Será um inverno rigoroso…
No outono os índios fazem as provisões para o inverno. Antes de iniciar o trabalho eles se dirigiram ao seu novo chefe para saber se o inverno seria muito rigoroso ou não. O jovem chefe, criado na modernidade sem conhecer os sinais da natureza, por precaução, disse aos índios:
– Sim, teremos um inverno rigoroso!
Eles começaram a trabalhar. Armazenavam alimentos e recolhiam muita madeira para o inverno. O chefe ficou meio constrangido com a situação e resolveu tirar as dúvidas com o pessoal da estação meteorológica que disseram que o inverno seria bastante frio. O chefe voltou para a aldeia e disse para que os índios recolhessem mais lenha e armazenassem mais comida. O ritmo de trabalho foi aumentado. Algum tempo depois o chefe voltou a falar com os meteorologistas que destacaram que o inverno será “bastante rigoroso” com muito frio.
De volta à aldeia o chefe disse aos demais índios que o frio seria intenso e, por isso, seria importante fazer mais provisões para o inverno terrível que se aproximava. Mais algumas semanas adiante em nova conversa do chefe com os meteorologistas eles disseram:
– Olha, nós acreditamos que teremos um dos invernos mais rigorosos da história!
O chefe indagou:
– Mas como vocês podem ter certeza disso?
Os meteorologistas, que do lato da montanha sempre observavam os índios com um binóculo, responderam:
– É que os índios estão recolhendo lenha feito loucos…
Como será o seu inverno? Nas regiões em que as estações do ano são definidas se sabe que o inverno virá, mas o nível do rigor será somente uma previsão. E as previsões podem acontecer ou não. Isso não quer dizer que não devamos analisar cenários futuros e as tendências no planejamento de nossas organizações, porém é um alerta para que se tenha em mente a fonte das informações para avaliar a fidedignidade daquilo que foi previsto. O episódio dos índios se compara a cena do cachorro correndo atrás do próprio rabo e podem parecer anedotas, mas a realidade nos desmente. No momento vivido, tem muita gente correndo atrás do próprio rabo ou usando informações sem credibilidade. Além do que, cada um pode lançar uma ‘previsão’ baseado na sua experiência que vai servir como fonte para outro que replicará o conteúdo gerando uma verdade absoluta a partir da interpretação de mundo de um indivíduo. Com isso, durante o planejamento é fundamental questionar a fonte e o uso das informações e das tendências criadas por especialistas, porque elas inspiram a tomada de decisão nas diferentes áreas de negócios ou mesmo pessoais. Destaca-se que o planejamento deve ser feito, mas que não deva ser encarado como um caminho único. O planejamento deve ser visto como possibilidade que usa as tendências com flexibilidade passível de alterações, uma vez que dificilmente ele é exato. O planejamento pode ser um mapa, mas nunca será o território. Por isso, ao ler, escutar e interpretar as opiniões dos especialistas das mais diversas áreas é fundamental questionar para ver alternativas de cenários. Buscar a flexibilidade dentro das tendências, das previsões e do planejamento.
Entendo que para cada área de atuação existem cenários possíveis e tendências que devem ser considerados para fazer um planejamento. Entretanto, para cada área de negócios também existem possibilidades não previsíveis em nenhum cenário imaginável e não identificado em nenhuma tendência. Assim, o planejamento é um roteiro. Redobrar o cuidado com a fonte de informações impede que os gestores se comportem como os meteorologistas e os índios.
Nesse cenário, são dois os desafios: preparar-se para o previsível, o inverno, e saber que o imprevisível (?) é uma grande possibilidade. A pandemia que o diga…
Moacir Rauber