Perdas devido à seca passam de R$ 114 milhões nas principais atividades de Quatro Pontes
A falta de chuvas que se estende por grande parte do Paraná desde meados de 2019 ainda assola a região Oeste. Quatro Pontes está entre os municípios prejudicados, visto que em 2021 a estiagem causou perdas significativas na produção de grãos, em especial soja e milho, e na pecuária houve perdas no crescimento das pastagens, na produção de silagem e na disponibilidade de matéria-prima para fabricação de ração. Desta forma, considerando as principais atividades impactadas diretamente pelas intempéries climáticas observadas no município, as perdas verificadas até o momento totalizam R$ 114.677.638,17. Persistindo as condições adversas pode haver majoração dos valores.
Um ofício com levantamento do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – Iapar-Emater (IDR-Paraná), enviado à Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil de Quatro Pontes na quarta-feira (05), aponta que a safrinha 2021 teve sua implantação tardada em função do atraso na colheita da safra de soja 2020/2021. A implantação da cultura de milho, que predomina em Quatro Pontes neste período, ocupando área de cinco mil hectares, teve início apenas a partir da segunda quinzena de fevereiro, com maior concentração dos plantios na primeira quinzena de março.
Conforme dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), durante todo o ciclo do milho safrinha 2021 verificou-se precipitações que totalizaram 363 milímetros, porém, mal distribuídas, concentrando-se na fase inicial, ou seja, no período vegetativo da cultura, quando foram registrados 161 milímetros. Contudo, no período compreendido entre a segunda quinzena de abril e segunda quinzena de maio, que reteve o período de maior demanda hídrica da cultura (florescimento), não foram registradas precipitações no município. Além das perdas por estiagem, aconteceram fortes geadas em Quatro Pontes a partir do final de junho e na primeira quinzena de julho, que afetaram de forma significativa as lavouras, principalmente as semeadas em março, agravando ainda mais as perdas e levando ao registro do pior índice de produtividade dos últimos cinco anos para a cultura no município.
Chuvas Safra de Verão 2021/2022
Na safra de verão 2021/2022 a situação é ainda mais preocupante. Segundo a pesquisa do IDR-Paraná, a grande maioria das lavouras de soja e milho no município encontra-se na fase de formação de vagens e enchimento dos grãos, com intensa demanda por água. Seriam necessárias chuvas abundantes no início do verão para repor o estoque de água no solo, diminuído pela baixa pluviosidade no período do inverno, além de chuvas bem distribuídas ao longo da safra para suprir a necessidade hídrica das culturas.
Porém, a situação verificada foi de atraso no início das chuvas, que ocorreram apenas na primeira quinzena de outubro de 2021, o que deslocou o plantio tradicionalmente realizado na segunda quinzena de setembro para a segunda quinzena de outubro de 2021. Após a ocorrência de precipitações de forma concentrada em outubro, no início do desenvolvimento das culturas, com volumes de 408 milímetros, que até provocaram a necessidade de replantio de algumas lavouras em função de danos por tromba d’água e granizo, a partir de novembro houve drástica redução das precipitações. Conforme dados do Inmet, entre o início de novembro até o final de dezembro, os volumes de precipitação em Quatro Pontes somaram apenas 18 milímetros, porém, mal distribuídos ao longo da extensão territorial do município.
Perdas Safra de Milho Verão
Ainda de acordo com a sondagem do IDR-Paraná, não se verifica no município o cultivo de milho com a finalidade de grãos. Apenas cultivo para produção de silagem destinada à bovinocultura leiteira. As perdas, neste caso, foram muito graves e devido ao contexto de baixa produção de silagem por conta das intempéries na safrinha 2021, diminuíram dramaticamente os estoques de alimento nas propriedades leiteiras, em quantidade e em qualidade, uma vez que o pouco material que foi possível aproveitar referente ao verão 2021/22 possui baixo valor nutricional em função do teor praticamente nulo de grãos na composição.
A redução de produção foi de aproximadamente 83%, ocasionada pela estiagem que afetou de forma severa o período reprodutivo da cultura. Considerando o preço atual da saca de 60 kg de milho, cotado em R$ 86, ou seja, R$ 1,4333 por quilograma, a quebra prevista de 1.379.875 kg corresponde ao valor de R$ 1.977.774,84.
Perdas Safra de Soja Verão
O estudo do IDR-Paraná também mostra que a perda de produção para a cultura que é o principal cultivo desenvolvido na safra de verão é estimada em 80% até o momento. Em havendo prolongamento das condições de restrição hídrica poderá ser agravada a situação. Considerando o preço atual da saca de 60 kg de soja, cotado em R$ 164,00, ou seja, R$ 2,7333 por quilograma, a quebra prevista de 25.600.000 kg corresponde ao valor de R$ 69.972.480,00.
Perdas Safra de Milho – Safrinha
O IDR-Paraná revela, ainda, que na safrinha a cultura do milho possui áreas destinadas à produção de grãos e produção de silagem para alimentação do rebanho de bovinos leiteiros. Ambas explorações apresentaram perdas consideráveis no período 2021/21, em função do atraso de plantio decorrente do atraso da colheita da cultura da soja verão 2020/2021, estiagem e geadas.
