Os desafios de uma liderança feminina no agro
Dayana Caroba*
O agronegócio cresce a cada ano no Brasil e com ele muitos obstáculos precisam ser ultrapassados. Como não se lembrar do papel feminino em todo esse contexto? Traçando um paralelo em que essa presença também está aumentando cada vez mais. No geral, somos representadas por administradoras, gestoras, coordenadoras, engenheiras agrônomas, técnicas de campo, gerente de fazenda, pecuaristas, operadoras de máquinas e principalmente produtoras.
Prova disso é que segundo o Boletim da Agricultura Familiar, divulgado pela Companhia Nacional de Desenvolvimento (Conab), um milhão de mulheres administram propriedades rurais no Brasil, em cerca de 30 milhões de hectares. Porém, essa área corresponde a apenas 8,5% do total ocupada pelos estabelecimentos rurais no País.
E não é só no campo que ainda encontramos dificuldades para liderar, com muitos avanços, como aponta a pesquisa realizada em 2022 pela Grant Thornton, de que a mulher ocupa somente 38% dos cargos de liderança no Brasil. Trabalho com vendas desde os meus 15 anos, ou seja, a área comercial. O gosto pelas negociações está no meu DNA. Sempre em busca das melhores soluções para os clientes e com satisfação em finalizar a venda. Atuando no Grupo Nortène e no agronegócio desde 2010, para mim foi amor à primeira vista, de lá para cá, são 13 anos. Este é um segmento que abre muitas oportunidades, além, claro, dos desafios, mas foi tudo isso que me transformou na profissional que sou hoje.
Um dos pontos que norteia o sucesso de ser líder é a busca constante por “excelência”, nos tirando da zona de conforto. Comecei minha carreira no Grupo como consultora de vendas, depois me tornei analista comercial, coordenadora e agora como gestora comercial, responsável pelas contas especiais Centro Oeste e Sudeste, tenho uma equipe de 10 pessoas.
Nessa jornada já passei por inúmeras situações adversas. Pela pouca idade, por exemplo, 26 anos, com a qual alcancei a gerência, surgem comentários negativos, como “seu gerente vai participar também da reunião?”. Sempre com foco, após os primeiros minutos de conversa isso pode ser quebrado, mostrando sermos capazes.
Em outros momentos nos deparamos com a vida pessoal interferindo no profissional. A maternidade, por exemplo, é um desses casos, é uma missão para a mulher conciliar este momento tão sublime com o trabalho. Ainda mais porque há uma forte tendência à auto cobrança, ainda sabendo que está em busca do melhor para os nossos, bate aquela insegurança de estar ausente. São fases e processos e nesse ponto o papel da empresa que se atua é extremamente relevante como sustentação de toda a situação.
O Grupo Nortène é exemplo hoje em valorização da capacidade intelectual e de atuação, não importando a qual gênero pertence. Está fora daquele índice de 38% de liderança feminina, já que esses cargos representam 70% nas empresas do Grupo. Destaco que este é um segmento com fama de “masculino”, principalmente quando falamos de 10, 15 anos atrás. Mas é desde sempre que aqui se investe nisso, e proporcionando apoio para nossa presença no campo. Esta é uma iniciativa que precisa ser replicada para que possamos ganhar ainda mais oportunidades no setor.
Hoje tenho sorte de estar em uma empresa que valoriza e reconhece suas colaboradoras, mas sabemos que esta é uma realidade ainda muito distante, principalmente no campo. Nessa minha trajetória passei por momentos de dificuldade e também de muitas conquistas, as quais me proporcionaram um enorme aprendizado.
Há inúmeras oportunidades no agro e tenho certeza que as mulheres serão responsáveis nos próximos anos em conduzir essa importante locomotiva que é o setor. Por isso, temos que estar preparadas aos desafios que estão por vir. Meu conselho às mulheres é buscar sempre qualificação, pois força, resiliência e determinação já estão em nosso DNA, e temos total condições de ocupar qualquer cago no setor, desde que estejamos prontas.
*Administradora e Gerente Comercial no Grupo Nortène