O Brasil e a alternativa da geração de energia eólica em alto-mar
Dilceu Sperafico
O Brasil está ganhando nova e importante fonte alternativa e renovável para a geração de energia elétrica limpa, sem sequer ocupar espaços do território nacional. Trata-se da instalação de turbinas em torres implantadas em alto-mar, aproveitando o vento que sopra no oceano para ampliar a oferta a reduzir o custo da geração de energia no País.
Conforme especialistas, o País poderá implantar diversas novas usinas ao longo da costa marítima, com quase oito mil quilômetros de extensão. A possibilidade foi aberta com assinatura de decreto pelo presidente Jair Bolsonaro, permitindo colocar também no oceano turbinas de geração de energia eólica, cujos parques do País até agora estão restritos às áreas de terra firme, ocupando espaços que poderiam ser utilizados, inclusive, para a produção de alimentos.
O decreto define regras para execução de projetos eólicos em alto-mar, chamados de “offshore” e conforme o Ministério de Minas e Energia, representa importante avanço para o desenvolvimento da fonte alternativa no País, de forma “compatível com as transformações pelas quais o setor elétrico nacional vem passando nos últimos anos, especialmente em função da evolução da matriz elétrica”.
Esses avanços já haviam sido antecipados no Plano Nacional de Energia 2050, elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), estatal responsável pelo planejamento do setor. O documento inclui previsão de capacidade instalada de geração de energia elétrica por fonte eólica offshore de até 16 gigawatts (GW), antes de 2050, caso investimentos na fonte alternativa sejam viabilizados economicamente.
Conforme o Ministério de Minas e Energia, “o Brasil possui características favoráveis para instalação e operação de empreendimentos para geração de energia elétrica offshore”. Prova disso são a extensa costa, de 7.367 quilômetros, vasto espaço marítimo de 3,5 milhões km², extensa plataforma continental com águas rasas ao longo do litoral e a incidência dos ventos alísios, especialmente na Região Nordeste, de intensidade e direção constantes.
Estudo realizado pela EPE sobre o potencial eólico offshore brasileiro e publicado ainda em 2020, constatou existência de muitas áreas em que a velocidade dos ventos é superior a sete metros por segundo, considerada atrativa para este tipo de geração de energia. Além disso, as análises “não encontraram nenhuma restrição nas regiões exploráveis, como áreas de proteção ambiental, rotas comerciais, rotas migratórias de aves, áreas de exploração de petróleo ou outras atividades conflitantes”.
Os resultados do levantamento indicam que a 100 metros de altura e em locais com profundidade de até 50 metros, o potencial de geração de energia eólica no oceano do Brasil seria de 697 GW, o equivalente à produção de quase 50 unidades da Usina Hidrelétrica de Itaipu, no Rio Paraná, no Oeste do Estado, maior geradora energia do País, com capacidade e contribuição para o abastecimento que vão além do território nacional, beneficiando também o Paraguai.
Conforme a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), já está analisando projetos eólicos offshore com capacidade conjunta superior a 40 GW, o que demonstra o grande interesse de investidores privados, atendendo a demanda futura. A título de comparação, vale lembrar que a capacidade máxima da Usina Hidrelétrica de Itaipu, é de 14 GW.
O autor é ex-deputado federal pelo Paraná e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Estado
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