Isolamento social também trouxe consequências para a saúde dos olhos

Trabalhar, estudar, conversar com os amigos e com a família, assistir a shows, fazer compras. Ao longo de quase dois anos de pandemia, as pessoas passaram a fazer tudo isso pelo computador e smartphone. Resultado: o tempo de permanência diante das telas aumentou. Tais comportamentos, assim como o uso frequente de máscaras e a redução de visitas ao oftalmologista nesse período, trouxeram consequências para a saúde dos olhos. No mês de prevenção, conscientização e combate às doenças que causam cegueira, o chamado “Abril Marrom”, especialistas reforçam a importância de mudar os hábitos com o fim do confinamento. “São doenças que podem ser prevenidas e, se descobertas a tempo, tratadas, mas precisam de acompanhamento, já que podem evoluir rapidamente, dependendo do caso. Nesse momento, com os casos de covid-19 sob controle, já percebemos um aumento na procura e isso é fundamental para que não haja progressão de doenças como glaucoma e catarata, por exemplo”, afirma Carlos Augusto Moreira Neto, médico oftalmologista do Hospital de Olhos do Paraná.

A campanha Abril Marrom foi instituída no estado pela lei 19.097/2017, proposta na Assembleia Legislativa do Paraná pelo deputado Dr. Batista (União) em parceria com o então deputado estadual Schiavinato, mais tarde eleito deputado federal, que faleceu em decorrência da Covid-19 no ano passado. “As pessoas precisam entender como é importante detectar as suas doenças em fase inicial. Até mesmo um câncer nos olhos pode ser curado totalmente, se for descoberto no início. Por isso, transformamos o mês de abril em um período de ações para alertar as pessoas”, destaca Dr. Batista.

Como parte dessas ações, na próxima quarta-feira (13), durante o horário do Grande Expediente da sessão plenária, a campanha Abril Marrom será abordada pelo médico oftalmologista Hamilton Moreira, a convite do deputado Dr. Batista.

Um estudo feito por um grupo de mais de 50 especialistas em oftalmologia de Portugal e Espanha, apontou que 78% dos participantes apresentaram piora da saúde ocular durante a pandemia, sendo a miopia e o olho seco os principais distúrbios. Outras patologias graves, como a Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI), Retinopatia Diabética ou Glaucoma, também foram identificadas e, conforme afirmam os especialistas, se não forem tratadas a tempo, podem evoluir levando a perda da visão.   Apesar da pesquisa ter sido realizada na Europa, ela traz dados importantes, principalmente se considerarmos que 34% dos brasileiros nunca foram ao oftalmologista e mais de 35 milhões apresentam algum tipo de problema de visão.

Segundo o documento “As Condições da Saúde Ocular no Brasil 2019“, elaborado pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), naquele ano, a cegueira já atingia 1.577.016 de brasileiros, o equivalente a 0,75% da população, sendo que destes, 74,8% destes casos poderiam ter sido prevenidos ou curados, se tratados a tempo.

Queda acentuada

Em se tratando apenas de catarata, o Sistema Único de Saúde (SUS) fez 148,8 mil procedimentos cirúrgicos ambulatoriais e 12,8 mil cirurgias com internações hospitalares entre janeiro e maio de 2020. Números que parecem altos, mas que são bem inferiores aos de 2019, antes da pandemia, quando foram feitos 232,6 mil procedimentos e 23,6 mil cirurgias.  Em relação às consultas oftalmológicas, entre janeiro e maio de 2020, foram 2,5 milhões — em 2019, totalizaram 3,9 milhões e em 2018, 3,6 milhões. “Eu costumo dizer ‘distanciamento social sim, distanciamento da saúde, jamais”, alerta Dr. Batista.

Em razão da pandemia, muitas cirurgias eletivas deixaram de ser realizadas.

A pandemia e os olhos

Como causa dos problemas de visão no período de pandemia, os especialistas indicaram principalmente o uso frequente de máscaras, que aumenta a secura dos olhos, associado ao aumento do tempo diante das telas e à diminuição de visitas ao oftalmologista, provocada pelo medo de sair de casa. “Estima-se que no futuro poderemos ter uma epidemia de miopia, porque as crianças estão deixando de realizar atividades em ambientes abertos, que estimulam a visão para longe, como jogar bola ou brincar em praças, para ficar em celulares e computadores, que estimulam somente a visão para perto”, alerta o oftalmologista Carlos Moreira Neto.

Como evitar problemas visuais no pós-pandemia

Mesmo com a vida voltando ao período pré-pandemia, muitas empresas estão adotando o trabalho remoto e, em menor número, escolas e universidades têm aderido ao ensino híbrido. Dessa forma, os oftalmologistas orientam que as pessoas que trabalham com o computador, assim como os jovens e as crianças que passam muito tempo diante das telas, precisam fazer pausas de dois a três minutos a cada hora, para descansar a vista.  “O ideal são, no máximo, duas horas por dia em equipamentos eletrônicos e, no mínimo, duas horas por dia em ambientes externos. Esse tempo pode variar, dependendo da idade da criança, mas deve ficar nessa média”, indica o médico.

Para quem trabalha em regime de home office, a dica é se atentar para a posição da mesa para evitar os reflexos de luz e cuidar da iluminação e da ventilação, uma vez que a secura do ambiente pode piorar o olho seco.  Outra dica é tentar não ficar muito tempo sem piscar, para manter os olhos lubrificados. Uma alternativa é o uso de lágrimas artificiais, sempre sob orientação médica.

Da Assembleia Legislativa Do Estado Do Paraná

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