Inclusão e Diversidade: respeitar para não excluir

A reunião era para distribuir os responsáveis pelos cursos que cada professor daria como voluntário na universidade. Seriam cursos para concluintes do Ensino Médio, com temas como Contabilidade, Empreendedorismo, Idiomas, Administração, além de um bloco tratar de Inclusão e Diversidade. Cada professor atuaria na sua área de especialidade. O Diretor Acadêmico nomeava os professores, por fim, olhou-me e disse:

– Você se encarrega da Inclusão e Diversidade? Já que você é cadeirante…

Fiquei surpreso, porque não era a temática das minhas disciplinas e não fora contratado por ser cadeirante. Particularmente, sobre a inclusão prefiro a ideia da não exclusão e sobre a diversidade gosto de pensar que é uma condição natural dos seres humanos.

Ser usuário da cadeira de rodas me levava a ser visto como cadeirante, porém eu não era profissional em função dessa condição. Entendo que ao se transformar a condição em profissão se perde parte do interesse em resolver o problema com origem na condição. Qual seria o interesse em resolver os problemas de acessibilidade se essa fosse a minha profissão? O que fazer? Para a questão da inclusão e diversidade, acredito que a proposta do Desenho Universal oferece parte da solução, o restante vem do comportamento.

O Desenho Universal é um conceito criado na década de oitenta pelo arquiteto Ronald Mace, sendo um convite para mudar a percepção sobre a utilização dos produtos e a elaboração dos projetos desde a sua concepção. É proposto que o conhecimento e a tecnologia disponível criem ambientes acessíveis em que todos os produtos possam ser usados pela maioria, independentemente de sua condição. Assim, creio que muito mais do que incluir, os projetos urbanos, os produtos e os serviços deveriam ser pensados para não excluir. Como resultado teremos produtos, serviços e ambientes mais amigáveis para todos.

Portanto, Mace desenvolveu sete princípios: produtos, ambientes e serviços (1) igualitários que permitem o uso equiparável por pessoas com capacidades distintas, por exemplo o rebaixamento das vias. O princípio (2) adaptável fala de produtos flexíveis que podem ser dobrados, estendidos e mudados de acordo com o ambiente e o usuário, fazendo que as tesouras possam ser usadas por destros e canhotos. Igualmente que os serviços, equipamentos e espaços sejam (3) óbvios ao serem entendidos sem esforço cognitivo maior, como objetos simples de montar. O princípio do (4) conhecido propõe que a informação seja acessada pelos diferentes sentidos, como a sinalização redundante nos aeroportos. Da mesma maneira, produtos, serviços e ambientes (5) seguros ao preverem os riscos de usos descuidados, como elevadores com sensor. Outro é o princípio do (6) mínimo esforço em que a tecnologia crie produtos que não requeiram alto consumo de energia humana, como as lâmpadas acionadas por movimento. Por fim, o princípio de que tudo aquilo pensado seja (7) abrangente, permitindoo uso e o acesso livres, independentemente da condição corporal ou física.

Por fim, respondi ao diretor que trabalharia o tema, desde que pudesse usar o Desenho Universal como base e adotar a perspectiva da “não exclusão e da unidade”, começando pelo respeito às diferenças na identificação de necessidades comuns. Julgo que o respeito antecede os recursos tecnológicos e financeiros, uma vez que ele se reflete no comportamento. Adotar os princípios do desenho universal é importante? Sim, porém, as vagas de estacionamento para as pessoas idosas ou com deficiência são respeitadas? Muitas vezes, não e isso exclui. As pessoas com seus animais de estimação cuidam para que eles não sujem o espaço público? Muitas vezes, não e isso exclui. Exclusão como resultado do comportamento e da falta de respeito e não de tecnologia.

Desse modo, ao usar os recursos intelectuais, tecnológicos e financeiros disponíveis podemos chegar a não excluir ninguém, diminuindo a necessidade de classificar pessoas por grupos. Assim sendo, elimina-se a ideia das bandeiras em que “nós” estamos de um lado e “eles” do outro em que a condição, nesse caso, deixa de ser profissão.

Porém, isso tudo passa pela mudança de comportamento fundado no respeito.

Somos singulares e plurais!

Somos únicos e múltiplos!

Moacir Rauber

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