Os sabotadores de sucesso que se manifestam como personagens principais do nosso cotidiano

Dra. Andrea Ladislau

Quando falamos em sabotagem, a primeira ideia que pode vir à mente é de “puxadas de tapete”. Mas nem sempre a sabotagem vem do outro. Talvez a sabotagem mais cruel seja aquela que se manifesta em nosso próprio inconsciente e, cercada por crenças limitantes, nos impede de crescer pessoalmente ou profissionalmente.

Os sabotadores de sucesso são padrões mentais e emocionais que levam à autossabotagem diariamente. Essa sabotagem é causada por imaturidade emocional, na qual o indivíduo não se permite ser feliz ou bem sucedido. Em linhas gerais, são grandes redes de pensamentos ou atitudes e comportamentos negativos e pessimistas que nos impedem a evolução pessoal, como a raiva, medo, ódio, vingança, culpa, ansiedade e vergonha.

Os nossos maiores sabotadores de sucesso são o medo, o desejo de permanecer na zona de conforto, a vaidade, a prepotência, a falta de organização e planejamento, a falta de objetivos e foco, a procrastinação, a desmotivação e, por fim, as nossas crenças limitadoras. Estas últimas podem acompanhar o indivíduo desde a infância e quando adultos, se não forem bem administradas, podem dificultar relacionamentos pessoais e até a compreensão de mundo do ser humano.

De forma inconsciente esses sabotadores acabam por transformar e padronizar nossa personalidade e o nosso comportamento. Por exemplo, a autossabotagem pode caracterizar e definir personalidades, como indivíduos: críticos, controladores, hiper vigilantes, hiper racionais, insistentes, prestativos em demasia, hiper realizadores, inquietos ou esquivos (aquele que nunca consegue dizer não).

Apesar da autossabotagem ser muito dolorosa e limitante, a boa notícia é que podemos paralisar estes sabotadores de sucesso emocionais a qualquer momento, desenvolvendo a maturidade, que não tem nada a ver com a idade cronológica, com a auto intimação, tomada de consciência, reflexão e decisão.

Sabotagem é um auto engano, uma projeção falsa de si e da realidade, por inconsciência, não se dar o tempo para trazer as coisas para a consciência, por medo de olhar para dentro e quebrar as amarras.

Ela acontece quando pulamos o processo, descumprindo o ciclo de perceber (observar o que se está sentindo no momento, identificar a emoção), compreender o motivo de estar sentindo isso e o momento de concluir (chegar a uma conclusão ou choque de realidade), o querer sair dessa situação (o que fazer para sair disso). Planejar a solução, conversar com os próprios botões, dialogar consigo (inteligência intrapessoal).

Para sair do ciclo da auto sabotagem é necessário instalar a competência, a sabedoria emocional ou a maturidade, através da auto consciência, do autoquestionamento, do auto controle (autoestima), da análise, da sublimação (fazer alguma atividade que goste e traga alegria) e da motivação (eliminar ou ajudar).

E o dizer da maturidade? Ela é a capacidade de reconhecer os pontos fortes e coloca-los em prática. Você pode citar dez pontos fortes da sua personalidade? Difícil, né? Isso porque as pessoas não foram educadas ou informadas sobre como refletir sobre suas qualidades e habilidades.

A forma como a pessoa se relaciona consigo própria facilita a forma como se relaciona com as outras pessoas, com a empatia afetiva, cognitiva, a preocupação empática e a aptidão social (maneira de fazer parte de grupos e a liderança em família e social). Porém, também inclui a capacidade de entrar em contato com os pontos fracos, admiti-los (se aceitar) e ir à luta, transformando-os em fortes, sempre se questionando e tomando a decisão de mudá-los, dando o melhor de si.

Outro ponto importante é a força positiva que o ato de desenvolver a capacidade de rir de si mesmo (a), não levar tudo tão à sério, mas com naturalidade, pode imputar no indivíduo. Os erros e falhas fazem parte do ser humano e não podem derrotá-lo. Devem servir como aprendizado e desafio.

O ciclo todo é composto de emoções negativas, que impactam o tempo todo nos processos decisórios, nas relações e nas ações ou reações. Ele começa com o medo, que é uma emoção primária. Quando nascemos, choramos por sentir medo.

O medo é a primeira emoção, é a que inicia o processo da autossabotagem. O medo deve ser medido conforme sua intensidade e capacidade de destruição, pois, se soubermos lidar com o medo ele pode ser benéfico a ponto de nos impulsionar a vencer nossos próprios limites.

O segundo elemento desse ciclo é a perda, porque todo medo é medo de perder, ou de não atingir o objetivo. Em seguida ele leva à culpa, que é o elemento mais importante. Existem vários tipos de culpa: a persecutória ou a depressiva, que causa mau-humor. A culpa depressiva busca a energia interna para conseguir lutar contra algo que nos perturba. É necessário tratar essa culpa, limpá-la para não se tornar refém do tabu.

Se a pessoa perdeu algo ou alguém e não se perdoar então gera mágoa ou ressentimento, o que pode causar uma doença. O ideal, no fim das contas, é a pessoa mergulhar em si mesma, repensar o que tem que se fazer, para que assim possa se reinventar e sair renovada e mais madura. Caso não se consiga essa conscientização, então a culpa gera a raiva.

O tamanho da raiva é o mesmo do medo, da perda e da culpa. O ser humano precisa projetar essa raiva. Quando o medo é menor, é possível projetar essa raiva em si mesmo (se criticando). Mas quando a raiva é maior ocorre de ser projetada em outra pessoa.

Ao controlar melhor seus sabotadores, muitos benefícios serão gerados para a mente e para o corpo, como por exemplo: níveis menores de produção dos hormônios ligados ao estresse, pois com os sabotadores ativados, ao invés de produzir endorfinas no metabolismo, se produz adrenalina, causando uma doença degenerativa, como punição (inconsciente).

Além disso, tem-se um sistema imunológico mais eficiente, reduzindo as chances de contrair doenças. Outro benefício é a redução de pressão arterial, do aparecimento de dores crônicas, uma melhor higienização do sono e também, maiores chances de controle de possíveis alterações do distúrbio alimentar. Pois, cada tipo de emoção se dirige a um órgão do corpo, por isso temos que tomar consciência delas. E se não tratadas elas, se transformam em doenças somatizadas no organismo.

Enfim, sabotar a si mesmo é não reconhecer sua existência e não compreender o que lhe faz sofrer ou lhe impede de alcançar seus objetivos e, consequentemente, o sucesso. É preciso se conscientizar da necessidade de mudança de padrões mentais e comportamentais. Afinal, alguns sentimentos e emoções quando surgem, se não controlados, podem ativar outras emoções negativas, drenando energia, limitando forças e gerando fantasmas desnecessários.

Visto que, o autoconhecimento e a auto empatia são grandes aliados para derrotar os sabotadores do sucesso pessoal e emocional que, naturalmente podem surgir para minar o protagonismo do ser humano.

Andrea Ladislau é graduada em Letras e Administração de Empresas, pós-graduada em Administração Hospitalar e Psicanálise e doutora em Psicanálise Contemporânea. Possui especialização em Psicopedagogia e Inclusão Digital. É palestrante, membro da Academia Fluminense de Letras e escreve para diversos veículos.

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