De quem é a responsabilidade por uma cultura de paz? 

Irmão Rogério Renato Mateucci*

Temos constatado, infelizmente, uma onda de violência nas escolas brasileiras. Em 2022 e 2023, cinco ataques fatais foram registrados em instituições de ensino do país, nem sempre perpetrados por alunos ou ex-alunos. Desde 2011, mais de 50 pessoas perderam a vida em situações do gênero no Brasil. 

Trata-se de um cenário preocupante, que deixa educadores, estudantes e familiares aflitos. Mas não é apenas nas instituições de ensino que podemos encontrar a resposta a esse problema, que envolve a construção e o estímulo a uma cultura de paz. 

Lembremos que em 2021, em sua tradicional mensagem de início de ano, o Papa Francisco afirmou que o cuidado é o caminho para a paz. Segundo o Pontífice, ainda que a educação para o cuidado nasça na família, é necessário que haja parceiros nessa trajetória. Escola e universidade têm um papel fundamental nessa construção coletiva. A paz, afinal, é um compromisso com o outro que deve ser firmado não somente durante fases críticas. 

Devemos, ademais, reforçar que a paz não é um fato. É condição; é um desenvolvimento nosso, de gente, de civilização. E a construção de uma cultura não ocorre do dia para a noite, mas a partir de atitudes cotidianas, pequenas e constantes. 

É comum acreditar que o papel de educar venha da figura do professor, dentro da sala de aula. Todos, entretanto, têm o papel de educar para a paz. Seja no trânsito, na comunidade, no grupo de amigos… Todos somos educadores, pois se parte do princípio de que todo mundo tem algo de bom para ensinar. É o cidadão que possui esse papel, não enquanto indivíduo, mas como agente social. 

E as universidades são exemplos de ambiente muito rico para a construção da cultura de paz, pois elas possibilitam a convivência com o diferente. Precisamos acolher o diferente não como algo diverso de nós, mas que nos completa. É necessário se encontrar no outro em toda a sua dignidade e humanidade, não em estigmas. 

Há metodologias pedagógicas que nos ajudam nesse processo, como a comunicação não violenta e a mediação de conflitos, que podem – e devem – ser estendidas para outras áreas do saber. Isso porque uma cultura humanizadora acolhe o erro ao invés de rechaçá-lo. Promover nossa humanidade não coloca nossos tropeços de lado, mas os acolhe para que possamos avançar numa transformação rumo à melhoria. 

Na Pedagogia, dizemos que o erro faz parte da aprendizagem. Em nossa humanidade é a mesma coisa. Nosso caminhar é cheio de erros – por mais que a intenção seja a de acertar – e uma cultura de paz acolhe isso, sabendo que somos seres passíveis de mudança, transformação, evolução. A paz é uma escolha diária e de todos.

* Irmão Rogério Renato Mateucci é pedagogo de formação e doutor em Administração, Liderança e Políticas de Educação pela Fordham University, de Nova York. É reitor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).  

...
Você pode gostar também
Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.