Quem não acredita na oração?

Na última semana escutei uma entrevista em que o entrevistado defendia a prática diária da oração como uma maneira inteligente e intimista de orientar os passos facilitando as escolhas na vida. O entrevistador perguntou:

– Se a oração é tão importante, por que tem tanta gente que não acredita?

O entrevistado respondeu:

– Somente não acredita na oração quem não pratica.

A resposta fez todo o sentido para mim. Passei a pensar em outras situações, como o trabalho, o estudo, a honestidade, a bondade ou a confiança em que não acredita aquele que não pratica.

Antes de fazer outros paralelos, creio ser importante entender o que significa “oração”, vocábulo de origem latina “orare” e “oratio” derivadas de “os”, “oris”, sendo entendida como as palavras que endereçamos a Deus. Muitos podem não acreditar em Deus, dando-Lhe nomes como energia cósmica ou outra denominação qualquer, porém vale dizer que ninguém, até hoje, sabe explicar a nossa existência. Enfim, para fazer uma oração é preciso acreditar em Deus, ou pelo menos ter a humildade de se ajoelhar frente ao Desconhecido, sendo a oração uma estratégia para criar e estabelecer uma relação direta e pessoal com o mistério da vida.

Existem diferentes tipos de oração, podendo ser ela vocal, meditativa e mental. A (1) oração vocal pode ser praticada pela repetição de orações estruturadas ou pela invocação de orações espontâneas, muito presentes em eventos públicos e reuniões de pessoas. A (2) oração meditativa é uma procura íntima pelo entendimento dos mistérios e desígnios da existência a partir de leituras e reflexões, confrontando-as com a própria vida. E, finalmente, temos a (3) oração mental que se trata de uma conversa amistosa com esse Deus por quem nos reconhecemos amados pelo privilégio da vida que temos (Santa Teresa de Avila). Desse modo, pode-se depreender que ao acreditar em Deus me habilito a orar e ao desenvolver a habilidade de orar a oração passa a funcionar para aquele que a pratica.

Um raciocínio semelhante podemos levar a outras áreas: ao trabalho, porque somente acredita no trabalho quem trabalha; aos estudos, porque unicamente reconhece a importância do estudo aquele que estuda; à honestidade, porque valoriza a honestidade aquele que é honesto; à bondade, porque ela é uma prática; e à confiança, porque quem confia, provavelmente, é de confiança. Do outro lado, aquele que não trabalha, não estuda, não é honesto, não é bondoso e não confia desenvolve comportamentos de inveja, avareza e maldade, não entendendo outros comportamentos. A passagem bíblica “…pois a boca fala do que está cheio o coração” (Mateus 12:34) traz uma verdade que se aplica aquilo que falamos, refletindo-se naquilo que fazemos.

Qual a importância da oração? Acredito que a oração é a porta de entrada das boas intenções que se refletem naquilo que se fala e naquilo que se faz. Por isso, aquele que ora, acredita no trabalho e trabalha; dedica-se aos estudos e estuda; valoriza a honestidade e é honesto; pratica a bondade e é bondoso; e desenvolve a confiança e confia em si mesmo e nos outros. Por fim, a oração como pratica diária, rotineira e constante nos leva à riqueza. Como assim? Sim, ressalte-se a riqueza de se reconhecer um privilegiado pela vida recebida que nos permite desfrutar dos pequenos grandes milagres de todos os dias. Num só dia podemos presenciar o nascer e o pôr do sol, o fenômeno da chuva, as carícias do vento e as belezas dos campos e das florestas. Podemos apreciar os cheiros das flores, os gostos das frutas e escutar belas canções. A riqueza se reflete no aconchego do abraço de um pai e de uma mãe; de um irmão e de um filho; de um sobrinho ou de um neto; de um amigo ou de um desconhecido. Finalmente, a riqueza se espelha na esposa ou no esposo que escolhemos para cumprir com a nossa jornada pela vida, com a Benção de Deus.

Finalmente, como disse o Pe. Patrick Peyton: “família que reza unida permanece unida” e essa riqueza resultado da oração.

Moacir Rauber

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