Tecnologia disruptiva: a próxima onda para engajamento dos cidadãos e das democracias
Por Luiz Fernando Lucas
Duas semanas após o término da sexta edição da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP26, seu principal propósito – como salvar o nosso planeta do iminente colapso ambiental – ainda precisa ser muito discutido tanto pela sociedade, quanto pelas organizações.
O aquecimento global é inegável. As consequências das atividades humanas sobre o planeta são tão evidentes que colocaram a pauta no centro das atenções das lideranças globais. É possível observar um avanço na participação do setor privado no debate, mostrando que, mais do que um assunto de governos, o tema também é uma prioridade para líderes empresariais.
Contudo, as mesmas velhas práticas que trouxeram a humanidade até aqui seguem presentes e ativas. Em uma postura muito distante do indispensável conceito de integridade, líderes e representantes de nações seguem defendendo seus pontos de vista, interesses e pautas particulares em detrimento dos problemas que afligem a todos, sem distinção de bandeiras, culturas ou fronteiras.
Segundo a teoria das restrições, como demonstrada no clássico livro de administração “A Meta”, de Eliyahu Goldratt, um grupo caminha na velocidade do mais lento entre eles. No caso, as nações ou os líderes mais lentos em perceber a urgência das mudanças de atitudes, são aqueles que definem a velocidade de transformação e enfrentamento ao problema no planeta. E, considerando a gravidade da emergência global, esta está longe de ser a velocidade de reação mais adequada.
Conforme o site climateactiontracker.org, que analisa as ações e medidas tomadas pelos governos neste sentido, as diferenças entre o cenário otimista e pessimista são gritantes. No primeiro, o aumento na temperatura global é de 1,8 graus Celsius até o ano de 2100. No segundo, o número aumenta para 2,7 graus. Com todas as ações alvo estabelecidas para 2030, ainda muito divergentes, e a escassez de ações efetivamente tomadas até agora, é difícil esperar o melhor.
É necessário vislumbrar um futuro em que as ações para preservar o meio ambiente não sejam pautadas pelo denominador mínimo comum, mas pela definição clara do que é preciso ser feito, com a urgência necessária, possibilitando que cada nação e líder faça sua adesão na medida de sua consciência, inteligência e necessidade. Isso geraria uma corrida consciente de bons exemplos a serem seguidos, não deixando espaço para lamentações, dedos apontados ou discussões sobre quem está levando vantagem.
É necessário fazer o certo por consciência, sem se pautar pelo que o outro está fazendo ou deixando de fazer. Esse é o único jeito de dar certo. A busca por ser a mudança que queremos ver no mundo, como disse Gandhi — e mais do que isso, ser o ser humano que queremos ver no mundo –, precisa sair do papel e ser constante.
Para mudar o paradigma e ampliar a percepção de como resolver esse problema, Einsten disse: se tivesse uma hora para resolver um problema e sua vida dependesse dessa solução, passaria 55 minutos definindo a pergunta certa a se fazer. É preciso mudar a pergunta para mudar a forma de se resolver a questão. “Não podemos resolver um problema com o mesmo estado mental que o criou”, disse Einstein.
Assim, se faz presente o anseio por um momento em que a COP ou qualquer outro movimento consiga avançar na solução do problema em curto prazo. Para isso, é fundamental contar com a participação dos indivíduos na deliberação, algo que só será possível quando o engajamento social de cidadania for conquistado em nível global, por meio de instrumentos de tecnologia disruptivas para exercício da cidadania. Essa será a próxima onda de utilização de tecnologia: apps e inteligência artificial para empoderamento dos cidadãos e das democracias.
Aos líderes e governos cabe também o papel de conscientizar a sua população e de facilitar o engajamento e participação. Pode parecer utópico, e talvez seja mesmo, mas como disse Victor Hugo, “utopia hoje, carne e osso amanhã”. É através da conscientização do ser humano, do indivíduo, que a mudança efetiva é almejada.
A decisão individual resulta no coletivo. Cada ato de consumo pauta a velocidade com que as empresas se movem, e não o oposto. O poder está com o indivíduo. Se alguma empresa ou indivíduo polui, desmata ou desrespeita a natureza é porque alguém está pagando por um serviço ou produto que justificou essa ação direta ou indiretamente.
De maneira prática, ninguém fará “investimentos” que não trarão retorno. É uma lei elementar de oferta e demanda. Então, se cada ato de consumo for pautado pela escolha consciente e o ESG acontecer por exigência do consumidor em escala global, de baixo para cima, a demanda dos cidadãos mobilizará governos e empresas a fazerem o certo, e não o contrário.
Por fim, mais do que esperar um resultado ou ação dos líderes e governos, é imprescindível que cada um seja a solução e o exemplo. Agindo com integridade e consciência certamente é possível mudar o rumo do clima e do planeta.
Empresário, escritor e palestrante. É autor do best-seller “A Era da Integridade – Homo Conscious – A Próxima Evolução” (Editora Gente) e especialista em integridade, ética, ESG e compliance.
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