Eleição presidencial no Peru chega a reta final com empate técnico

A disputa presidencial no Peru chega a sua reta final sem uma definição clara de quem será o vencedor do pleito do dia 6 de junho. De acordo com uma pesquisa eleitoral do Datum, divulgada na sexta-feira, 28, os candidatos Pedro Castillo e Keiko Fujimori estão empatados tecnicamente, com uma vantagem discreta, dentro da margem de erro.

Castillo, candidato apoiado majoritariamente pela esquerda peruana, tem 42,6% dos votos, enquanto Keiko, filha do ex-ditador Alberto Fujimori, aparece com 41,7%. A diferença apresentada pela pesquisa de sexta-feira é a menor observada até agora, e mostra uma aproximação de Keiko a Castillo – ela subiu 1,6%, enquanto ele caiu 3,3%. A pesquisa teve margem de erro de 2,8%.

A campanha presidencial foi marcada pela polarização entre direita e esquerda, com pouco espaço para posições intermediárias. A sensação de descrença com o processo eleitoral pode ser observada no primeiro turno, que registrou baixo comparecimento. Para muitos, o voto no domingo será no sentido de “evitar o mal maior”.

O descrédito com a classe política é natural em um país que detém um recorde presidentes processados pela Justiça. Todos os presidentes que ocuparam o cargo desde 1985 acabaram sendo investigados, processados ou presos, com exceção dos presidentes interinos Valentín Paniagua (2000-2001) e Francisco Sagasti (2020-2021).

Acima de tudo, destaca-se Alberto Fujimori (1990-2000), cumprindo pena de 25 anos de prisão por crimes contra a humanidade e pela gigantesca rede de corrupção que, junto com seu super conselheiro Vladimiro Montesinos, instalou no aparelho de Estado. Com várias condenações e julgamentos ainda em curso, Fujimori virou tema da atual eleição por ser pai da candidata Keiko, que já prometeu indultá-lo caso seja eleita.

Keiko também escapará de um julgamento por suposta lavagem de dinheiro no financiamento de suas campanhas eleitorais anteriores, caso vença.

Relembre o que houve com os últimos presidentes do Peru

Após a saída de Fujimori, os demais presidentes que assumiram o governo peruano foram processados por casos de corrupção, sendo que pelo menos quatro deles envolvem a empreiteira brasileira Odebrecht. Desde 2016, Alejandro Toledo (2001-2006), Alan García (1985-1990 e 2006-2011), Ollanta Humala (2011-2016) e Pedro Pablo Kuczynski (2016 -2018) foram processador pelo caso.

Alejandro Toledo é acusada de ter recebido cerca de 34 milhões de dólares em propina da Odebrecht por meio de uma rede de empresas em paraísos fiscais, por meio das quais adquiriu imóveis milionários no Peru. No momento, Toledo está em liberdade na Califórnia, aguardando a Justiça dos Estados Unidos para avaliar sua extradição para o Peru, onde já aguarda uma ordem de prisão provisória de 18 meses enquanto é julgado.

Alan García se suicidou com um tiro na cabeça em 2019, quando ia ser detido pela polícia, depois que aliados começaram a confessar pagamentos da Odebrecht em contas do Banco Privado de Andorra (BPA). “Deixo o meu corpo em demonstração de desprezo pelos meus adversários”, dizia a nota escrita por García, que sempre sustentou que se tratava de uma perseguição política.

Ollanta Humala e sua esposa Nadine Heredia passaram quase dez meses em prisão provisória acusados de suposta lavagem de dinheiro em suas campanhas eleitorais por supostamente receberem 3 milhões de dólares da Odebrecht.

Enquanto Pedro Pablo Kuczynski (PPK) está em prisão domiciliar há dois anos, em meio a investigação por supostamente ter recebido dinheiro ilícito da Odebrecht quando era ministro no governo de Toledo. PPK, como é conhecido pela sigla, renunciou em 2018 para evitar ser removido pelo Congresso quando foi descoberto que ele teria ocultado esses pagamentos ilícitos em supostas consultorias fictícias.

Kuczynski foi substituído por seu vice-presidente Martín Vizcarra (2018-2020), que prometeu cortar toda a corrupção pela raiz até que uma série de supostos subornos que recebeu quando era governador da região sul de Moquegua (2011-2014) foram descoberto.

Foi esse o pretexto com que se agarrou o Congresso, dominado pela oposição, para retirar Vizcarra do cargo por “incapacidade moral permanente”.

No lugar dele, assumiu Manuel Merino, que ficou apenas cinco dias no cargo. Ele também está a ser julgado, sendo acusado de homicídio e ferimentos graves nas mortes de Into Sotelo e Bryan Pintado, dois jovens manifestantes mortos a tiros da polícia durante a repressão da grande manifestação de 14 de novembro que forçou a renúncia do presidente interino. (Com agências internacionais)

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