprovada até o momento.

“Agora as impugnações (de atas de mesas de votação) passam a ser cruciais” para decidir a eleição, declarou à agência de notícias AFP a cientista política peruana Jessica Smith.

O Escritório Nacional de Processos Eleitorais (ONPE) nega a possibilidade de fraudes, assim como a presidente da Associação Civil Transparência, Adriana Urrutia, que declarou ao jornal El Comercio: “não há nenhuma evidência que nos permita falar de fraude eleitoral”.

Enquanto o suspense persiste, Castillo pediu em sua conta no Twitter atenção “para defender a democracia que se expressa em cada um dos votos, dentro e fora do nosso amado Peru. Não podemos descansar”.

Rural x exterior

A esperança de Fujimori está nos votos do exterior, onde estão registrados um milhão dos 25 milhões de eleitores peruanos, que demoram a ser contabilizados. O partido Peru Livre, de Castillo, pediu em um comunicado ao ONPE que “cuide da correta proteção dos dados dos votos, ao processá-los e publicá-los”. No exterior, Fujimori tem por enquanto 66,19% dos votos contra 33,8% do rival, com 56,8% das urnas apuradas, uma diferença de quase 61.000 votos de vantagem sobre Castillo.

Há ainda que se contar 2% das urnas no Peru, em sua maioria em zonas rurais e afastadas, onde Castillo recebe mais votos que sua rival.

Em todo o país, 75% dos eleitores registrados votaram no domingo, mais que os 70% do primeiro turno em abril. Na ocasião, Castillo ficou em primeiro lugar na disputa (com 2,7 milhões de votos, 19%), enquanto Fujimori teve 1,9 milhão de votos. Na segunda parte da disputa, o professor de esquerda liderou as pesquisas nos primeiros 15 dias, mas a conservadora conseguiu ultrapassá-lo na reta final.

O segundo turno parece longe de acabar com os distúrbios políticos dos últimos quatro anos. O Peru teve quatro presidentes desde 2018, três deles em cinco dias de novembro de 2020. As denúncias de fraude embolam ainda mais a eleição presidencial e ampliam o clima de instabilidade política no país.

“A crise é interminável. Os observadores atestam que a eleição foi limpa. Mas, o que é pior de tudo, é ter o resultado muito apertado, ou seja, uma sociedade muito dividida, que não abre espaço para o diálogo”, afirma Moisés Marques, coordenador de relações internacionais da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp). (Com agências internacionais).

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