Coworkings apostam em bairros fora do centro
A Dock Tech, que presta serviços de tecnologia para instituições financeiras, decidiu eliminar o seu escritório físico. A sede servirá somente para reuniões e eventos. A solução encontrada para quem está cansado do home office foi disponibilizar um “vale-coworking”: por meio de um aplicativo, os mais de 350 funcionários podem escolher lugares espalhados pelo Brasil. Assunção sempre escolhe na região do ABC. “Hoje, tenho muito mais qualidade de vida e não tenho mais vontade de trabalhar longe de casa”, diz.
Com a pandemia mostrando sinais de controle no horizonte, as empresas começam a planejar a volta aos escritórios. Porém, o retorno está sendo desenhado de maneira híbrida, com a divisão entre dias em casa e outros trabalhados na sede. Ao mesmo tempo, muitos funcionários não querem mais abrir mão de um tempo perdido no trânsito. Com isso, a tendência do mercado deve ser de, cada vez mais, espaços de coworking em bairros mais afastados das regiões centrais – e mais próximos das residências dos empregados.
De acordo com pesquisa global da consultoria JLL, 66% das pessoas querem um modelo híbrido e ainda trabalhar em lugares diferentes de casa e da sede da empresa. E os coworkings aparecem como opção para mais da metade delas. Isso tem feito com que o setor, que viu a receita despencar cerca de 50% na crise, comece a se animar com uma retomada.
Ajuda também o fato de localidades em outros bairros terem preços mais baixos em comparação com regiões mais cobiçados, como a Faria Lima, Berrini e Paulista, em São Paulo, ou áreas centrais de outras grandes capitais do País. Para completar, urbanistas apontam a necessidade de as pessoas trabalharem mais perto de casa e, assim, melhorar o caótico trânsito e o transporte público das grandes cidades brasileiras.
“Os coworkings estão tirando alguns lugares da inércia, especialmente em regiões satélites. Esses lugares bem localizados, não necessariamente centrais, têm tido uma demanda maior”, diz Roberto Patiño, diretor da JLL, companhia especializada em propriedades.
A rede de coworkings Regus, controlada pela IWG, é uma das empresas que estão de olho nesse filão. A companhia já abriu espaços no bairro da Lapa, na zona oeste, e também em Santo Amaro, na zona sul. Com 70 unidades no total, a meta de Tiago Alves, CEO da Regus, é inaugurar 30, sendo todas franquias. Com o risco diluído com um investidor, a ideia é abrir em espaços mais distantes dos grandes centros, como nos municípios de Cotia e Osasco, na região metropolitana de São Paulo. “Como há muitos imóveis vazios, muitos proprietários nos procuravam para dar um viés diferente para eles e, aí, a expansão fica acelerada”, diz Alves.
Projetos. A construtora Tecnisa é outra que acredita que ainda há muito espaço para coworkings e até para novos entrantes. Por isso, a empresa está para lançar três prédios com esse fim, sendo dois deles mistos com unidades residenciais. Eles ficarão localizados nos bairros de Jardim Prudência (zona leste), Mirandópolis e Vila Dom Pedro (ambos na zona sul). Segundo Joseph Meyer, CEO da Tecnisa, a ideia é colocar entre 250 e 300 estações de trabalho por prédio e adquirir uma startup para gerenciar toda a locação.
Meyer enxerga um potencial de 100 mil pessoas por dia em São Paulo precisando de um espaço de trabalho nesse modelo híbrido. “Podemos alugar essas posições de trabalho como se fossem quartos de hotel”, diz Meyer.
A WeWork, que é a líder do setor, também observa que o modelo do coworking do futuro passa por essa contratação mais facilitada. De acordo com Lucas Mendes, diretor-geral da WeWork, como houve a devolução de muitas sedes por empresas com a pandemia, muitas acabarão migrando para o coworking para reduzir custos. “Já temos prédios em áreas mais afastadas, como a sede de São Bernardo, e em bairros residenciais, como a Vila Madalena, e estamos de olho em todas as possibilidades para novas aberturas”, afirma.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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