A meditação da morte

O curso sobre liderança, que abordaria a resiliência, a compaixão e a bondade, iniciaria com uma meditação antes do café. O guia começou o processo e pediu para que todos se sentassem com a coluna ereta numa posição cômoda, mantendo os olhos fechados. Orientou para que respirássemos profunda e pausadamente e acompanhássemos o ritmo da respiração, observando os movimentos do corpo e da mente. Tudo ia muito bem, até que ele disse:

– Agora imagine que você está morto. Tudo em sua vida para. O seu corpo para. Você não respira, não enxerga, não ouve e não sente. Você para…

Silêncio mortal. A fala tranquila do condutor da meditação não impediu que me invadisse uma sensação desconfortável. Morto?, pensei. Mantive meus olhos fechados para não deixar me levar pelas distrações da reflexão. Ao mesmo tempo, parecia que podia sentir a energia do desconforto também nos demais. O condutor seguiu nos guiando para que cada um imaginasse o próprio corpo se decompondo num processo lento e irreversível. Senti náuseas, porém, ele prosseguiu até que chegássemos ao pó. “Do pó viemos e ao pó voltaremos…”, lembrou-nos. Tranquilizei-me um pouco, embora ainda estivesse impactado com o exercício. Depois do silêncio, ele nos conduziu de volta a vida fazendo o processo inverso. Do pó à vida. Ao abrir os olhos, observei meus colegas e tive a impressão de que estavam um pouco desnorteados, assim como eu. Em silêncio fomos para o restaurante tomar o café da manhã. As conversas começaram e as opiniões sobre a meditação também. Para um era estranha, para outro era invasiva e para um terceiro era horrível. Outros riam e se divertiam. O café terminou e fomos para a sala de aula.

O facilitador do programa era quem guiou a meditação, deixando agora que cada um se expressasse sobre o processo feito. Em seguida ele abordou o objetivo por detrás da proposta, levando-nos a ver como são pequenas e fantasiosas as nossas ansiedades, desassossegos, temores e sofrimentos que nos inquietam. Não se trata de negar a existência de problemas, de dilemas e de decisões que nos cabem tomar. Trata-se de mudar a perspectiva e vê-los a partir da finitude da vida. Qual é a relevância daquilo que me inquieta? Caso mantenha a relevância num horizonte que sobrepassa a própria existência, fala-se de legado e é importante. Caso permaneça relevante num espaço de tempo mediano, fala-se de resultados e deve ser considerado. Caso o significado da sua preocupação não seja importante num curto espaço de tempo, provavelmente, não tem relevância. E concluiu que a inquietude das pessoas tem origem, em grande parte do tempo, em problemas sem importância. Por isso, é essencial se indagar: o que representam as minhas inquietudes no confronto com a realidade de uma vida que termina? Assim, ao abraçar a finitude da vida sem medo, encontra-se o alívio de poder viver a vida em plenitude. O líder que tem a consciência da própria finitude desenvolve a resiliência, age compassivamente e exibe a bondade com a responsabilidade de quem sabe que o beijo da morte é o sopro da vida.

Ao encerrar o seu raciocínio tive que concordar com a Meditação da Morte, porque me senti mais vivo do que nunca. Todos temos a informação de que a vida vai terminar, porém não vivemos com essa consciência. Usar essa informação para transformá-la em consciência é que fará com que se viva plenamente. Ao viver com a consciência da finitude da vida você será um profissional mais competente, mais produtivo e resiliente. Você será um Ser Humano mais compassivo e bondoso. Enfim, você será um líder da vida a partir da consciência da morte!

Moacir Rauber

Blog: www.facetas.com.br

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Inspirado: Anthony de Mello, S. J.

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