Demanda em alta e baixa oferta elevam o preço da tilápia na região
O valor pago ao produtor pela tilápia in natura atingiu a média de R$ 8,41/kg no Oeste do Paraná, conforme dados divulgados pelo Cepea – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada ESALQ na última terça-feira (3), sendo o preço referencial para tilápia viva, inteira e com média de peso de 800 gramas. A data é referente a 29 de dezembro do ano passado e a alta é o resultado da baixa oferta de peixes em peso ideal para o abate em frigoríficos e da demanda crescente no mercado doméstico.
Conforme o médico veterinário do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR), da regional de Toledo, Gelson Hein, diversas situações desencadearam esse ciclo de cultivo diferente, tendo como reflexo o inverno de 2022. “A estação não foi tão rigorosa na temperatura mínima no ano passado em relação a períodos anteriores e, por consequência, não chegou a ter mortalidade. Porém, foi uma estação com temperatura baixa em maior período. Isso fez com que o peixe não se alimentasse e, com isso, não se desenvolvesse. Exemplo: o produtor ainda estava comercializando a tilápia da safra do ano passado em meados de setembro e de outubro do ano passado”, comenta Hein.
FATORES – Sobre o abate da tilápia do produtor que não integra uma cooperativa, o frigorífico tem sentido essa diminuição desde o ano passado e diversos fatores interferem no processo, como a alta do preço da soja e do milho, pois os grãos são os responsáveis pelas produções de rações.
Outro fator que interfere é a diminuição do povoamento de tilápia. “É consequência dessa condição de que os custos estavam elevados e aparentemente não seria tão significativo, porque havia uma sobra razoável de peixe e a cadeia ficava girando normalmente”, afirma Hein.
No geral, o ano de 2022 foi um pouco atípico. Houve a redução no povoamento de tilápia e um inverno extremamente longo. “Em outubro do ano passado, não tínhamos uma nova produção, e sim, tínhamos um povoamento tardio. A tilápia estaria pronta somente a partir de fevereiro ou de março deste ano. Além disso, muitos alevinos estão sendo povoados agora”, exemplifica o médico veterinário.
Diante desta situação começa a faltar tilápia, porém é uma falta que o mercado está se ajustando, porque as cooperativas repassam seus produtos aos grandes estabelecimentos. Hein explica que enquanto as cooperativas da região abatem um volume com uma média de 400 toneladas por dia; a realidade tem sido diferente ao pequeno abatedor. “Atualmente, o frigorífico abate uma tilápia menor, mas ela já deveria estar pronta ou existe a espera para atingir o tamanho normal. O consumidor não sente a falta de peixe, porque a cooperativa disponibiliza a proteína o ano todo”, enfatiza o profissional.
REFLEXO – A diminuição da produção de tilápia por parte de frigoríficos tem alcançado as casas de pescado ou peixarias. A sócia proprietária de uma peixaria, em Toledo, Kauana Barbosa Duarte, salienta que houve a diminuição do repasse da tilápia para o varejo. “Essa diminuição sabemos por pessoas que atuam nos frigoríficos (são os nossos parceiros) e comentam conosco”.
Kauana também observa que os filés de tilápia estão menores e os valores subiram gradativamente no ano passado. “Com isso, o consumidor tem optado por outras espécies, também saborosas, e possuem um investimento menor. Porém, nós temos consumidores fieis a tilápia e pagam o valor”.
Sobre o assunto, Hein pondera que os pequenos frigoríficos nem sempre possuem um produtor, considerado ‘fiel’. “Em um momento de compra e de venda, o preço será o responsável no negócio. ‘Quem paga mais leva’. Nessa condição tem um aumento do preço do peixe pago ao produtor devido à falta da proteína. A curva de pagamento tem elevado toda a semana. Para o produtor isso é excelente, mas os pequenos frigoríficos estão passando um aperto grande”.
NORMALIDADE – Em 2022 teve o aumento de preço pago ao produtor (não integrado a uma cooperativa) e uma queda do peso do abate. “A dificuldade está para o frigorífico. Ele tem produto para abater uma semana, dez dias ou no máximo duas semanas. Isso faz com que os frigoríficos da região busquem peixes em áreas mais distantes do que a normal”.
Hein menciona que existe a expectativa para o mercado normalizar, contudo, em 2023, uma situação agrava o processo. “Com um inverno mais longo, as fêmeas demoraram para repovoar, isto é, elas entraram na reprodução mais tarde. A nova safra de alevinos entrou para engorda a partir de dezembro de 2022 e preciso de instabilidade de no mínimo 60 dias. Mas, essa tilápia já deveria estar pronta para a venda. Enquanto isso, as cooperativas são as responsáveis por abastecer o mercado consumidor”.
Segundo o médico veterinário, essa situação pode ainda refletir na Quaresma deste ano. “O produtor que não faz parte de uma cooperativa não possui uma tilápia pronta com a mesma condição de anos anteriores. Peixe não faltará no mercado, porém deverá ocorrer uma diminuição no volume”.
Da Redação
TOLEDO