Com déficit de R$ 171 bilhões, Prefeitura de SP propõe nova reforma
Para que isso aconteça, no entanto, será preciso mudar a Lei Orgânica para permitir, entre outras alterações, a cobrança de alíquota de 14% em valores pagos a todos os aposentados que ganham acima do teto e a adoção das idades mínimas previstas pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS): 65 anos para homens e 62 anos para mulheres, com exceção dos professores da rede. E reunir o apoio de ao menos 37 dos 55 vereadores. A estimativa da Prefeitura é de que 63.730 servidores inativos sejam afetados pela medida caso seja aprovada.
A exemplo do argumento usado pelo governo federal ao aprovar novas condições para o pagamento de aposentadorias em todo o País em 2019, a gestão de Nunes alega dificuldades para subsidiar o Instituto da Previdência Municipal de São Paulo (Iprem). A previsão para este ano é de que seja necessário o suporte de R$ 6 bilhões do Tesouro para assegurar o pagamento aos inativos e pensionistas – quase o dobro do total de investimentos previstos em melhorias para a cidade.
Em estudo que sustenta o projeto, a Prefeitura cita uma série de outros números para tentar convencer os parlamentares da urgência e necessidade da reforma. Entre eles, o aumento do número de inativos em relação ao de servidores em atividade. Em 2010, por exemplo, havia 137 mil pessoas na ativa e 78 mil aposentados e pensionistas. Já em 2020, o número dos que estavam no serviço caiu para 121 mil e o de beneficiários cresceu para 113 mil, elevando em 45% os dependentes.
Segundo a Prefeitura, projeções preveem que essa tendência se mantenha e que, já no ano que vem, o número de aposentados e pensionistas supere o contingente de trabalhadores em atividade. Sem a nova reforma, o subsídio do Tesouro pode chegar a R$ 8,43 bilhões em 2030, bloqueando investimentos e prejudicando o custeio da máquina.
Entre as alterações propostas, a mais polêmica é a que amplia a contribuição previdenciária entre os inativos. Hoje, apenas contribuem com o sistema os que recebem acima do teto do INSS, ou seja: R$ 6,4 mil. Se o projeto passar, a alíquota de 14% será cobrada sobre os valores que superem o salário mínimo de todos os aposentados e pensionistas.
A Secretaria Municipal da Fazenda afirma que apenas essa medida alcançaria R$ 13,2 bilhões em arrecadação extra no mesmo prazo de 75 anos. Já quando se soma o resultado possível com a mudança da idade mínima, o total chegaria a R$ 51 bilhões – metade de toda a economia prevista com o projeto.
A proposta deve ter resistência na Câmara Municipal (mais informações na página ao lado). Na última década, os prefeitos Fernando Haddad (PT) e João Doria (PSDB) chegaram a desistir de projetos que tinham o objetivo de reduzir o déficit e os subsídios anuais ao sistema.
Bruno Covas (PSDB), por sua vez, insistiu e aprovou, sob protestos, uma primeira reforma considerada insuficiente, mas importante para iniciar o processo: em dezembro de 2018, o tucano obteve aval para aumentar a alíquota de contribuição do servidor, de 11% para 14%.
No mesmo texto também foi criada uma entidade fechada de previdência complementar, a Sampaprev. A partir dela, quem desejar receber acima do teto de R$ 6,4 mil deve aderir ao regime extra, acrescentando nova alíquota de contribuição.
A atual proposta, segundo Nunes, tem capacidade para reduzir em R$ 111 bilhões o déficit estimado para os próximos anos. O prefeito argumenta que o projeto é resultado ainda de uma imposição derivada da reforma federal de 2019, que tornou obrigatório o equacionamento dos regimes próprios de Previdência, mediante plano com medidas aprovadas em lei.
De acordo com o emedebista, apesar de propor o fim da isenção dos inativos, seu projeto não eleva mais uma vez a alíquota de contribuição (que pode ser de até 19%), ainda que tenha autorização constitucional para fazê-lo. Nunes também ressalta que sem a aprovação da reforma, as contas da Prefeitura seguem em “risco”.
Fundo
Para o doutor em economia e colunista do Estadão Pedro Nery, o projeto é quase uma adaptação à reforma federal, que já permitiu o fim da isenção dos inativos no caso dos servidores federais. Após muita discussão, o Congresso deixou de fora Estados e Municípios e estabeleceu o prazo de 31 de dezembro de 2021 para mudanças em seus regimes próprios.
Nery destacou, no entanto, que se outro ponto proposto passar – a segregação de massas -, a Prefeitura passará a ter uma espécie de fundo para pagamento de benefícios no futuro que corre o risco de ser usado em caso de emergência.
Nesse modelo, dois sistemas funcionam ao mesmo tempo. No primeiro, os servidores ativos têm seus benefícios recolhidos em uma espécie de poupança individual, que só passa a ser sacada na aposentadoria, mas pode ser capitalizada pelo Município. No outro, os atuais aposentados têm seus benefícios pagos com recursos públicos direcionado ao coletivo, no chamado regime de repartição, como o praticado pelo INSS.
“A segregação de massas é feita para separar grupos de servidores. Na prática, ela gera um fundo municipal que vira tentação para o governo. Imagina ter um fundo à disposição num momento de necessidade? Ele traz insegurança para o servidor que participa desse regime, Tem que ser bem pensando e discutido.”
Reformas nas capitais
– Fortaleza: houve aumento da alíquota previdenciária de 11% para 14% (inclusive para inativos) para os servidores, e de 22% para 28% para a prefeitura.
– Porto Alegre: foram feitas alterações na idade mínima de aposentadoria – os servidores poderão se aposentar se tiverem 62 anos (mulher) e 65 anos (homem).
– Recife: reforma aumentou de 12,82% para 14% a alíquota previdenciária, além de impor idade mínima de 61 anos (mulher) e de 64 anos (homem) para aposentadoria.
– Salvador: a contribuição previdenciária dos servidores ativos passou de 11% para 14%. Os inativos passaram a ser taxados também, em casos específicos.
– Vitória: a idade mínima para aposentadoria dos novos servidores é de 62 anos para mulheres e de 65 anos para homens, equiparando às reformas federal e estadual.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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