Passeios revelam a história de negros em São Paulo
Sob a curadoria da plataforma de afroturismo Guia Negro, o Estadão fez uma caminhada pelo centro da capital no dia 15, seguindo os pontos pretos do mapa. O encontro é na Praça da Liberdade. Nos séculos 18 e 19, o local era o Largo da Forca, onde negros e indígenas eram castigados. Isso está sinalizado com uma placa de 35 centímetros de diâmetro na saída lateral do metrô.
O marco cita as execuções, entre elas a de Francisco José das Chagas, o Chaguinhas, cabo negro condenado por liderar um motim pela falta de soldo. Após a corda arrebentar duas vezes, as pessoas passaram a gritar “Liberdade”.
Descendo a Rua dos Estudantes, está a Capela de Nossa Senhora dos Aflitos. Ela é o que restou do local que recebeu indigentes e condenados à forca, a maioria escravizados fugitivos entre 1775 a 1858. É ali que está enterrado Chaguinhas, que virou santo popular e ainda atrai visitantes.
Outro passeio na cidade é o “Volta Negra”, do coletivo Cartografia Negra. O início da caminhada de nove pontos é o Largo da Memória, no Anhangabaú. Ali, no Obelisco de Piques, funcionavam feiras e leilões para vender pessoas escravizadas até o fim do século 19. Há uma placa de identificação, que não cita o leilão. Outro ponto é o Largo da Misericórdia. Construído pelo arquiteto e engenheiro negro Joaquim Pinto de Oliveira, o Tebas, em 1792, o largo era um lugar onde mulheres e homens negros se reuniam para conversar e organizar maneiras de resistir à escravidão.
MINORIA. As estátuas recebem atenção especial nos roteiros. Segundo a pesquisa “A presença negra nos espaços públicos de São Paulo”, do Instituto Pólis, a cidade tem 367. Delas, só 6 são de figuras negras, menos de 3% do total.
A estátua de Zumbi dos Palmares tem 1,67 m (2,2 m, considerando o punho erguido). Ela divide o espaço com o coreto da Praça Antonio Prado e está ao lado das mesas do bar e restaurante Salve Jorge. Já a estátua de Borba Gato, em Santo Amaro, tem 10 metros (13 m com o pedestal).
Em outros casos, as estátuas são controversas, como uma “mãe preta” do Largo do Paiçandu, referência às amas de leite. É a única estátua de uma mulher negra em São Paulo. “Essa representação reforça a ideia de subalternidade das mulheres negras”, explica o produtor cultural e guia turístico Heitor Salatiel, do Guia Negro. Para os pesquisadores, a sub-representação de negros e indígenas evidencia o racismo estrutural.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Comentários estão fechados.