Covid deixou sequelas no sistema de saúde e nos pacientes, apontam especialistas
A professora Linarama abriu a discussão relatando resultados de uma pesquisa realizada nos Hospitais das Clínicas. “Mais de 80% dos pacientes apresentaram sintomas persistentes de grande impacto funcional”, disse. Linamara classificou o dado como assustador: “Seis meses depois da alta hospitalar, as queixas ainda eram de dor, tanto nas articulações quanto na face, e fadiga. Não um cansaço comum, é uma fadiga intensa, devastadora”, conta.
As sequelas das pessoas afetadas pela covid-19 também foi o tema do professor Carlos Carvalho. Segundo ele, a doença não se restringe ao sistema respiratório: “o vírus circula no corpo e acomete qualquer órgão.”
Carvalho ainda explicou que as sequelas maiores surgem da cicatrização anormal das lesões causadas pela covid. “Desenvolvemos toda uma técnica de exames sequenciais para avaliação e estamos apresentando isso para os órgãos públicos. O Hospital das Clínicas está saindo do seu mundo de atenção terciária, dos pacientes mais críticos, e estamos levando nossa experiência para uma atenção mais primária”, contou.
A fisiatra Andréa Thomaz Viana relatou que a pandemia também exigiu dos médicos um novo olhar para a reabilitação dos pacientes. “Para alguns médicos entenderam que uma reabilitação precisa ser um pouco mais complexa e ampla existe uma dificuldade”, conta. Andréa relatou que ela própria teve um quadro grave da doença, e que a reabilitação é imprescindível. “Não é em todo lugar que a gente encontra uma estrutura dos sonhos, mas o importante é começar. Se tiver somente um fonoaudiólogo, um fisioterapeuta, isso é importante”, afirmou.
Para o economista sênior do Banco Mundial Edson Araújo, a deficiência nos outros serviços de saúde que tiveram de ser paralisados por causa da pandemia vai ter uma grave consequência. “É uma pandemia dentro da pandemia no sistema de saúde.” O economista apontou uma queda considerável nos diagnósticos de outras doenças, no número de transplantes e aumento e agravamento de doenças mentais. “O pós-pandemia vai exigir muito do sistema de saúde em termos de tratar aqueles serviços que não foram prestados durante esse período”, afirmou.
Para os especialistas, está claro que a relação entre o brasileiro e a saúde vai mudar depois da pandemia. “A gente já tem uma desigualdade gritante. A covid escancarou, pois exigiu que registrássemos, que colocássemos os dados em tabelas, que avaliássemos do ponto de vista estatístico e, finalmente, que a gente publicasse. Ele vai ajudar a melhorar o sistema de saúde”, afirmou Linarama.
Para o professor Carlos Carvalho, o momento é de aprendizado. “Temos de aproveitar esse susto, esse absurdo que a pandemia causou, que é esse número de mortes, e, talvez, estruturarmos uma rede de assistência que possamos deixar como legado”, disse.
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