A corrida em busca dos eleitores ausentes
O resultado das últimas eleições revela um Brasil dividido, onde nenhuma das partes pode se dar ao direito de errar, pois isso lhe pode ser fatal. Na disputa presidencial de segundo turno, a vantagem de Lula sobre Bolsonaro foi de apenas 1,8%, o que, pela metodologia das pesquisas eleitorais – margem de erro de 2% acima ou abaixo – representa empate técnico. Vale lembrar que, no quadro de polarização em que vivemos, é improvável que qualquer dos lados consiga arrebatar preferência e votos no terreno adversário. Quem é Lula não muda e nem quem é Bolsonaro. A única chance de mudança – se no intervalo não surgir uma sedutora candidatura de terceira via, já tentada e não conseguida a no passado – é investir na atração do eleitorado que não foi votar e nos que, indo às urnas, cravaram branco ou nulo. Trinta e dois milhões de brasileiros aptos a votar (20,59%) não compareceram, 3,9 milhões de eleitores (3,16%) anularam o voto e 1,7 milhão (1,43%) votaram em branco, revelam os boletins de apuração. Devem ser eles, em princípio e por racionalidade, os grandes alvos das próximas campanhas; quem os convencer a votar, poderá ganhar a eleição.
Desde a posse, em 1º de janeiro, Lula vem atacando Bolsonaro diariamente. Todos os seus pronunciamentos têm um trecho reservado à tentativa de desconstrução do adversário. Bolsonaro, que está nos Estados Unidos, promete voltar no próximo mês, para encarnar a direita brasileira e coordenar a oposição ao atual governo. Espera-se que, em vez do embate de risco (que, em vez de prejudicar, pode despertar a solidariedade popular e até beneficiar o atacado) ambos optem por tentar a conquista dos faltosos, nulos e brancos de 2022, Compreendam que o embate frontal e permanente cansa e afasta o eleitor.
Ainda é cedo para prognósticos sobre 2026. Impossível saber se Lula e Bolsonaro lá estarão em condições de concorrer ou se haverá outra variável desequilibrando a balança. Não é difícil ocorrer, de ao final da briga, os dois atuais líderes restarem, de alguma forma, prejudicados. O bom para o País seria o surgimento de novas e autênticas lideranças capazes de romper com o inconveniente regime da reeleição para o Executivo, ardilosamente criado nos anos 90 pelos políticos intencionados em se eternizar no poder. Com sangue novo e alternância, a política e a governança certamente estariam em melhores condições. Afinal, política não é profissão e deveria ser encarada pelos praticantes exclusivamente como a prestação de serviços do cidadão à sua comunidade.
Enquanto o quadro não muda, só podemos pedir: Lula, por favor, governe! Bolsonaro, faça uma oposição leal e propositiva. Novas lideranças, apareçam. Pensem mais no Brasil e nos brasileiros e menos em si próprios. Nessa briga tola e desqualificada do presidente e do ex-presidente, os prejudicados são o País e o povo. Ambos têm suas claques que chegam às raias do irracional. É por isso que chegou a hora de quem estiver fora da contenda, se puder, fazer algo para que a racionalidade volte a reinar na nossa política….
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
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