Jornalista do MT vai à PF pedir investigação de ameaças que atribui ao governador
A versão do jornalista é a de que um detetive particular teria sido contratado para incriminá-lo por tráfico de drogas e abuso sexual de menores. Os mandantes seriam o governador Mauro Mendes (DEM), a primeira-dama Virgínia Mendes e o publicitário Ziad Fares, dono da ZF Comunicação, uma das agências contratadas pelo Estado com dispensa de licitação.
Procurado, o governador de Mato Grosso, por meio de sua assessoria, reagiu enfaticamente e negou ligação com o suposto plano contra o jornalista. Segundo o governador, o jornalista é financiado por seus adversários e ‘agentes políticos com contrato vultuoso’. Também informou que já registrou boletim de ocorrência contra Aprá por calúnia.
À Polícia Federal, Aprá disse que recebeu avisos de colegas para deixar de publicar as reportagens sobre as contas do governo. “Sem qualquer estrutura de segurança, o jornalista vai deixar o Estado, temendo pela sua segurança, não está conseguindo dormir e sofrendo danos psicológicos inenarráveis”, comunicou aos policiais federais.
Ainda segundo as informações prestadas, quando soube do suposto plano, infiltrou um amigo para se aproximar do detetive Ivancury Barbosa e colher provas. O jornalista reuniu gravações de áudio e vídeo em que o detetive fala sobre a investigação contra ele, admitindo inclusive ter colocado um GPS em seu carro para rastreá-lo. O amigo dele também deixou o Mato Grosso após ajudar o jornalista.
Ao Estadão, Aprá disse que espera uma apuração rápida para poder retornar ao Mato Grosso. “Para que eu me sinta seguro para voltar”, afirmou. Embora tenha pedido para entrar no programa de proteção a testemunhas, ele ainda não recebeu nenhuma atualização sobre o requerimento. Ele também afirmou que ‘é de se estranhar que o governador queira processar o jornalista ameaçado e não tenha falado nada sobre o detetive’.
A um portal de notícias local, o detetive negou ter intenção de matar jornalista. Barbosa reconheceu ter sido contratado para investigá-lo, mas não revelou o objetivo da apuração e quem o financiou. Também negou que tenham sido o governador, a primeira-dama e o publicitário Ziad Fares. O publicitário também foi ouvido pelo site e disse que a denúncia ‘não corresponde com a verdade’.
Em nota conjunta, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e o Sindicato dos Jornalistas do Estado de Mato Grosso repudiaram as ameaças, prestaram solidariedade a Aprá e cobraram a investigação da denúncia.
“Diante da gravidade da situação, a FENAJ e o Sindicato dos Jornalistas de MT exigem celeridade nas investigações. A liberdade de imprensa está sendo atacada e o direito da sociedade à informação está sendo desrespeitado. Alexandre Aprá está sofrendo prejuízos à sua atividade profissional e também à sua vida pessoal. A ação das autoridades competentes é, portanto, urgente. A liberdade de imprensa é imprescindível à democracia”, diz o texto.
COM A PALAVRA, O GOVERNADOR E A PRIMEIRA-DAMA
“É mentirosa e caluniosa a versão de que o Sr. Mauro Mendes e Sra. Virgínia Mendes teriam participado de suposta contratação de “detetive” para flagrar o envolvimento do Sr. Alexandre Aprá com drogas e pedofilia.
São várias as investidas do Sr. Alexandre Aprá contra a honra do Sr. Mauro Mendes e de sua família. No ano de 2020, o Tribunal de Justiça de Mato Grosso o condenou a pena de 1 ano e 3 meses de detenção pela prática do crime de calúnia. Em julho deste ano, ele se tornou réu pelo crime de difamação, ao distorcer a verdade sobre um anel com pedra de zircônia, avaliado em R$ 1.200,00, que a Sr. Virgínia Mendes recebera de presente de aniversário, em 2019, de um amigo de 20 anos.
Novamente, o Sr. Alexandre Aprá, que é financiado por agentes políticos e adversários com contrato vultuoso, incompatível com a pequena estrutura de seu blog, volta a atacar a reputação do Sr. Mauro Mendes e de sua esposa. Será mais uma vez processado por calúnia.”
COM A PALAVRA, O PUBLICITÁRIO ZIAD FARES
A reportagem entrou em contato com a ZF Comunicação e aguarda resposta. O espaço está aberto para manifestação.
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