A farra da música
Vem aí mais uma CPI, dessa vez para investigar o pagamento dos cachês – alguns astronômicos – por parte de prefeituras a artistas nacionais, com destaque para o sertanejo, onde fenômenos surgem a cada nova dia, na onda das canções recheadas de bebedeiras, bundas, traições, beijos à vontade, enfim, a baderna generalizada na qual se transformou o Brasil de uns tempos para cá, vítima dessa polarização bizarra de campos ideológicos tão estúpidos quanto as ideias que defendem.
A gota d’água foi a história do pagamento de um cachê superior a R$ 700 mil ao cantor sertanejo Gusttavo Lima, o ‘queridinho’ dos gestores municipais ao lado de outros nomes. Lima se apresentaria no Festival da Banana, em Teolândia, no interior da Bahia. Ao todo, o festival teria 28 shows, com um custo total de R$ 2 milhões, o que corresponde a 40% do dinheiro gasto com a saúde do município ao longo do último ano. Esse valor se aproxima dos cerca de R$ 2,3 milhões que o Governo Federal encaminhou à prefeitura em 26 de dezembro do ano passado, por causa da emergência causada pelas chuvas.
Se você nunca ouviu falar da cidade, não se preocupe, pois até esse escândalo estourar, Teolândia quase não era lembrada, assim como a mineira Conceição do Mato Dentro, outra cidade que havia contratado um show de Gusttavo Lima pela ‘bagatela’ de R$ 1,2 milhão. Em ambos os casos a ação do Ministério Público impediu a verdadeira farra da música.
Não se trata de acabar com shows país afora, tampouco ser contra a classe musical. Entretanto, é preciso haver sempre o bom senso, afinal, é inaceitável cidades onde as condições de atendimento à população são precárias ao extremo e o dinheiro ‘ralo’ gastarem somas consideráveis para a contratação de artistas. Pode até ser legal, entretanto, moralmente é questionável e no serviço público a questão moral, muitas vezes, deve prevalecer até mesmo sobre a questão legal.
A CPI do Sertanejo, claro, renderá momentos de fama aos nobres parlamentares, muitos deles ‘padrinhos’ políticos desses mesmos gestores que contrataram até hoje shows e outros eventos a fim de manter em evidência e secular política do pão e circo. E um novo picadeiro se forma…