A polarização, essa nódoa da política
Numa comunidade, como a brasileira, que nas últimas décadas só viu aumentar as grosserias entre os políticos – que, em vez de adversários ou oponentes, comportam-se como inimigos – têm causado especulação as boas relações como as do presidente Lula com o governador de São Paulo, Tarcísio Freitas. Nos últimos dias, quando o governador instalou-se no Litoral Norte e o presidente interrompeu seu descanso na Bahia e também compareceu à área sinistrada pela chuva recorde, afirmou-se a existência de uma parceria entre ambos.
Melhor seria não colocar em relevo as diferenças partidárias ou ideológicas e ver naturalmente o encontro dos titulares dos governos federal e estadual no cumprimento da obrigação administrativa e humanitária de socorrer o povo na hora da tragédia. É preciso compreender (e aceitar) que as diferenças político-partidárias só fazem sentido durante a campanha eleitoral. Eleitos e empossados, os governantes têm o dever de atuar pelo bem-estar de toda a população, não apenas dos que neles votaram ou de seus partidários.
Embora seus titulares – presidente da República, governadores de Estado e prefeitos – sejam legalmente obrigados a ser filiados a um partido político para poderem concorrer às eleições, o governo de cada um deles não é atrelado partidariamente. Para cumprir sua obrigação, Lula tem de se relacionar bem com todos os 27 governadores e estes com os prefeitos de suas unidades federativas. Até porque as três esferas de governo têm atividades a desenvolver conjuntamente em atendimento à população. É impossível trabalhar juntos, quando em vez de parceiros, os governantes são inimigos. São coisas do regime federativo, estabelecido pela Constituição, que devem ser compreendidas e respeitadas.
A inconveniente polarização em que vivemos, é prejudicial. Se, por um lado, leva simpatizantes a lutar por suas idéias, quando passa dos limites, estes fazem besteiras como a ação dos blacblocs (que depredaram, feriram e até mataram pessoas anos atrás), as manifestações violentas, a desobediência civil (que é crime) e até episódios bestiais, como a invasão dos palácios da Presidência da República, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal, ocorrida na tarde de 8 de janeiro. Resultado desse último ato: mais de mil presos e processados, coisa que não precisava estar acontecendo.
As lideranças políticas e partidárias têm o dever de, ao mesmo tempo em que colocam suas idéias na cabeça da militância, acalmá-la para não extrapolar. Lembrar a todos que uma coisa é a disputa na hora de conquistar o voto e outra é a vida do País e das instituições em tempos não eleitorais. Quando o clima típico de disputa ultrapassa o dia da eleição e (o pior) da posse dos eleitos, aquele que assume o poder não tem a necessária tranquilidade para cumprir suas obrigações e, quando o fazem – como no caso de Lula e Tarcisio – acabam virando notícia como se isso fosse algo extraordinário. Mas não é.
Desde o dia que terminaram as apurações eleitorais, temos clamado pela pacificação. Mas, infelizmente, muitos dos “players” não param com as desavenças e mantém a população em sobressalto. Acalmem-se todos, atuem com moderação e, pelo menos, aguardem a chegada do próximo período eleitoral para voltarem ao clima de disputa e campanha. Ninguém suporta viver permanentemente em regime de fim de campeonato esportivo. Ponham a mão na consciência, por favor!!!
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
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