Cria da Escolinha do CPB estreia no Conexão Paralímpica após ingressar na universidade graças à bocha

O Conexão Paralímpica, evento realizado pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) em São Paulo até esta sexta-feira, 4, teve entre os estreantes de 2024 o atleta da bocha Gabriel Serafim, 19, cria da Escola Paralímpica de Esportes e aluno do primeiro ano do curso de Letras, na Universidade de São Paulo.

O evento, que começou nesta quinta-feira, 3, foi realizado pela diretoria de Desenvolvimento Esportivo do CPB  e reuniu duas competições diferentes, ambas para atletas com deficiência: as Paralimpíadas Universitárias, para alunos de graduação e pós-graduação, e as Paralimpíadas Militares, para agentes das forças de segurança. Houve disputas em cinco modalidades em dois endereços da capital paulista, envolvendo 347 atletas. O Centro de Treinamento Paralímpico foi palco do atletismo, bocha, natação e tiro com arco, enquanto a Escola de Educação Física da Polícia Militar sediou o tiro esportivo.

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O jovem atleta paulista tem atrofia medular espinhal e começou a praticar esportes há três anos, após ver uma publicação nas redes sociais sobre o projeto da Escolinha, como é carinhosamente conhecida, que oferece aulas em 15 modalidades paralímpicas gratuitamente para crianças e jovens até 17 anos no CT Paralímpico. Após se desenvolver na modalidade, o atleta continua treinando no CT, agora no projeto Transição, do qual participam aqueles que estão se aproximando do alto rendimento.

O atleta disse gostar das Paralimpíadas Universitárias por permitirem troca de experiência com outros atletas com deficiência que também estão na faculdade. Ele afirmou que o esporte foi fundamental para que ele chegasse à universidade.

“Se não fosse a bocha, eu nem estaria na universidade. O esporte fez muito bem para mim. Comecei no final do Ensino Médio e, depois, comecei a me interessar por outras coisas, perceber que eu poderia viajar, fazer faculdade. Comecei a sonhar com mais para meu futuro. Devo tudo ao esporte por estar onde estou hoje”, disse Gabriel, atleta da classe BC3 (que tem auxílio de calheiro).

Segundo o atleta, seus professores têm sido compreensivos com sua demanda de treinos e competições. “Sou muito organizado, separo bem o momento de treino e estudo e converso com todos sobre minhas viagens. Está dando tudo certo”, explicou.

Gabriel contou que sua meta para 2024 é conseguir se qualificar para o Campeonato Brasileiro de bocha, que acontece em dezembro no CT, o que exigirá boas classificações em disputas estaduais e regionais.

Outro estreante do Conexão foi o paranaense Mateus Brambilla, 22, nadador da classe S7 (comprometimento físico-motor) que treina no Centro de Referência do CPB em Maringá (PR) e é aluno de Educação Física na Unicesumar. O atleta tem má-formação nos braços e começou na natação há oito anos em Londrina (PR) e mudou de cidade para seguir se desenvolvendo no esporte. No Conexão, venceu as duas provas em que competiu, com o tempo de 32s29 nos 50m borboleta e 32s50 nos 50m livre.  

Mateus contou ser fã do nadador paulista Gabriel Bandeira, campeão paralímpico de Tóquio 2020 e medalhista de Paris 2024 pela classe S14 (deficiência intelectual). “Assisto aos vídeos dele. O nado dele é muito bonito, a técnica é absurda. Vejo vídeos dele e presto atenção para ver se dá para ter referência em alguma coisa. Sempre dá para melhorar”, disse. 

Mateus também elogiou a estrutura do Centro de Referência, pela qualidade dos treinamentos e também pela interação com outros atletas com deficiência. “Tem muito treinamento para vários esportes e, além disso, também há muita atividade para a galera se unir. É importante termos festas, confraternização, ter algo diferente pra gente seguir motivado”, disse.

Os Centros de Referência fazem parte do Plano Estratégico do Comitê Paralímpico Brasileiro, elaborado em 2017 e revisado em 2021. Funcionam por meio de parcerias com universidades, centros de reabilitação, bem como com secretarias municipais e estaduais, e têm como objetivo aproveitar espaços esportivos em estados de todas as regiões do país para oferecer modalidades paralímpicas, desde a iniciação até o alto rendimento. O apoio do Comitê pode vir a partir da oferta de profissionais especializados, supervisores, mão de obra e apoio na gestão.

Segundo ele, sua vida mudou muito graças ao esporte. “Mudou até minha forma física, eu era bem cheinho, emagreci 30 quilos desde que comecei. E, na vida, aprendi a nunca desistir, que nossa mente é nosso próprio limite”, afirmou.

Nas Paralimpíadas Militares, que em 2024 começaram a receber pela primeira vez atletas civis, a Escola de Educação Física recebeu a catarinense Jéssica Michalack, medalhista de bronze por equipes no Mundial de Lima, no Peru, em 2023. “A experiência é muito boa. Este é um evento que traz novos atletas para a modalidade, traz maior visibilidade para o tiro esportivo. Pude conhecer mais pessoas, atletas com diferentes deficiências e suas histórias. Foi uma experiência incrível”, afirmou.

O Conexão Paralímpica foi criado em 2022 e teve sua primeira edição em João Pessoa (PB), em outubro daquele ano. Em 2023, o Conexão contou com três fases regionais, em São Paulo (SP), Goiânia (GO) e João Pessoa (PB), além de uma etapa nacional na capital paulista.

Em 2024, o Conexão ganhou novo formato, com Seletivas Estaduais realizadas ao longo de todo o primeiro semestre, como parte do Meeting Paralímpico Loterias Caixa, evento que circulou pelas 27 unidades federativas do Brasil de fevereiro a junho de 2024.

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