De CEO a líder indígena, pavilhão expõe Brasil diverso na Escócia

Existe um Brasil livre dos discursos de ódio. Ele fica na Escócia e faz fronteira com os Emirados Árabes. É o Brazil Climate Action Hub, o pavilhão da sociedade civil na COP-26 de Glasgow – o lugar onde o Greenpeace esbarra com o agronegócio, o influencer do Complexo do Alemão conversa com banqueiros, e empresários discutem com cientistas como melhorar suas práticas ambientais.

O Brasil tem dois pavilhões na COP, o “oficial” e este da sociedade civil, muito mais movimentado – e frequentemente lotado. Quem não consegue entrar acompanha as mesas de debates pelas paredes envidraçadas. De tempos em tempos o corredor entope, e seguranças escoceses aparecem para liberar o caminho. Não raro a agitação transborda para o estande vizinho, dos Emirados Árabes, transformado numa espécie de lounge dos brasileiros.

O pavilhão reflete a diversidade dos brasileiros fora da delegação oficial. Trata-se do maior contingente de jovens, empresários, populações tradicionais, representantes do agronegócio e movimento negro que já participaram de uma conferência do clima. Já o pavilhão oficial só ficou cheio quando o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, fez anúncios na terça-feira.

“O Brazil Climate Hub acabou se tornando um grande ponto de encontro, e era mesmo essa a intenção”, diz a economista Ana Toni, diretora do Instituto Clima e Sociedade e uma das anfitriãs do estande. Num único dia, passaram por lá líderes empresariais, como Marcello Brito, da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG); especialistas em desmatamento, como Tasso Azevedo, da MapBiomas; e representantes do terceiro setor, como Ilona Szabó, do Instituto Igarapé.

Outro momento movimentado foi a noite em que o Brazil Climate Hub recebeu a visita da líder indígena Txai Suruí, a única brasileira a discursar na abertura do evento, em meio a vários chefes de Estado. Txai e Marcello Brito conversaram sobre os planos de lançar uma nova marca de chocolate com o cacau produzido pelos paiter-suruí. Brito esteve nas COPs de Paris e Madri. Esta é sua terceira Conferência do Clima. Nunca houve tantos empresários numa COP. “Antes as companhias mandavam gerentes. Agora vêm os diretores e até CEOs”, diz José Carlos da Fonseca, diretor executivo da Ibá, Indústria Brasileira de Árvores. Ele acompanha o circuito ambiental desde a Rio 92 – fez carreira na área no Itamaraty. Entre os empresários que passaram pelo pavilhão estão também Marcos Molina, da Marfrig, e Guilherme Leal, da Natura.

CONVERSA

O ministro do Meio Ambiente da Noruega, Espen Barth Eide, convidou para uma reunião cinco dos frequentadores do Brazil Climate Hub: Ana Toni, Marcello Brito, os pesquisadores André Guimarães e Márcio Astrini, e Marina Grossi, representante do setor privado. “Foi uma boa conversa. Vivemos uma era em que os investidores buscam a segurança de produtos rastreáveis, por isso são necessárias integridade e credibilidade internacional”, diz Brito.

A presença crescente de CEOs e a integração entre políticos, ambientalistas e empresários – marcas registradas desta COP de Glasgow – refletem o espírito do tempo. O futuro com baixo carbono irá provocar reviravolta na economia. A próxima revolução industrial será verde e digital, nas palavras de Ursula Van Der Leyen, presidente da Comissão Europeia, o que irá gerar oportunidades para quem abraçar o novo mundo.

O diálogo constante entre os diversos atores também é uma tendência. Estudos de Adjil Najan, especialista em clima e relações internacionais que dá aulas no Massachusetts Institute of Technology (MIT), mostram que os países onde há conversa constante entre sociedade e governos são aqueles que têm mais possibilidade de se desenvolver. O laço entre sociedade e governo se rompeu no Brasil de Jair Bolsonaro – mas iniciativas como o Brazil Climate Action Hub mostram que sim, nós podemos conversar – e, a partir do diálogo, criar boas ideias.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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