A questão ambiental e o desperdício de água potável no País
Dilceu Sperafico*
Estão equivocados e sendo muito injustos os ativistas e ambientalistas radicais que acusam o agronegócio como principal responsável pela degradação e poluição dos recursos naturais e agravamento do aquecimento global do planeta. Felizmente, na realidade, é a agropecuária, brasileira e mundial, que garante a sobrevivência da espécie humana, tanto na questão alimentar como na saúde física e qualidade de vida.
Por exercer atividade econômica a céu aberto ou exposta às adversidades e fenômenos climáticos, o agricultor é o maior interessado na preservação ambiental, pois será sempre o primeiro e o que mais perderá em seu patrimônio econômico e social, na eventualidade de qualquer desastre climático, como secas ou estiagens prolongadas, temporais de granizo, vendavais e enchentes, entre outros.
É óbvio que tais tragédias também repercutem na renda e no acesso à alimentação da população urbana, mas isso só acontece mais tarde e na maioria dos casos já minimizadas pelas novas colheitas de alimentos, especialmente hortifrutigranjeiros, seguidos de grãos e proteínas animais, cuja abundância sempre traz benefícios a agroindústrias, transportadores, distribuidores, comerciantes e consumidores.
Já os problemas ambientais das áreas urbanas, mesmo que ignorados ou minimizados por autoridades, ambientalistas e cidadãos, resultam em problemas maiores e mais contundentes para a humanidade, como acontece com o lixo plástico jogado no solo, nascentes, rios, lagos e oceanos, em volumes assustadores, além de resíduos orgânicos e minerais, que igualmente formam montanhas de lixões, sem falar na emissão de gazes poluentes pelo uso de combustíveis fósseis por caminhões, caminhonetes, automóveis e motocicletas.
Os problemas ambientais urbanos, infelizmente, vão mais longe. Para quem não sabe, somente o Brasil desperdiça quase 40% da água tratada pelas empresas de abastecimento e destinada ao fornecimento às moradias, empresas e instituições. Isso demonstra que quase metade da água potável captada nos mananciais, não chega até as casas das pessoas, segundo estudo do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), realizado em 2021.
Conforme o levantamento, as perdas em 2020, representavam 40,1% de tudo o que era captado. Em 2021, ficou em 39,3% e em 2014, não chegava a 37%. Para reverter essa situação, a meta para 2034 é reduzir as perdas para 25%, com economia de seis bilhões de reais por ano na coleta, tratamento e distribuição de água potável.
Para se ter melhor ideia da extensão desses desperdícios, em 2021 as empresas públicas e privadas de abastecimento de água de todo o País não chegaram a investir oito bilhões de reais. As maiores perdas nos últimos anos ocorreram nas Regiões Norte, com mais da metade ou 51% do total captado, enquanto no Nordeste, ficaram em 46%. Mesmo no Sudeste, que tem a maior cobertura de abastecimento, o desperdício esteve em 38%.
Conforme especialistas, o volume de água jogada fora em todo o País seria suficiente para atender 100% da população nacional, quando a cobertura do fornecimento domiciliar de água encanada é de cerca de 84%. Se o problema do desperdício de água for acrescido da grave situação dos lixões e da poluição do solo, da água e do ar, como acontece na maioria das cidades brasileiras, a tragédia é ainda mais grave e preocupante e precisa da atenção de autoridades e cidadãos.
*O autor é deputado federal eleito pelo Paraná e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Estado
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