A importância das práticas ESG para o consumidor do futuro

Por Maurício Godinho e Kin Honda

Após décadas de discussões sobre ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança), os últimos dois anos se mostraram decisivos para o avanço do tema em praticamente toda as indústrias, principalmente, na de alimentos e bebidas. Consumidores de todo o mundo passaram a questionar de maneira mais consistente e decisiva sobre a origem, práticas de sustentabilidade e segurança dos produtos que pretendem consumir e se intensificaram desde o início da pandemia.

Por sua vez, o mercado financeiro e os investidores passaram a priorizar marcas e organizações com agendas ESG estruturadas à curto, médio e longo prazos. Mas a inclusão desses temas nas organizações de alimentos e bebidas não parece ser um tema trivial e simples. Além das lacunas de regulamentação claras a respeito do assunto no Brasil, essas empresas convivem com dilemas claros entre garantir a rentabilidade em um mercado com pressões inflacionárias – além dos custos de adaptação de matérias-primas, das embalagens, do processo produtivo – e garantir um menor impacto nas emissões de carbono, uso de água, energia renovável e as questões de impacto social e de governança.

Dados revelam que o Brasil possui ainda um vasto campo de oportunidades para o desenvolvimento da agenda ESG. Por conta das pressões externas de órgãos internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU) Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o Banco Mundial, além de compromissos e pactos globais, reforçados pelas últimas reuniões das cúpulas do clima, a trajetória ESG precisa ser claramente determinada pela organização, inserindo na estratégia e alinhada com indicadores para as tomadas de decisões, não apenas focado em questões financeiras e regulatórias.

Além disso, para o setor de alimentos e bebidas, existem diversas oportunidades relacionadas ao tema de água (matéria prima essencial para a sociedade e para o setor), a infraestrutura de operações, a economia circular (através de embalagens com materiais alternativos e inovações aplicadas), e a logística de distribuição que hoje, em grande parte, é viabilizada por modais rodoviários.

No que diz respeito à infraestrutura das operações, o ideal é que as empresas busquem tecnologias com melhor eficiência no monitoramento de água, vapor, calor e menor consumo de energia, utilizem combustíveis alternativos, implantem sistemas de captação de água da chuva, façam o reaproveitamento na produção e possuam instalações que adotem princípios de eficiência desde a concepção até a operação efetiva. Já logística, um grande desafio é transformar uma decisão baseada em questões financeiras com indicadores de carbono, buscando modais alternativos e veículos que utilizem combustíveis renováveis.

Outro grande desafio está relacionado à economia circular das embalagens, não apenas na fase de produção, como na distribuição e consumo final, através da coleta de embalagens com programas de conscientização, pontos de coleta, acordos com cooperativas e reaproveitamento deste material pelos processos de reciclagem.

Todos os desafios acima devem estar alinhados com uma estratégia ESG bem definida, executada por fases e com uma governança adequada, através do engajamento e compromisso da alta gestão da empresa, o acompanhamento tempestivo das operações, remunerações variáveis dos executivos atrelados à performance ESG e, como consequência, o reporte e prestação de contas para os acionistas, investidores, órgãos reguladores, consumidores e demais público.

Outro ponto essencial e princípio básico de ESG é o engajamento da rede de fornecedores da empresa na estratégia e compromissos, adotando padrões mínimos na homologação e contratação, buscando a melhoria contínua de parceiros atuais e futuros.

Uma conclusão parece ser clara atualmente. Empresas capazes de administrar a complexidade do tema ESG e assumir desafios de estruturação e implantação serão, muito provavelmente, as mais preparadas para os resultados advindos deles, por demonstrarem pioneirismo ao mercado através de ações. Isso fará com que conquiste a atenção de investidores e acionistas, do varejo e sem sombra de dúvidas, a preferência do consumidor do futuro.

Maurício Godinho é sócio líder do setor de alimentos e bebidas da KPMG e Kin Honda é diretor de ESG da KPMG.

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