O careca e o cadeirante: onde está a diferença?

Marcos e Jonas seguiam pelos corredores do shopping depois de jantar. Marcos tinha a particularidade de ser careca, ainda que bastante jovem. Jonas, ainda mais jovem, era um usuário de cadeira de rodas. No caminho, cruzam com as pessoas e a grande maioria não dá a mínima para eles nem para as suas particularidades. Disse que a “grande maioria” não liga, porque quando se tem alguma característica que foge daquilo que se entende como padrão um comentário estranho sempre pode acontecer. Naquele dia não foi diferente. Os dois amigos cruzaram por uma família, pai, mãe e um filhinho de mais ou menoss três anos. Ao ver os dois, o menininho já ficou alvoroçado. Puxou a mãe pela mão e disse:

– Olha lá, mãe. Olha lá! Disse o menino apontando o dedo em direção aos dois.

Jonas, o usuário de cadeira de rodas, calejado de tantos comentários infelizes que já ouvira nos muitos anos em que usava a cadeira, captou o comentário e já ficou mentalmente preparado: o que será que esse moleque vai falar?

A mãe ainda procurava localizar qual era fonte da admiração do filho. Finalmente a mãe se vira na direção para onde o filho apontava o dedo, ficando imediatamente corada. Não teve tempo para mais nada, porque o menino concluiu o seu pensamento, dizendo:

– Um careca, mãe! Um homem careca!

O Jonas a princípio não entendeu, mas logo em seguida olhou para o seu amigo careca e caiu na gargalhada. O Marcos, instintivamente passou a mão na cabeça calva, sorriu contrariado e continuou seu caminho. Enquanto isso a mãe tentava puxar o seu filhinho para longe, embora ele continuasse a olhar admirado para o homem careca.

O que é diferente para você pode não ser para outro. As particularidades de uma pessoa podem ser mais visíveis do que a de outros, mas não menos marcantes. Nós identificamos as particularidades das pessoas e dos ambientes com a naturalidade de quem dá uma informação e usa como referência a diferença. Quem nunca esteve numa rua quando alguém tenha lhe perguntado:

Onde fica a relojoaria? Por exemplo.

Você sabe onde é e olha na direção da relojoaria, mas momentaneamente fica com dificuldade de descrever o caminho até lá. De repente, no meio da multidão você vê um careca e não tem dúvidas para dizer:

Tá vendo aquele careca? Pois é, logo depois dele à direita…

Situação comum, não é? O mesmo poderia se aplicar a uma pessoa mais gorda, mais magra, mais alta ou mais baixa do que a maioria ali presente. Poderia ser usado como referência àquele que usa óculos, cadeira de rodas ou uma muleta, entre outras particularidades que usamos no dia a dia para interagir e nos localizar nos ambientes em que circulamos.

Não vejo maldade nisso, assim como não há nada de errado em estranhar pessoas e culturas diferentes. Para uma criança que nunca conviveu com um careca, ele é diferente. Isso é normal. O que não é normal é a associação que muitas pessoas fazem entre diferente e ruim. Isso não é bom. Ver a diferença e emitir uma opinião que denigra o que não se conhece é o problema. Aproximar-se, conhecer e entender o que é diferente vai nos ampliar a perspectiva de mundo.

Enfim, somos singulares e plurais; somos únicos e múltiplos; e somos DIVINOS! É a nossa natureza humana. Por isso, nesse período em que as pessoas estão mobilizadas pelo amor, pela compaixão e pela busca da transcendência identificadas no Divino evidenciado pelo nascimento do Menino Jesus, fica o convite para fazer a diferença e afetar o mundo com AFETO. E a diferença está naquilo que você faz com o que é diferente, uma vez que ser diferente é a nossa semelhança. O que você faz com a diferença? Afete com AFETO que o mundo será melhor!

Moacir Rauber

Blog: www.facetas.com.br

E-mail: mjrauber@gmail.com

Home: www.olhemaisumavez.com.br

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