Covid faz Metrô ter perda de R$ 1,7 bi, cortar trens e aumentar tempo de espera
A retirada de trens ocorreu tanto nos intervalos entre os horários de rush quanto nas horas de pico. Os dados são do Relatório Integrado Anual Metrô, que a empresa tem de publicar em seu Portal da Transparência. Ao longo de 2020, em mais de uma ocasião, o secretário dos Transportes Metropolitanos, Alexandre Baldy, afirmou que operava com “100% da frota disponível” ante as queixas de lotação.
O relatório, entretanto, mostra que a diminuição do uso da frota foi generalizada. No pico, a Linha 2-Verde, que opera na Avenida Paulista, rodou com oito trens a menos do que o comum (redução de 27 para 19 trens em circulação). Na Linha 3-Vermelha, a mais lotada da cidade, o governo retirou apenas três composições da linha nos picos, mas cortou o serviço de oito trens no intervalo entre os horários de rush. Ao todo, nas Linhas 1-Azul e 3-Vermelha, houve uma redução de cerca de 17% no total de partidas diárias de trens (de cerca de mil por dia para cerca de 850) na comparação entre 2020 e 2019. Na Linha 2-Verde, a diminuição foi de 29% (de 833 para 627).
Riscos
O prejuízo já coloca em risco o equilíbrio financeiro da empresa, segundo o relatório, o que pode comprometer as operações. “Caso a situação de confinamento persista, o Metrô não vai conseguir recuperar a demanda em nível suficiente para restabelecer equilíbrio econômico-financeiro. As ações de redução de custos e as atividades de obtenção de receitas tarifárias não serão suficientes.”
Os dirigentes do Metrô falam em cortes de investimentos e atrasos na execução de obras diante desse cenário. Da série de ações previstas para cortar custos está o fechamento de 25 bilheterias em estações. Os investimentos programados para este ano ainda estão em análise.
O Estadão questionou o Metrô e a Secretaria dos Transportes Metropolitanos. “No relatório integrado, os registros de despesas administrativas contemplam também a provisão de recursos para processos judiciais, que em 2020 foi da ordem de R$550 milhões”, informou a nota oficial. “O prejuízo geral é decorrente da queda na arrecadação como consequência da pandemia, que afetou o setor de transportes em todo o mundo. E, mesmo assim, o Metrô manteve uma alta oferta do serviço, incluindo a intensificação da limpeza nos trens e estações.”
O presidente do Sindicato dos Metroviários, Altino de Melo Prazeres Júnior, destaca que o prejuízo se deve, em parte, ao fato de que o Metrô não recebe subsídios do Estado. “A maioria dos metrôs do mundo tem subsídio, porque os governos entendem que o serviço é essencial”, afirma.
A redução dos trens também resultaria da falta de funcionários, uma vez que parte da equipe está em casa por causa da crise do coronavírus e parte se infectou. “Já tivemos 22 mortes”, diz Prazeres. Além disso, afirma ele, funcionários da manutenção relatam falta de insumos para a manutenção dos trens, o que faria com que a frota ficasse mais tempo parada.
Especialistas sugerem máscara
Especialistas da Saúde ouvidos pelo Estadão admitem a dificuldade de evitar a contaminação no transporte público. “Não tem solução mágica”, afirma Airton Stein, professor-titular da Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. “Mesmo que tenha sido encontrado o vírus em objetos como maçanetas e bancos, a transmissão ocorre basicamente de indivíduo para indivíduo”, diz.
A principal medida de contenção dos riscos é o uso de máscara N95/PFF2 ou, caso essa não esteja disponível, usar uma proteção dupla, com uma de pano (por cima) e uma cirúrgica (por baixo). A higienização das mãos com álcool em gel, antes e depois de usar o transporte público, também é primordial. “Se possível, também usar óculos ou algo do tipo dentro do transporte, e procurar o local com melhor ventilação, como portas e janelas não vedadas”, aconselha Eduardo Flores, virologista da Federal de Santa Maria (UFSM) no Rio Grande do Sul, que ainda frisa a importância de não falar, conversar ou atender telefonemas durante a viagem. “Trocador, motorista ou operador de metrô precisa cumprir o mesmo protocolo.”
Renato Grinbaum, infectologista da Sociedade Brasileira de Infectologia, comenta ainda que os próprios patrões podem ajudar, oferecendo orientação educacional, álcool em gel e equipamentos. “Três máscaras custam (o mesmo que) um litro de leite, então quem tem baixa renda não consegue trocar (o item) com tanta facilidade”, aponta Flores. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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