Em 10 anos, Simeone criou ‘cholismo’ e anulou fama negativa do Atlético de Madrid
Simeone transformou o Atlético em um time forte e aguerrido, foi responsável por montar sistemas defensivos competentes e um contra-ataque mortal e encontrou o equilíbrio entre defesa e ataque. O “cholismo”, que pressupõe coragem, garra, concentração, confiança em derrubar gigantes e também a arte de viver o agora, partida a partida, despertou uma grande ilusão entre um torcedor que havia perdido as esperanças de ver seu time entre os melhores. Dez anos depois, pode-se dizer que cumpriu os seus objetivos e mudou a história do clube de Madri.
Simeone conseguiu implementar com sucesso suas ideias de jogo. Foi feliz em, sobretudo, passar aos atletas o seu jeito de agir e pensar que vai além do futebol. O “não deixar de acreditar” aplica-se quase diariamente como sinônimo de esforço, de luta e de solidariedade.
“O clube procurou um ex-jogador para voltar a animar os torcedores e se saiu muito bem”, recorda-se o ex-zagueiro Álvaro Domínguez, que foi atleta de Simeone em 2011, em entrevista ao podcast El Larguero.
Simeone foi contratado em 23 de dezembro de 2011 para resgatar o Atlético, imerso, na ocasião, em uma crise esportiva. Não pensou duas vezes em sair do Racing e topar o desafio de treinar um dos maiores clubes da Espanha e que ele conhecia bem, uma vez que teve uma passagem importante, de mais de quatro anos, como jogador por lá.
“Estou muito feliz, venho com esperança e alegria”, afirmara o treinador em sua apresentação sem saber que se tornaria um dos personagens mais importantes na história do clube espanhol, ostentando títulos, recordes e marcas expressivas.
A maior delas, sem dúvida, referem-se aos títulos. Ele é o técnico com o maior número de conquistas nos 118 anos do clube madrilenho. São oito troféus sob o seu comando: Liga Europa (2012 e 2018), Supercopa da Europa (2012 e 2018), Copa do Rei (2013), Supercopa da Espanha (2014) e Campeonato Espanhol (2014 e 2021). Cabe lembrar que, com Simeone, o Atlético chegou duas vezes à final da Liga dos Campeões, em 2014 e 2016, caindo em ambas as decisões para o Real Madrid.
O argentino é também técnico com o maior número de vitórias, com 326, na história dos “colchoneros”. São 551 jogos à beira do gramado. Apenas Luis Aragonés dirigiu o time de Madrid mais vezes, em 611 partidas.
Simeone pode se orgulhar de ter levado o Atlético a ser, nos últimos 17 anos, o único time a derrubar a hegemonia de Barcelona e Real Madrid e vencer o Campeonato Espanhol, o que ocorreu duas vezes na última década. Em 2014, a equipe alcançou o seu recorde de pontos (90) e na última temporada conquistou a liga nacional pela 11ª vez.
“Taticamente perfeito, concentrado e com muito caráter, era assim Diego Simeone enquanto jogador e é exatamente como é a sua equipe agora”, opinou Carlo Ancelotti, técnico do arquirrival Real Madrid.
O argentino teve a ajuda de brasileiros para alcançar o sucesso em Madri. Começou com Paulo Assunção, Diego Ribas e Miranda na conquista da Liga Europa de 2011/12 e passou por Filipe Luís e Diego Costa. Hoje, tem em seu elenco o zagueiro Felipe, o lateral-esquerdo Renan Lodi e o atacante Matheus Cunha. Para Diego Ribas, atualmente no Flamengo, o treinador é especial. “Simeone foi um dos melhores treinadores com quem eu já trabalhei por ser bom taticamente e, também, equilibrar isso com o lado pessoal. Sabe gerir muito bem o grupo”.
Mas como o Simeone foi capaz de transformar o Atlético em uma potência na Espanha capaz de bater de frente com Real e Barcelona e incomodar gigantes da Europa? A explicação, para além dos aspectos táticos e técnicos, está na mentalidade. “Ele chegou e caiu de pé no vestiário. Ele conquistou o respeito dele, aquele vestiário não era tão unido e ele harmonizou e mudou a mentalidade de quem estava lá. Ele se concentrou nos detalhes e na mentalidade de ‘aqui você não perde mais para o árbitro'”, explica Domínguez.
Prova disso é que “El Cholo”, apelido que ganhou graças ao estilo de jogo raçudo e aguerrido quando jogador, enterrou a expressão “El Pupas”, criada pelo ex-presidente Vicente Calderón para se referir à incapacidade que o time tinha de ser vencedor, falhando em momentos decisivos. A pecha, originada após derrota para o Bayern de Munique em 1974 na final da Taça dos Campeões da Europa, acompanhou a equipe por muitos anos, até Simeone, com sua mentalidade vencedora, afastá-la.
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