A redução de produção foi de quase 60%, ocasionada pela estiagem e geada, que afetou de forma severa o período reprodutivo da cultura. Na cultura de milho safrinha 2021 destinado à produção de grãos, as perdas totalizaram quilogramas. Considerando o valor médio praticado para o milho em agosto de 2021, período onde se concentrou as colheitas das lavouras no município, que foi de R$ 92 a saca de 60 Kg, percebe-se uma perda total no valor de R$ 17.173.333,33. Já no milho silagem, as perdas totalizaram 55.170 toneladas. Considerando um valor de R$ 265 por tonelada, totalizam-se perdas para o milho silagem no montante de R$ 14.620.050,00.
Perdas Trigo
A cultura do trigo, conforme o levantamento do IDR-Paraná, ocupa área de 85 hectares no município. As lavouras exploradas com a cultura no inverno 2021/21 apresentaram perdas decorrentes da estiagem e geadas. No entanto, estas perdas ficaram dentro do risco normal da cultura.
Perdas Pecuária de Leite
Estima-se uma redução de 25% na produção de leite em função da estiagem e geadas no período de safrinha 2021/21, com agravamento da situação devido à estiagem no período de verão 2021/22, que provocou redução drástica na produção de silagem e comprometeu o desenvolvimento das pastagens, conforme o IDR-Paraná.
O panorama que se verifica nas propriedades leiteiras é de severa redução do estoque de alimentos para o rebanho e elevação considerável nos custos de produção devido à necessidade de aquisição de fontes de alimento para o rebanho e à elevação nos custos dos grãos que oneraram o preço das rações. O valor de custeio da atividade no período elevou-se de forma significativa em vista da escassez de alimentos sem correspondência no valor de comercialização do leite, o que implicou em achatamento das margens de lucratividade da atividade, que já vinham espremidas em função da alta do preço dos grãos.
A quebra de 25% na produtividade representa uma redução de produção de 4.970.000 litros. Considerando um preço médio praticado ao produtor de R$ 2,20/litro, a redução representa um montante de perdas de R$ 10.934.000,00.
Perdas Pecuária de Corte
A pecuária de corte é uma atividade de menor expressão em Quatro Pontes, segundo o estudo do IDR-Paraná. Enfrenta perdas semelhantes às observadas na atividade de bovinocultura leiteira e da mesma forma teve seu custo de produção elevado em função da escassez de alimentos provocada pelas intempéries climáticas observadas.
Outras Atividades
As cadeias produtivas da avicultura de corte, suinocultura e piscicultura, conforme o IDR-Paraná, apesar de serem menos afetadas diretamente do que as atividades acima relacionadas, também estão sob atenção em função das condições climáticas adversas verificadas.
Na atividade da piscicultura, os produtores verificam diminuição das fontes de água utilizadas na atividade. Para tanto, estão monitorando permanentemente as condições da água usada na criação, bem como reforçando as medidas necessárias à racionalização do consumo.
As atividades de avicultura e suinocultura também têm adotado medidas para reforçar a racionalização do consumo dentro do possível. Todas essas atividades serão impactadas fortemente devido à escassez e aumento das cotações de grãos, que provocará aumento dos custos das rações e consequentemente dos custos de produção.
Decreto Situação de Emergência
Solidarizando-se com as pessoas que mais sofrem com o período de estiagem, o prefeito em exercício, Tiago Hansel, assinou na quarta-feira (05) o decreto em que Quatro Pontes adere ao decreto nº 10.002/2021, publicado no dia 30 de dezembro pelo Governo do Estado, o qual declarou que todo o Paraná encontra-se em “Situação de Emergência” causada pela crise hídrica decorrente da falta de chuvas nos últimos dois anos. O documento está publicado no Diário Oficial, podendo ser acessado no site oficial, no endereço www.quatropontes.pr.gov.br.
No decreto municipal nº 005/2022, o Município de Quatro Pontes declara, então, a existência de situação anormal provocada por desastre, na espécie estiagem hídrica, culminando com a caracterização de “Situação de Emergência”, válida em todo o território do município. Ainda confirma-se a mobilização do Sistema Nacional de Defesa Civil, sob a coordenação da Comissão de Defesa Civil (COMDEC) de Quatro Pontes, e autoriza-se o desencadeamento do Plano Emergencial de Resposta aos Desastres, após adaptado à situação real desse desastre. O decreto vigorará por 30 dias.
Mobilização
O secretário de Desenvolvimento Econômico, Davi Boufleuher, diz que foi feita série de reuniões e conversas com os agricultores e representantes do Sindicato Rural, sendo constatado que as perdas realmente são grandes. “O município vai fazer de tudo para tentar suavizar essas perdas. O primeiro passo foi o decreto de situação de emergência, já assinado pelo prefeito em exercício, solidarizando-se aos munícipes. Com isso, os agricultores também podem verificar a possibilidade de prorrogação de dívidas, bem como financiamentos. Estamos à disposição”, afirma.
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