Óleo e gás: uma indústria mais resiliente e preparada para 2022

Por Anderson Dutra

Passados quase dois anos do início da pandemia da covid-19 que gerou uma retração econômica mundial, a indústria de óleo e gás segue no rumo de retomada, com uma expectativa de um 2022 com perspectivas positivas e desafiadoras. Questões geopolíticas e regulatórias significativas que afetaram a produção mundial de petróleo em 2021 tendem a não se repetirem. Por outro lado, teremos um ano de eleição que, indiretamente, impacta a estratégia do setor, principalmente, por conta da preocupação do investidor sobre o plano de desinvestimento de ativos públicos e dos acordos envolvendo ativos da Petrobras. Acreditamos manter o patamar de um dos maiores produtores de petróleo do mundo.

Outras questões já iniciadas, nos últimos anos, ganharão destaque no mercado. Uma delas será uma movimentação na direção da redução de emissões poluentes, com uma narrativa mais alinhada aos possíveis impactos sociais, principalmente, em relação aos empregos e aos impactos da indústria na arrecadação do governo por meio de royalties e participação especiais direcionadas à educação e à saúde.

Uma outra vertente que 2022 trará com mais ênfase é o debate mais forte sobre o gás como base para sustentação da matriz frente à transição energética. Muitos acordos foram feitos para viabilização do escoamento do gás do pré-sal. Isso reduzirá a demanda de importação e trará à tona a necessidade de termos o gás como uma fonte que oferecerá “segurança energética”. Apesar de fóssil, é bem menos poluente que o petróleo e mitigará o risco de intermitência das fontes renováveis.

As tecnologias digitais estarão cada vez mais favoráveis ao aumento da eficiência operacional com uma maior automação dos processos e melhoria operacional. O uso de ferramentas com análise de dados, inteligência artificial, gêmeo digital ganhará força no mercado e tornará as empresas mais competitivas frente aos concorrentes.

O próximo ano também deve reservar espaço para novos modelos de negócio e estruturas mais colaborativas de contratos para os já existentes. Esse movimento deve aumentar a busca por consolidação de parcerias entre as organizações, principalmente, num modelo transversal que envolve empresas de vários setores. Um bom exemplo é o contrato recente de logística integrada offshore já em vigor desde abril de 2021. Além disso, há uma expectativa no impacto das recentes vendas das refinarias e, na consequente, transformação do setor de distribuição, favorecendo o aumento da competitividade e a redução do preço do combustível na bomba.

Vale ressaltar que, sendo 2022 um ano de eleições, há a expectativa da redução dos movimentos recentes de abertura de capital, movimento natural no Brasil, e de uma desacelerada no processo de desinvestimento da Petrobras, como já mencionado. Existe receio no mercado de o ativo desvalorizar com as campanhas dado que alguns candidatos já estão se posicionando contra a venda dos ativos e a favor do controle de preços. Trata-se de um movimento que, geralmente, acontece em períodos de eleição e que ficará mais evidente no setor de óleo e gás.

De um lado, a pandemia trouxe mudanças importantes que afetaram a continuidade de muitos negócios e vieram para ficar, provocando rupturas em cadeias e criando um contexto mais competitivo. Do outro, o Brasil tem um lugar de destaque no setor petroleiro mundial como o sétimo maior produtor de petróleo no mundo. Detentor de uma capacidade instalada de indústria robusta, com bons campos de petróleo, bom mix de matriz energética e elétrica e boa capacidade de refino. E vamos em frente porque a busca pelo diferencial competitivo continua e nosso planejamento de transição energética não pode parar.

Anderson Dutra é sócio-líder do setor de Energia e Recursos Naturais da KPMG.

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