A mulher não existe por lá

Você sabia da recente decisão que mulheres no Afeganistão não podem mais frequentar universidades? Pois é. Foram barradas na hora de entrar. Há outro dado interessante, que, até hoje, foram concedidos 61 prêmios Nobel para mulheres. Física, Paz, Literatura, Medicina, a lista é longa. Foi em 1901 o primeiro prêmio. E em 2022 um país do centro da Ásia proíbe mulheres nas universidades. Além de usarem a “tradicional” burca, foram recepcionadas por homens armados em frente dos locais de estudo. Ali não entram mais. Nas universidades, locais de troca de conhecimentos, de formação da cidadania, de entendimento do mundo e também do microuniverso. Proibidas. Não poderão ter o desafio de aprender uma profissão universitária. Não terão as descobertas inerentes ao contato acadêmico, não adquirirão o conhecimento necessário para lutar, para mudar, para terem o direito. O direito. A vontade.

Esta decisão viola diversos artigos de convenções, tratados e declarações de Direitos Humanos existentes no mundo. Pouco importa. O país não ratificou praticamente nenhum deles e segue seus “próprios” Direitos Humanos, que parecem ser inspirados desde antes do primeiro Nobel para uma mulher. Esta decisão corrobora com as prerrogativas de como o Talibã vê o feminino na sociedade. Há restrições não veladas sobre o direito de as mulheres dirigirem. Quando o uso da universidade era permitido, já havia segregação de sexo nas aulas, com horários diferentes para homens e mulheres. Viajar sozinha, já não podem em trajetos acima de 72 quilômetros. É necessária uma companhia masculina para a viagem. Meios de comunicação foram fechados e muitas jornalistas privadas do trabalho.

Os assuntos são muitos e não cabem neste artigo. A mulher não existe por lá. Existe para procriar, ser mãe de família, limpar a casa, organizar a vida do marido. Para isso não precisa de uma universidade, de um prêmio Nobel, de sonhos de mudar a vida. De sonhos. De vida.

Diogo Cavazotti, mestre em Direitos Humanos e Direito Internacional Humanitário e doutorando em Educação.

...
Você pode gostar também
Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.