No fundo da vergonha

Enquanto os brasileiros ainda lutam pela própria sobrevivência em meio à pandemia da Covid-19, eis que o Congresso Nacional demonstra não estar nem aí para os reais problemas de sua gente, assim como essa gente também está cada vez menos interessada no que acontece no Congresso. Ambos os lados estão errados, mas como cobrar algo diferente de um país que não é sério. Num canetaço daqueles existentes apenas no Brasil e em meia dúzia de republiquetas parecidas, o Fundo Eleitoral Partidário, que já era imenso, ficou ainda maior. De R$ 1,8 bilhão a verba subiu para R$ 5,7 bilhões.

Como a distribuição é feita de acordo com a representatividade dentro do Congresso, hoje os dois maiores beneficiários são, pela ordem, PSL e o PT. Mas todos os partidos se beneficiam – em maior ou menor volume – de um dinheiro que é público e, como tal, deveria ser utilizado para beneficiar a sociedade em geral e não dirigentes partidários que se perpetuam no poder graças a artimanhas como a da semana passada.

O vergonhoso fundo eleitoral não reforça a democracia, pois o dinheiro decorrente se concentra nas mãos de “coronéis” eleitorais, que o distribui com critérios subjetivos. Em uma nação com seríssimos problemas básicos e agravados pela pandemia, é inaceitável a distribuição de dinheiro público para campanhas eleitorais. É uma afronta, uma vergonha! Mas o que dizer diante do silêncio não apenas do cidadão comum, mas de entidades organizadas que, ao invés de se levantarem e se unirem, assistem a tudo numa passividade assustadora, aumentando ainda mais o desânimo de quem ainda sonha com uma nação diferente.

O fundo eleitoral na sua essência é inconstitucional, pois destina verba pública para entidades privadas com interesse próprio e capitaneadas por dirigentes remunerados e com interesses particulares, nem sempre corretos. Não é transparente e razoável essa aprovação. No fundo da vergonha todos se lambuzam!

E nem adianta esperar alguma reação por parte, por exemplo, do Supremo Tribunal Federal, uma instituição que cada dia mais reforça a impressão de existir apenas para corroborar com o gasto exagerado e desnecessário que eleva ainda mais a distância entre o Brasil real da ilha tropical criada em Brasília.

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