Você merece um elogio?

A menina estava em seu mundo, brincando na área de jogos do supermercado. Ela tinha sete anos de idade e, recentemente, havia sido adotada. Os pais adotivos lhe davam amor e carinho, porque sabiam que ela carregava feridas profundas em sua curta trajetória de vida. Apresentavam a menina como sua filha para os amigos e parentes, porque agora ela era a filha deles! A mãe acompanhava a menina que se divertia com os brinquedos que antes nunca havia tido. Aproxima-se uma amiga a quem ela apresenta a sua filha. A amiga a olha com carinho e lhe diz:

– Que linda!!! Parece uma boneca!!!

A menina arregalou os olhos, olhou para a sua mãe e em seguida começou a chorar desconsoladamente. “Parece uma boneca” foi dito como um elogio, mas por que a menina chorou? Naquele momento ninguém sabia a razão do choro, entretanto, a frase traz em si um julgamento a partir da visão de mundo de quem a expressa, recorrendo a uma comparação da beleza da menina para com a boneca. O que está presente na frase dita pela amiga? A expressão “parece uma boneca” é comumente usada como um elogio, porém ela parte de uma comparação, que, muitas vezes, descaracteriza a pessoa a quem ela se dirige. A palavra “comparação” tem origem latina formada pela primeira parte “com”, que quer dizer ‘junto” e “parare” que se refere a “fazer par” ao observar as diferenças de algo que está lado a lado. Entendo que a comparação se aplica a coisas e não às pessoas com coisas, ainda que seja para fazer um elogio. Igualmente não há como comparar pessoas com pessoas, porque se todos somos únicos e singulares não há ninguém a quem possamos ser comparados. Cite-se como exemplo as comparações feitas entre atletas de diferentes gerações que se revelam irreais e injustas, uma vez que estão presentes os julgamentos de quem faz as comparações. Destaque-se que os elogios tendem a criar ambientes positivos e, normalmente, despertam o lado bom das pessoas a quem eles são dirigidos, porém eles devem ser verdadeiros, autênticos e sem julgamento. Além disso, um elogio, preferivelmente, deve ser feito àquilo que o outro faz e não sobre as suas características. Elogiar a inteligência, a beleza ou alguma característica inata não é recomendável, porém elogiar o esforço e a dedicação para alcançar algo é positivo. Desse modo, ao elogiar a beleza da menina e ao compará-la com uma boneca, o elogio considerou o mundo de quem o fez sem nada conhecer do mundo a quem ele foi dirigido. O que será que representa a boneca na vida da menina?

Depois de acalmar a menina da sua crise de choro, a mãe perguntou o que havia acontecido e ela, ainda abalada, respondeu, Eu não quero ser feia… A princípio a mãe não entendeu, mas depois que a filha explicou que a única boneca que ela havia tido no orfanato onde havia passado a sua infância estava toda estropeada, mal vestida e com partes faltando, pode entender. Ao ser comparada com uma boneca, a sua referência a levava para um mundo do qual ela queria se afastar. Portanto, mesmo um elogio, preferencialmente deve estar centrado nas ações, no esforço e na dedicação de alguém e não nas suas características inatas. A inteligência é boa, mas ela pode ser usada para o bem ou para o mal. A beleza vista por um não é a mesma vista por outro. Entretanto, aquilo que você faz com a sua inteligência e com a sua aparência vai determinar quem você é. O que você faz na sua empresa? Qual é a sua conduta na sua função? Como você se comporta nas suas relações?

Você merece um elogio? A resposta é sua.

Moacir Rauber

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