Foco na cultura popular
Sobre essa jornada cultural, Antonio Nóbrega, de 69 anos, fundador do Brincante junto com sua mulher, Rosane Almeida, afirma que este “é um evento multidisciplinar constituído de palestras, oficinas, aulões e performances distribuídas em duas semanas num total de 60 horas de atividades”. A finalidade do projeto, segundo Nóbrega, “é colocar a cultura no meio da roda, sobretudo a do mundo popular brasileiro tão mal compreendido, folclorizado”. Para conseguir fomentar esse debate cultural, o músico pernambucano destaca a participação de nomes expressivos, como Nei Lopes, Luís Antonio Simas, Stela Guedes, Klévisson Viana, Henrique Cazes, Antônio Meira, Flaira Ferro, entre outros.
Essa será também uma chance de mostrar a importância da cultura popular e o que se produz em regiões variadas pelo País. Exemplos desses estudos podem ser vistos em algumas oficinas, como a que será ministrada pelo poeta e ilustrador Klévisson Viana, e que levará o público ao mundo da literatura de cordel. Também a professora Silmara Cardoso vai revelar artefatos culturais dos povos indígenas, como grafismos, brinquedos e brincadeiras. Haverá ainda uma palestra com o músico carioca Nei Lopes, sobre um tema que domina plenamente: o samba e suas variações.
Para Nóbrega, essa variedade de atividades e temas é um retrato do Brasil, “um país habitado por dois mundos culturais: os valores e imaginário de um deles é de base europeia, ocidental, é globalizado, e o outro tem como base os imaginários indígena, africano e luso popular”. Continuando em sua análise, diz que esse primeiro é hegemônico, institucionalizado e oficializado, enquanto o segundo, subalternizado, informal e folclorizado. “Trazer à vista esse segundo, historicamente mal conhecido e pior compreendido, sim, é um dos objetivos da Jornada”, afirma.
E é o que mostra, na prática, em todas as atividades, a relevância de nossas raízes culturais. “Trazer uma compreensão não idealizada ou ufanista e tentar responder também à questão: em que medida as formas e os bens simbólicos do mundo cultural popular podem colaborar em dirimir as angústias e as distorções provocadas pelo mundo cultural mainstream?”, questiona o músico. Além disso, Nóbrega destaca a relevância de um evento como esse justamente no momento em que vivemos. “É tão absurdo, atroz, impensável o que estamos vivendo em relação à educação e cultura que eventos que discutam essas questões são indispensáveis.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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