Fotografia: Projeto registra produção de alimentos de agricultores familiares

Dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil desenvolvido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede Penssan) indicam que 19 milhões de brasileiros estão passando fome. Além disso, a pesquisa também aponta que metade da população do país, ou seja, 116,8 milhões, está em situação de insegurança alimentar, que é o não acesso pleno e permanente a alimentos.

Diante desses dados alarmantes, o professor do curso de Pedagogia do Campus de Cascavel da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Paulo Porto Borges, desenvolve um projeto de extensão que busca documentar a produção de alimentos de pequenos agricultores no Oeste do Paraná através de registros fotográficos. “A ideia surgiu a partir de um momento que o Brasil voltou ao mapa da fome, à medida que as pessoas se avolumam nos semáforos, nas portas das casas batendo palmas, mendigando comida que era o que não existia mais no Brasil. Infelizmente, o Brasil voltou a ter o flagelo da fome”, destaca.

Segundo o professor, o projeto tem objetivo de dar visibilidade para a produção de comida nos espaços da reforma agrária. “Criar uma narrativa imagética a partir da fotografia em relação a produção de alimentos no Paraná, entendendo que quem produz o alimento abundante, barato e de qualidade, ao contrário do que se acredita, não é o chamado agronegócio, quem produz alimento é o pequeno produtor, o agricultor familiar, em especial os agricultores oriundos da reforma agrária”.

Registrar a produção de couve, almeirão, alface, rúcula, batata doce, cenoura, beterraba, cheiro verde, abobrinha, pepino, quiabo, mandioca, banana, milho e soja é o objetivo do projeto. Esses são os alimentos produzidos pela família de Eduardo Rodrigues, assentado da Reforma Agrária, no Assentamento Olga Benário em Santa Tereza do Oeste. A produção é destinada para a família, também é comercializada através de uma cooperativa organizada pelo MST, que leva os produtos para Escolas Estaduais e Municipais da região de Cascavel, além do que é comercializado no Armazém do Campo em Cascavel.

O projeto está ativo há cinco meses, porém a pandemia do novo coronavírus tem dificultado as atividades uma vez que elas exigem viagens às comunidades. Até o momento foram realizadas as visitas ao acampamento Resistência Camponesa, em Cascavel, à Lapa, em Curitiba, que é um assentamento modelo de agroecologia, e em Quedas do Iguaçu em uma distribuição de alimentos. A expectativa é que, com o controle da pandemia, seja possível visitar o maior número de assentamentos e acampamentos do Oeste do Paraná até o final desse ano. “Fizemos poucas visitas, mas a ideia é que assim que tivermos a vacina no braço, podemos documentar a comida no prato, que o slogan que algumas comunidades têm feito: nós queremos vacina no braço e comida no prato”, aponta Paulo.

Para divulgar os registros, foi criado o Instagram no Rasto da Fartura (@norastrodafartura) que já conta com algumas fotos das visitas. De acordo com o docente, ainda está prevista, quando a pandemia permitir, uma exposição volante nos campi da Unioeste para que o trabalho desenvolvido durante o projeto chegue à comunidade acadêmica. Também faz parte do projeto o professor Fábio Conterno, professor de Fotografia da FAG, além de outros fotógrafos que são agregados ao longo das atividades.

“A ideia é mostrar que existe saída, existe possibilidade de se criar um mundo onde as pessoas não passam fome. Mas, a criação desse mundo se faz por políticas públicas como a reforma agrária. Hoje não há mais dúvida que quem produz comida e renda é o pequeno agricultor e em especial nos espaços da reforma agrária”, finaliza.

Texto: Milena Griz

Supervisão: Patricia Bosso

CASCAVEL

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