Com técnico campeão do mundo, Pepê Gonçalves mira pódio na canoagem em Tóquio

O sexto lugar na canoagem slalom nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, projetou Pepê Gonçalves, mas o brasileiro quer ir além da melhor marca do País na história. Na Olimpíada de Tóquio, a meta é uma medalha e para isso ele vem treinando com um dos maiores nomes da modalidade, o checo Vávra Hradilek, ex-campeão mundial e medalha de prata nos Jogos de Londres, em 2012.

“Minha meta é a medalha. Um amigo meu me falou uma vez que o resultado tem a cor que a gente colore ele. Naquele momento no Rio, diante de toda dificuldade que passei, não era nem favorito para chegar à final olímpica e acabei pegando a sexta colocação, acho que saí mais feliz que o cara que ganhou o ouro. A meta lá era chegar entre os 10. Agora é o pódio”, diz Pepê ao Estadão.

Com o apoio da Confederação Brasileira de Canoagem e do Comitê Olímpico do Brasil, ele foi para Praga, na República Checa, para se aprimorar no K1, o caiaque individual. E lá vem treinando junto com Vávra, de 34 anos, que nas seletivas checas acabou ficando na segunda posição. Como é reserva na equipe, ele vai para o Japão para ser técnico de Pepê na Olimpíada.

“Ele tem o mesmo estilo de vida que eu, isso soma muito. Ele é treinador e competidor, então ao mesmo tempo é um sparring para mim. Os 34 anos de experiência dele no esporte são como se fossem 45 anos para mim. É um atleta muito experiente, que vive isso desde os 8 anos de idade”, explica Pepê.

Os dois são amigos de longa data. Anos atrás, Pepê ia para a República Checa por conta própria, com dinheiro contado, e dormia de favor no sofá da casa do amigo/treinador. Usava a bicicleta emprestada para se locomover e tinha muita ajuda. Tudo para estar em um centro esportivo de excelência.

“Praga é a capital da canoagem no mundo, local onde o esporte é muito forte, massificado, é o ninho das cobras”, brinca. “Muita gente vem treinar aqui, os melhores do mundo, e acho que o que mais diferencia e agrega é a paixão pelo esporte. Tem dia de folga que eu entro na água para me divertir. É algo leve e compartilho disso com o Vávra”, diz.

Praga tem algumas particularidades que a tornam a meca da canoagem slalom no mundo. Bem perto do centro da cidade já existe uma pista da modalidade e em um raio de 200 quilômetros existem seis pistas de alto nível. Assim, além de Pepê ter um local como técnico, também pode ser testado em diferentes condições.

Mas ele reforça que o clima não é brincadeira. “Sabe quando você pega uma cerveja no cooler e fica com a mão um tempo embaixo da água gelada? É essa sensação de praticar no inverno”, avisa. “Na primeira semana tive muita dor na ponta dos dedos. No começo de junho foi a primeira vez que consegui remar sem passar frio. O inverno deu uma estendida, com chuva, frio, sofri muito. Antes eu estava morando no Rio e o inverno lá é 20ºC”, conta, lembrando que muitos atletas, para fugir do período frio no Hemisfério Norte, vão treinar na Austrália, Brasil ou Emirados Árabes Unidos.

De olho nos Jogos de Tóquio, Pepê teve a ideia de ir para a República Checa para ser testado com os melhores do mundo. No Brasil ele vem ganhando tudo nos últimos anos e quase não tem adversário. Então ele consultou o COB e a confederação, e aceitaram ajudar o atleta, para fazer uma experiência. O resultado disso foi o bronze inédito em uma etapa da Copa do Mundo na Eslovênia, que mostrou que o caminho está sendo bem traçado.

Pepê entra agora na reta final de preparação para os Jogos de Tóquio. Ele disputa neste fim de semana mais uma etapa da Copa do Mundo de canoagem slalom, desta vez na Alemanha. Depois, retorna ao Brasil e faz um período de treino no Rio. E antes de embarcar para Tóquio, vai matar a saudade de sua família em Piraju, no interior paulista. Na mala, estarão seus sonhos. “A final olímpica eu já sei como é, estou indo para Tóquio para buscar a medalha. É um evento de 4 em 4 anos, e assim como eu tem muita gente querendo essa medalha. Mas vou lutar até o fim”, afirma o atleta de 28 anos.

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