Insatisfação de técnicos e jogadores foi decisiva para queda da Superliga

A pressão de treinadores e jogadores foi decisiva para que o projeto de criação da Superliga Europeia não saísse do papel. Logo após o anúncio do surgimento do torneio com 12 dos maiores clubes do continente, no domingo, já começaram as primeiras reações negativas. A insatisfação aumentou no dia seguinte com a ameaça da Uefa de que atletas de Arsenal, Chelsea, Liverpool, Manchester United, Manchester City, Tottenham, Atlético de Madrid, Barcelona, Real Madrid, Milan, Internazionale e Juventus poderiam ser impedidos de disputar Eurocopa e Copa do Mundo.

Acuados, os clubes, então, começaram a anunciar suas saídas da Superliga já na terça-feira. O Manchester City puxou a fila e foi seguido pelos demais clubes ingleses. Nesta quarta-feira, foi a vez de Atlético de Madrid, Milan, Internazionale e Juventus pularem do barco.

Entre as reações de protesto que mais chamaram atenção está o comunicado conjunto dos jogadores do Liverpool divulgado na terça-feira. “Nós não gostamos disso e não queremos que aconteça. Esta é a nossa posição coletiva. Nosso compromisso com este clube de futebol e com seus torcedores é absoluto e incondicional. Você nunca andará sozinho”, dizia a nota, finalizando com o lema do clube (“You Will Never Walk Alone”).

O treinador do Liverpool, Jürgen Klopp, confessou não ter sido “consultado” pelo clube. Ele, inclusive, disse ser adepto do “aspecto competitivo do futebol”, em comparação com uma liga privada. “Adoro a ideia de que o West Ham (atualmente em quinto lugar no Campeonato Inglês) pode jogar a Liga dos Campeões na próxima temporada. Não quero que eles se classifiquem para ser honesto, porque nós também queremos estar lá, mas quero que eles tenham uma chance”.

O temor dos clubes fundadores da Superliga era de que os contratos dos jogadores poderiam ser anulados. Inclusive com a possibilidade de alguns atletas buscarem na Justiça a quebra dos seus acordos por justa causa, alegando que estariam impedidos de disputar campeonatos nacionais e representar as respectivas seleções.

Além de se organizarem nos bastidores, atletas e treinadores decidiram criticar a Superliga publicamente. O português Bruno Fernandes, estrela do Manchester United, compartilhou no seu perfil do Instagram uma mensagem em defesa da Liga dos Campeões, acrescentando o comentário de que “os sonhos não se compram”.

O espanhol Gerard Piqué, zagueiro do Barcelona, seguiu a mesma linha. “O futebol pertence aos seus torcedores. Hoje mais do que nunca”, tuitou.

Ronald Koeman, técnico do Barcelona, acompanhou a opinião de Piqué, mas foi além e também criticou a Uefa. “Há jogadores que participaram de uma quantidade incrível de jogos. Se fala de Superliga, Liga dos Campeões, mas a Uefa ignora os atletas que realizam muitas partidas. Só o dinheiro importa. Estou de acordo com o tuíte de Piqué”, disse.

Ao longo dos últimos dias, o técnico do Manchester City, Pep Guardiola, foi uma das vozes mais contundentes contra a Superliga: “Esporte não é esporte quando não há relação entre esforço e recompensa. Não é esporte se o sucesso é garantido ou se a derrota não é importante”, declarou.

Na Itália, o técnico do Sassuolo, Roberto De Zerbi, chegou a defender boicote contra o Milan. “Não quero jogar porque o Milan faz parte das equipes envolvidas (na Superliga)”, disse. Ex-jogador do Milan, ele chegou a chamar de “golpe” a tentativa dos 12 clubes de organizar uma liga independente. “Criar uma Superliga com equipes que decidem quem entra e quem fica de fora tira todo o significado do futebol”.

Campeão mundial de 2014, o alemão Lukas Podolski classificou a iniciativa como um “projeto nojento e injusto”. Ex-jogador de Arsenal e Inter de Milão, atualmente ele defende o Antalyaspor, da Turquia. “Estou desapontado com o envolvimento de clubes nos quais atuei”, disse.

Mesut Özil, também campeão mundial em 2014 com a seleção da Alemanha, foi outro que bateu forte na Superliga. “As crianças sonham em conquistar a Copa do Mundo ou a Liga dos Campeões, não qualquer Superliga. O prazer dos grandes jogos é que nós os disputamos uma ou duas vezes por ano, não todas as semanas”, disse o ex-jogador do Arsenal, hoje no Fenerbahçe, da Turquia.

Ander Herrera, jogador espanhol do Paris Saint-Germain, pensa de forma semelhante: “Me apaixonei pelo futebol popular, pelo futebol dos torcedores, pelo sonho de ver a equipe do meu coração competir contra os maiores. Se esta Superliga avançar, acabarão com esses sonhos. Os ricos roubaram o que o povo criou, que nada mais é do que o esporte mais lindo do planeta”.

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