‘Foi por vingança’, diz bisavó de criança estuprada e morta pelo padrasto
No dia 17 de dezembro de 2020, quando a encarregada de produção Franciele – neta de Ilza – voltou do trabalho para casa na hora do almoço, não encontrou a filha, que deixara sob os cuidados do seu companheiro, Cássio Camilo, de 27 anos. O homem disse à mulher que a criança tinha ido brincar na casa da vizinha. Ao falar com a vizinha, a mãe soube que Maria Clara não estivera no local.
O corpo foi encontrado no dia seguinte, enrolado em uma cortina de plástico e dentro de uma caixa de papelão, em um terreno baldio. A perícia indicou que a criança havia sido estuprada e asfixiada até a morte. O padrasto, que na mesma noite deixou a casa, foi preso em casa de parentes. No interrogatório ele confessou o crime em detalhes. Disse que matou a menina por ela ter feito “manha” ao não deixá-la brincar na vizinha.
Só depois admitiu o estupro, que praticou após deixar a menina desacordada, já que ela resistira. A polícia descobriu que o homem já havia sido acusado de estupro de outra enteada de 9 anos, em relacionamento anterior.
A bisavó de Maria Clara disse que os parentes já haviam alertado Franciele sobre o risco ao qual a bisneta estava exposta. “Todos diziam que ele não prestava, que não era flor que se cheirasse, mas a Fran (Franciele) gostava dele. Uma pessoa que ninguém sabia de onde veio. Até acontecer (a morte de Maria Clara), a gente não sabia da outra história do estupro”, disse.
Ilza lembrou que um dia antes de a criança ser morta, o casal teve um desentendimento feio. “Eles tinham brigado, ele tinha ameaçado ela. Ele fez isso (o assassinato) por vingança. Como eu lamento não ter segurado a pequena Maria comigo.” A bisavó lembra que, quando a menina desapareceu, outros familiares foram até sua casa à procura dela. “Naquela hora, a primeira coisa que veio na minha cabeça foi de que o Tom (apelido de Cássio) tinha feito alguma coisa com ela.”
O brutal assassinato revoltou os moradores do bairro Vila Real, onde a família morava. Familiares e vizinhos tentaram invadir o prédio da Polícia Civil onde o suspeito prestava depoimento. O padrasto foi denunciado pelo Ministério Público por estupro de vulnerável, homicídio qualificado e ocultação de cadáver. Ao ser ouvido em juízo, Cássio mudou a versão dada à polícia e negou o assassinato, afirmando que Maria Clara morreu após sofrer uma queda e ele escondeu o corpo com medo de ser acusado de homicídio.
Em janeiro, o juízo da 2ª Vara Judicial de Hortolândia acatou integralmente a denúncia da Promotoria. O acusado será levado a júri popular por homicídio qualificado, com várias agravantes, incluindo a de ser padrasto da vítima. O Estadão entrou em contato com o defensor de Cássio, mas não obteve retorno até a conclusão da reportagem. Também procurou a mãe de Maria Clara, mas Franciele informou que não falaria sobre o caso.
Panorama da Violência
A cada ano, sete mil crianças e adolescentes são mortos de forma violenta no Brasil e ao menos 45 mil são vítimas de violência sexual. Os números foram revelados pelo Panorama da Violência Letal e Sexual Contra Crianças e Adolescentes no Brasil, lançado nesta sexta-feira, 22, pelo Unicef, braço das Nações Unidas para a infância, e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
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