Do Oeste para o mundo: conhecimento sobre conversação de solos é aplicado em fazenda da África
O Dia Mundial do Agrônomo é celebrado em 13 de setembro. A data é uma forma de homenagear os profissionais que atuam nesse vasto setor que é predominante na região Oeste do Estado. Técnicas aplicadas aqui – como a conversação de solos – já estão percorrendo outros continentes e fazendo com que o conhecimento técnico dos profissionais do Oeste possam ser aplicados e gerar frutos em países como a África.
Um dos profissionais que aceitou o desafio de levar as técnicas e os conhecimentos do Paraná – para uma fazenda em Angola – foi o consultor, Adalberto Telesca Barbosa. Após aceitar o convite de um escritório de lá, ele embarcou nessa aventura de conhecimentos e oportunidades.
Ao todo foram três visitas na fazenda localizada em Angola, na província de Malanje, município de Cacuso. A primeira ocorreu em 2021, depois 2023 e a última foi neste ano. Barbosa explica que o projeto de conservação de solo/curvas de nível foi elaborado pelo professor Gláucio Roloff, enquanto Barbosa foi até a África para a implantação.
“Aqui no Oeste do Paraná, na década de 80, nós tivemos grandes problemas com erosão, que estava levando todo o solo embora para os rios, em função das chuvas pesadas. A partir dali criou-se um conhecimento, depois a pesquisa validou esse conhecimento – de fazer estruturas de conservação de solo que barrassem esse processo erosivo. Esse processo se consolidou como uma estratégia eficiente do controle do erosivo, estamos falando das curvas de nível”, explica.
Barbosa recorda que, na época dos anos 2000 foi consolidando o plantio direto e as curvas de nível continuaram a fazer o seu efeito. “Hoje, nas lavouras, mesmo no plantio direto, existem curvas de nível. Lá em Angola, na província de Malanje, município de Cacuso, algumas fazendas estão se instalando e nos primeiros anos de cultivo eles começaram a ter problemas de erosão e, com isso, eles buscaram aqui no Brasil esse conhecimento: a partir daquilo que nós já tínhamos para implantarmos um projeto de conservação do solo”.
O clima do local de implantação do projeto equivale ao clima do cerrado brasileiro, ou seja, têm uma estação seca no inverno e as chuvas começam no final de setembro e vão até março, abril. Segundo Barbosa, neste período eles fazem duas safras. “Como lá a altitude é elevada, eles estão com 900 metros de altitude nessa fazenda que nós tivemos. Eles têm uma alta produtividade de milho, estão conseguindo altas produções. Como é um país que não produz, os preços dos produtos agrícolas são bem superiores. Contudo, ainda estão em um estágio mais atrasado que o nosso”, aponta.
DE FASE EM FASE – A primeira visita envolveu o processo de iniciação do projeto de conservação de solo, pois a técnica foi iniciada do zero. Já na segunda foi a etapa de supervisão e para a consolidação do trabalho. Enquanto que na última visita, o grupo foi para encerrar a participação nesse trabalho específico, além de trocar mais experiências.
Barbosa explica que foi feito o trabalho de demarcação, as capacitações para eles internalizarem o processo, pois não envolve apenas as curvas de nível. Ele comenta que foi explicado como trabalhar em nível, a necessidade de manter palha, de não colocar fogo – lá o fogo ainda é algo muito utilizado como manejo e o grupo tentou ir desmistificando isso.
“Nessa última visita constatamos que a fazenda está com 2.500 hectares abertos, a meta deles é ter 5.000 hectares de plantio. Eles estão implantando inclusive irrigação com pivô central, ou seja, usando alta tecnologia num país que ainda está iniciando um processo de agricultura, porque, até agora, a agricultura deles é de subsistência, uma agricultura primitiva. Neste terceiro ano de projeto, foi possível notar que o conceito já está sendo internalizado. Já vem a conservação do solo como uma coisa importante no processo”, pontua.
UM CONTINENTE DE OPORTUNIDADES – Para o consultor, a África é um continente de oportunidades, inclusive para brasileiros. Ele relata que obteve a informação de que 17 mil brasileiros trabalhando em funções na capital Luanda e nas fazendas que visitou; com isso, existe o interesse pelo conhecimento que o brasileiro tem em relação a agricultura tropical.
“É importante alertar que a África é um continente que precisa de ajuda, eles ainda passam muitas dificuldades. O mundo precisa olhar para isso e ver como estratégias, mas não com doações, eu acredito que doações não resolvem a questão. Nós precisamos ter uma forma de ajudá-los a se incorporarem em um processo produtivo. Porque eles têm um solo altamente produtivo, o clima deles equivale ao do cerrado – que precisa ser trabalhado da maneira correta – para que, já neste início, sejam implantados sistemas de desenvolvimentos sustentáveis. Em contrapartida, isso acaba sendo uma oportunidade para os brasileiros que atuam nessa área”, destaca.
Barbosa comenta que no local que estava ainda não é possível adquirir terras. “Parece que são concessões, lá o governo dá concessões da terra. Mas a partir do momento que tiver qualquer avanço de que consiga adquirir propriedades, o Brasil, com certeza, com o conhecimento que tem, porque agora lá já está tendo infraestruturas, já tem empresas lá, a África está pronta para desenvolver um processo”, conclui ao reforçar que a agricultura fomenta o mundo e os conhecimentos devem ser aplicados em prol de um sistema sustentável.
Da Redação
TOLEDO