‘O Partido Novo tem um problema de identidade’, diz Amoêdo
Como o sr. avalia o veto a seu retorno à Executiva do partido?
O Diretório Nacional é composto por seis pessoas. Eu precisaria de 2/3, ou seja, quatro votos, e tive apenas três. Ficou claro que a narrativa de que eu mando no partido não é verdadeira. Isso tem sido usado para atacar a mim e ao Novo. Tenho visões políticas diferentes de alguns membros do diretório.
O Novo perdeu a identidade?
Quando a gente montou o Novo, a concepção era ser uma esperança para as pessoas por estar inovando na política. Era ser um partido sem agendas pessoais, políticos profissionais e com uma unidade de atuação. O fato é que o Novo tem um problema de identidade, e isso ficou claro nos últimos tempos. O partido precisa reencontrar o seu caminho original.
Qual seria esse caminho?
Em primeiro lugar, é preciso ter unidade em temas relevantes. Não dá para ter posições diferentes sobre o apoio ou não ao governo Bolsonaro. Depois de mil dias de governo e de tudo que ele fez, não dá para se colocar em uma posição de independência em relação ao governo Bolsonaro. Isso traz uma confusão para o partido entre filiados, apoiadores e, certamente, para os eleitores. Afinal de contas, o Novo é um partido de oposição ao governo Bolsonaro ou é linha auxiliar? Isso não está claro para mim como filiado. A maioria da população não quer esse governo. O Bolsonaro vai contra todos os valores e princípios e valores do Novo.
Os deputados do Novo que apoiam posições semelhantes às de Bolsonaro entraram na “roda-viva” da política?
Não sei dos detalhes da vida parlamentar deles, mas nossa visão é de longo prazo. Não podemos cair na mesma sistemática da velha política que a gente nasceu para combater. Caso contrário, o Novo vai ser mais um partido pequeno, que as pessoas usam para suas agendas pessoais. O fato de o Novo não usar dinheiro público é o início do processo, mas não é o suficiente. Precisamos nos afastar de governos ruins, ainda que populares. Há uma armadilha eleitoral nesse processo. Tenho dificuldade em entender os mandatários do Novo que não veem razão ou crimes para pedir impeachment. Há um cálculo eleitoral.
A maioria da bancada do Novo votou favoravelmente ao voto impresso, uma bandeira de Bolsonaro. Esse é um retrato do que o partido virou?
O partido, como instituição, se colocou contra (o voto impresso), mas não adianta abraçar uma tese se ela não é referendada pelos mandatários, especialmente da bancada federal. Isso cria na cabeça de todos os formadores de opinião, filiados e apoiadores uma dúvida: mas, afinal, qual é o partido? É esse da instituição ou aquele que na prática vota de outra forma? O Novo se colocou, como eu defendo, em oposição frontal em relação ao governo.
Como avalia a relação do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, com Bolsonaro?
Ele fez um vídeo (na segunda-feira) no qual faz agressões fortes a mim, mas sem citar meu nome. O governador teve uma atitude muito machista. Disse que eu pareço aquela mulher que o marido se divorciou, mas não consegue deixá-lo em paz. Ele está muito incomodado porque faço críticas ao governo Bolsonaro e adotou uma narrativa fora da realidade: de que eu não teria me conformado por ter perdido a eleição em 2018. Isso passa longe da verdade. Fica claro, infelizmente, que Zema tem um viés de apoio ao Bolsonaro. Isso torna ainda mais complexo o quadro do Novo. Deveríamos deixar de lado os cálculos eleitorais e fazer o que é o certo.
Pretende mudar de partido?
Eu me coloquei à disposição para ajudar no Novo, a partir do diagnóstico de que o partido não está bem. Essa via não funcionou. Não fui aceito. Por enquanto vou continuar filiado. Deu muito trabalho fazer um partido diferente. Foram dez anos de dedicação. Mas, como filiado, fico restrito em como ajudar. Pretendo trabalhar com pessoas como (Luiz Henrique) Mandetta, (Sérgio) Moro e (Carlos Alberto dos) Santos Cruz para encontrar a terceira via. Já passou da hora.
Foi uma decisão sua deixar a presidência do Novo, já que seu mandato não tinha acabado. Por que mudou de ideia?
Fui eleito por unanimidade por todos os diretórios. Meu mandato iria até 2023. Saí porque queria um pouco mais de tempo depois de dez anos dedicados ao partido. Em segundo lugar, porque eu queria mostrar que construímos uma cultura dentro da organização na qual ela podia andar dentro dos princípios nos quais o partido foi concebido e que eu não era a pessoa que mandava no Novo. Mas, vendo hoje, essa cultura ainda está em construção.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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